Lí no blog do Azenha e reproduzo iluminismo do jornalista Jeferson Melo.
“E aí vocês vão compreender porque a figura do chamado formador de opinião pública, que antes decidia as coisas nesse país, já não decide mais”. A aguda simplicidade da frase do presidente Lula, dirigida aos jornalistas que cobriam um evento em São Paulo, guarda uma verdade complexa e diz respeito à série de mudanças que atingem e redefinem, numa velocidade espantosa, o modo como se opera a comunicação social nesse início de século.
A constatação que os ditos formadores de opinião perderam importância mexeu com os brios da “mídia” brasileira, principalmente por expor um fato amplamente comprovado. Os “formadores de opinião” alcançaram alguma importância no início da década de 90, mas hoje, quase 20 anos depois, se tornaram irrelevantes. O próprio presidente Lula e sua popularidade estratosférica são o melhor exemplo da verdade contida no enunciado.
Assim como estabilizou sua aprovação popular na casa dos 80%, o presidente alcançou a unanimidade entre os articulistas, editorialistas, colunistas, comentaristas, pauteiros e até entre editores e repórteres da chamada grande imprensa. Quase todos, diariamente, se dedicam a atacar, distorcer e criticar negativamente todos os atos e ações do governo. E quando isso não é possível, a solução recorrente é a omissão dos fatos. E, mesmo assim, não se altera a percepção dos brasileiros.
A estratégia das empresas de comunicação brasileiras é adotada no momento em que o acesso à internet se expande e se consolida no país. Nesse meio, um turbilhão de informações está disponível ao cidadão, que pode ter acesso à fonte primária da notícia, além de opiniões distintas e variadas sobre qualquer tema de interesse. Gratuitamente. Os jornais, ao contrário, editorializaram a notícia e eliminaram a diversidade de opinião. Nos veículos brasileiros, independente de quem assina, o conteúdo pertence à mesma matriz ideológica. Uma ladainha monótona, com conclusão previamente conhecida. Não comporta análises, nem reflexões. É dispensável.
A última pesquisa Ibope Nilesen On Line mostra que 64,8 milhões de brasileiros já acessam a internet. Concomitantemente, o país registra a maior mobilidade social de sua história, com mais de 30 milhões ingressando na classe média. Gente que passou a consumir bens e produtos, entre os quais, a informação. E não é informação de jornal, porque estes registram retrações históricas de vendas, chegam aos números de tiragens de jornal de bairro. Também não é a informação veiculada nos velhos telejornais, que perdem o monopólio da audiência.
A lenda em torno do poder dos formadores de opinião ganhou corpo na década de 90, quando ainda vigorava a chamada “teoria da pedra no lago”, que recorria à imagem para comprovar que uma opinião emitida por determinada pessoa ou veículo se difundia através de ondas concêntricas para atingir parcela significativa da população. Com os blogs, sites, portais, páginas de relacionamentos, grupos sociais pendurados na internet, a água do lago perdeu a serenidade.
Receptores se transformaram em emissores. O lago é apedrejado diuturnamente. É uma babel onde o editorial, artigo ou reportagem da última edição faz tanta onda quanto a postagem de alguns blogueiros. Com a força que a crítica da mídia ganhou na internet, opiniões ou notícias publicadas pelos veículos tradicionais alcançam alguma relevância quando são alvos da desconstrução por parte dos blogs dedicados ao tema. Esse processo, estimulado pela falta de compromisso com a verdade por parte de quem noticia, mina o maior patrimônio de um veículo de comunicação: a credibilidade.
A internet produziu outro fenômeno, que é a difusão da informação de maneira colaborativa. Determinado assunto é debatido por diversas pessoas, que oferecem detalhes, novidades, opiniões e abordagens distintas sobre a questão em pauta. Tece-se uma rede ou uma corrente de opinião, cujos elos são mais fortes e perenes que ondinhas no lago. São recorrentes os exemplos em que os navegantes interferiram no rumo dos veículos ou no curso da história.
Casos como a farsa em torno dos atentados de Madri, em 2004, cuja versão que atribuía a autoria ao ETA para favorecer a eleição de Jose Maria Asnar foi desmentida. E também a coleção de pseudo-fatos gerados pela Folha de São Paulo, que incluem a tentativa de amenizar a ditadura militar no Brasil, classificando-a como “ditabranda”, neologismo do ditador Pinochet; o spam com a ficha fajuta da ministra Dilma Rousseff; ou o mexerico sobre “agilizar” processos na Receita Federal. Todos provocaram correntes de protestos e também de chacotas tendo como alvo o próprio jornal.
Uma rápida observação na escalação do time dos formadores de opinião brasileiros endossa a observação do presidente. O grupo se reduz a figurinhas carentes de credibilidade e adestradas para repetir um discursinho ultrapassado. Alguém, além dos senadores do DEM ou do PSDB, leva a Veja e seus colunistas a sério? Qual a importância das “análises” de Miriam Leitão ou de Lúcia Hipolyto, inimigas da lógica e divorciadas da realidade. Arnaldo Jabor, macaqueando asneiras na tela da TV influencia algo além do discurso do Agripino Maia para um plenário vazio? Ou o formador de opinião é o Willian Bonner, interpretando uma expressão indignada após exibir mais uma reportagem com discurso do presidente Lula. Dora Kramer e Eliane Catanhede, quando muito, incomodam suas manicures com seus discursos.
Engana-se quem pensa que o presidente Lula jogou uma pá de cal no formador de opinião. Ao expor a irrelevância alcançada por essa turma, ele generosamente depositou flores em túmulos abandonados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário