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domingo, 31 de janeiro de 2010

Como "OPERAR" a Corrupção á partir do Poder Executivo

"A mídia exige do governo federal a transparência que não cobra de autoridades estaduais e locais." "Os blogs crescem no espaço que os jornais abdicaram de cobrir, quando interesses políticos e econômicos particulares deles, jornais, se colocam acima do interesse público."

A falta que fazem aqueles quatro repórteres

por Luiz Carlos Azenha

Fiquei sabendo que meu amigo Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S. Paulo, disse que os blogs jamais seriam capazes de substituir os jornais e, como argumento, destacou o fato de que a Folha deslocou quatro repórteres para cobrir o terremoto do Haiti contra nenhum dos blogs.

Justo, mas posso dizer que não li a Folha e talvez, através de blogs, tenha me informado mais e melhor sobre o Haiti do que se fosse assinante do jornal. Sim, porque recorri diretamente aos próprios haitianos. Que falam a língua, conhecem as pessoas e a cultura locais. Muito antes que o primeiro repórter estrangeiro chegasse a Jacmel, por exemplo, os estudantes de uma escola de cinema local já tinham subido vários vídeos no Vimeo mostrando o impacto do terremoto. Não vejo como os repórteres da Folha, que caíram de paraquedas no Haiti, poderiam fazer melhor cobertura que os próprios moradores de Jacmel. Além do que, não acredito que os blogs tenham o objetivo de substituir os jornais, muito embora isso eventualmente poderá acontecer se os jornais e os repórteres dos jornais se tornarem irrelevantes.

O que me leva ao ponto: acho que os quatro repórteres que a Folha mandou para o Haiti estão fazendo falta em São Paulo.
Mais exatamente, na cobertura das enchentes que tiram os paulistanos e paulistas do sério.

Nos últimos dias, a Folha e outros orgãos da mídia tem dançado em torno de um recorde irrelevante: se as chuvas deste janeiro em São Paulo serão ou não as maiores dos registros históricos. Minha pergunta é: e daí? Para quem é vítima das enchentes ou para quem dirige pelas marginais do Tietê e do Pinheiros isso é absolutamente irrelevante. A chuva "acumulada" nos recordes não caiu de uma só vez e, portanto, pode não haver relação entre a soma de toda chuva e os transbordamentos episódicos.

Trata-se de um factóide à altura das mensagens de José Serra no Twitter: serve à desinformação.

O que importa é saber o motivo pelo qual a obra central da estratégia contra as enchentes em São Paulo, o rebaixamento da calha do rio Tietê, não está dando conta de impedir os transbordamentos. É preciso ter em conta sempre o papel central que o rio Tietê tem nas enchentes da cidade: quase todos os rios que cortam São Paulo desaguam nele. Se não há vazão adequada no Tietê, o risco de transbordamento dos afluentes também aumenta.

É impossível dançar em torno dessa realidade: o gerenciamento das represas do Alto Tietê e a capacidade de vazão do próprio rio são essenciais não apenas para a temporada de chuvas de 2010, mas de 2011, 2012, 2013... independentemente de quem seja o governador de São Paulo.

Sabemos que o então governador Geraldo Alckmin concluiu uma obra bilionária cuja promessa central era acabar com as enchentes em São Paulo. Está até em um site tucano essa promessa. Ficou expressa em placas e faixas espalhadas pela região da marginal do Tietê.
No entanto, quatro anos depois da conclusão desta obra o rio Tietê já transbordou quatro vezes: uma durante o próprio governo de Alckmin e três recentemente, no governo Serra. Foram milhões em prejuízos para a cidade, tanto em danos diretos como em danos indiretos.

O que os paulistas e paulistanos gostariam de saber é: o Tietê vai encher outras vezes? Quanto precisa chover para que o Tietê transborde? A obra foi em vão? Ou houve falta de manutenção?
Pelo que apurou a repórter Conceição Lemes, deste blog, o rio Tietê ficou três anos sem limpeza (2006, 2007, até outubro de 2008). O plano do governo de fazer uma parceria público-privada para providenciar a limpeza teria fracassado. A limpeza foi retomada através de concorrência pública, em 2008, bem abaixo do que é recomendado por alguns técnicos.

Apesar da insistência da repórter, o órgão do governo que poderia fornecer os documentos comprovando que fez a limpeza, se de fato ela foi feita, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), se negou a responder.
O que nos leva a uma questão secundária, não menos importante: a falta de transparência do governo Serra quando se trata de temas politicamente embaraçosos. O próprio Defensor Público que zela pelos interesses de moradores da Zona Leste vítimas das inundações teve de recorrer à Justiça para obter documentos da Sabesp e de outros órgãos controlados pelo governo Serra.

A mídia exige do governo federal a transparência que não cobra de autoridades estaduais e locais.

Por fim, vamos à questão do gerenciamento das barragens do Alto Tietê, que diz respeito diretamente ao nível do rio quando ele atravessa a metrópole.
Mais uma vez, a repórter Conceição Lemes foi direto ao ponto, em entrevista com José Arraes, membro do Comitê da Bacia do Alto Tietê, do Subcomitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê e do conselho gestor da APA (Area de Proteção Ambiental) da várzea do Tietê. Ele denunciou que a Sabesp e o DAEE mantinham os reservatórios cheios antes mesmo do início do período das chuvas, o que os obrigou a "sangrar"  as represas no período de chuvas, agravando as enchentes:

Viomundo – Por que a Sabesp e o Daee mantiveram as barragens lotadas?
José Arraes – Eu desconfio de um destes esquemas. Primeiro: para não faltar água para a Região Metropolitana de São Paulo. Assim, pode ter havido determinação governamental para estarem na cota máxima. Segundo: a Sabesp e o Daee já estarem aumentando o volume das represas, visando aumentar a produção da Estação de Tratamento de Água Taiaçupeba de 10 metros cúbicos por segundo para 15 metros cúbicos por segundo (10m³/s para 15m³/s) . Terceira: a privatização do Sistema Produtor de Água do Alto Tietê – chamado SPAT. Hoje é um consórcio de empresas privadas que regula, administra, mantém e fornece as águas que estão represadas nessas barragens.

Viomundo – Por favor, explique melhor isso.
José Arraes – Existe um consórcio de empresas – entre elas, uma empreiteira conhecida na nossa região, a Queiroz Galvão –, que hoje gerencia as águas reservadas nas represas em uma parceria público-privada. Toda a água represada em todas as barragens do Sistema do Alto Tietê são gerenciadas por esse consórcio. Quanto mais cheias as represas, mais interessantes para o consórcio. Interesse comercial, nada mais do que isso.

Viomundo – Quer dizer que as águas das barragens do Alto Tietê estão privatizadas?
José Arraes – Sim. As empresas do consórcio fazem a conservação das barragens e a intermediação com a necessidade da Sabesp que a trata e remete para a população. Logo, para o consórcio de empresas, quanto mais cheias estiverem as barragens, mais água fornece para a Sabesp. Mais ganhos financeiros, portanto.

Viomundo – Qual das três hipóteses é a mais provável?
José Arraes – Talvez a combinação das três. Cabe ao Ministério Público investigar. O fato é que as barragens do Alto Tietê estão excessivamente cheias e as comportas estão sendo abertas, contribuindo com as inundações em toda a calha do rio até a região do Pantanal.

A íntegra está aqui

Depois da entrevista, foi um blog, o NaMaria News, que localizou o contrato: a Sabesp deve pagar até 1 bilhão de reais durante 15 anos para que o consórcio privado que controla os reservatórios faça obras, com a promessa de aumentar a capacidade de fornecimento de água tratada de 10 para 15 metros cúbicos por segundo.

O que levanta questões importantes para o futuro: o que vai prevalecer na gestão dos reservatórios, o interesse público ou o interesse privado?

A parceria público-privada foi apresentada pela Sabesp, no Diário Oficial, como uma forma de vencer a burocracia das licitações e acelerar as obras. Isso é bom ou ruim?
No mesmo DO, diz-se que a PPP paulista foi o primeiro passo de um modelo que poderia ser exportado pela própria Sabesp para outros estados brasileiros. Isso já aconteceu?

O estado de São Paulo paga para entregar represas que já existem a empresas privadas, que embolsam 1 bilhão de reais. Quanto elas devolverão em obras? Essas obras -- e a administração das represas por 15 anos -- valem esse bilhão?

O estado de São Paulo paga ainda ao consórcio privado pelas águas contidas nos reservatórios e entregues à Sabesp para tratamento na estação de Taiaçupeba. Quanto custa o metro cúbico da água vendida à Sabesp?


Qual a posição da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a respeito?

Se as PPPs de fato forem exportadas para outras regiões do país, entre o abastecimento de água para a população e a geração de energia elétrica, quem terá prioridade no uso das águas quando houver conflito de interesses?  Quem decidirá, os órgãos públicos locais, estaduais e federais ou as empresas privadas? A população será ouvida?

O controle das águas, uma questão essencial e politicamente explosiva, como se viu em Cochabamba, na Bolívia, é um tema muito importante para ser decidido nos bastidores, como aparentemente o foi em São Paulo.
É importante registrar que várias das perguntas que aparecem acima foram feitas por comentaristas deste blog que, ao contrário da Folha, incorpora a seu conteúdo, em tempo quase real, as indagações do público.
São todas questões pertinentes e interessantes que aqueles quatro repórteres que a Folha mandou para o Haiti poderiam fazer aqui no Brasil.

Poderiam fazer, como as fez a Conceição Lemes, do ponto-de-vista dos que ficam à mercê do poder público, especialmente dos que sofrem com as enchentes e de outros que, através do pagamento de impostos, são duplamente vítimas dos planos mirabolantes e fracassados para extinguir as inundações.
Não se trata, portanto, de uma questão de número de repórteres ou de recursos financeiros.

Os blogs crescem no espaço que os jornais abdicaram de cobrir, quando interesses políticos e econômicos particulares deles, jornais, se colocam acima do interesse público.

Fonte: Viomundo de Luiz Carlos Azenha - Título/Manchete: Essa é Minha Opinião

Sou Anti-PT, pronto e acabou!

Navegue livremente por sites de notícias do esquadrão do PIG e depois de algumas matérias, mesmo as que não sejam tão claramente tendenciosas, e observe o nível de comentários dos leitores anti-lulistas ou anti-petistas ou anti-sei lá o quê.
Não há necessidade de ser um comentário dos seguidores do Tio Rei nem do Nardi.
Pode ser de qualquer outro, desde que seja em veículos do PIG.

Normalmente a fala vem carregada de preconceito, de racismo, de facismo, de superioridade, de separatismo e de indignação. Muitas vezes chega ao ponto de você se perguntar se tem alguém que pensa mesmo daquela maneira. Imagine-se convivendo com um ser humano assim próximo de você, seja na faculdade, no condomínio ou no seu trabalho? Será que isso explica ataques xenófobos ou racistas justamente num país tão mesclado de povos e culturas como o nosso?

Como diria uma grande amiga psicóloga:
Existe tantos neuróticos aqui fora que se estivessem do lado de dentro de um manicômio, sem dúvidas não sairiam jamais...

Abaixo comentário num PIG que trazia uma charge sobre Serra e Kassab e as enchentes de São Paulo.
p.s. Juro que estranho muito esse PIG estar detonando a "dupla de gestores" (mesmo que de leve) nos últimos dias....

Comentário: (Rio do Sul - SC)
"A ordem para achincalhar e emporcalhar o governador José Serra, e em menor escala o prefeito Gilberto Kassab, partiu do comando maior da comunistralha petista, durante a semana que passou. Desmentidos em sua anterior tentativa de comparações entre o competentíssimo governo FHC e a sombra lulática mal enjambrada dele, pelos números apresentados até em foros internacionais como o Fórum Econômico Mundial de Davos, a canalha petralha passou a massificar suas caganças em cima das consequências dos 37 dias chuvosos que São Paulo já teve, só de meados de dezembro de 2009 para cá, registrando a maior marca histórica desde que se fazem medições. Na cabeça insana dos comandantes da esbórnia, haveria resultados eleitorais na exploração das tragédias meteorológicas. A Al Qaeda eletrônica dos tontos macaCUTes do blog foi instruída para agir conforme a determinação da cúpula, de modo que nem adianta contestar a esbórnia aqui no blog. Ela é paga apenas para repetir insanidades maiores. Vão danar-se..."


Pois é, se levar para uma consulta, sem dúvidas que não sai mesmo...

O Decadente Big Brother Brasil

Lí no Bodega Cultural do Carlinhos Medeiros.

Ponto de Vista

Vivemos outros tempos, com uma sociedade de consumo dirigida por manipuladores de massa. E isso é observado em quase todos os segmentos da vida social, aqui incluída naturalmente a grande indústria do mundo capitalista fabricando coquetéis de ilusões, de frivolidades, de devaneios a ponto de inebriar mentes fragilizadas de pessoas que hoje vivem como fantoches ao sabor daqueles, por exemplo, cognominados especialistas em produzir modas, tipos ou gêneros de indivíduos tribais, exibindo suas tatuagens, esbeltos corpos sarados em academias de ginásticas, que se proliferam por todos os lugares, enfim, uma multidão de pessoas fazendo o que a mídia especializada ou os profissionais capitalistas determinam.[...]

O Big Brother Brasil, hoje na sua versão mais promíscua, representa o mundo contemporâneo da nudez explícita, da apelação desmedida ao sexo e vitrine de exposição pública carnal de seus participantes do mesmo ou de sexos diferentes.

Estamos atravessando um período delicado com a revolução dos valores éticos e morais. Parece que o mundo perdeu as suas referências positivas comportamentais. Tudo tem girado em torno do super ego das pessoas: eu sou mais, tenho isto e aquilo, moro num condomínio de luxo, tenho o carro da marca X, sou bem remunerado, sou superior, quero ser uma celebridade e outras idiotices. Mas se esquecem de que todos são iguais, vão morrer um dia, e que daqui nada levarão.

Não podemos discutir o gosto de cada um. Se ainda existe o Big Brother é porque o programa atende à sua clientela e aos seus patrocinadores. Mas já está na hora de a televisão nacional se preocupar mais com o nível cultural de seus programas de entretenimento. Ficar mostrando a intimidade explícita de um bando de aventureiros ávidos pelas luzes da ribalta do estrelato para depois ser convidado a posar em revistas de apelo sexual masculino ou feminino, não é produzir cultura e divertimento saudável a ninguém.

Julio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado
RG.394.437
Tel.47-33634184
Balneário Camboriú-SC

Jornalismo e Catástrofe

Beto Almeida

"Será que o jornalismo não pode ir muito mais além do que reportar, muitas vezes com claro sensacionalismo, a estas tragédias? Será que não pode ajudar a elaborar uma consciência na sociedade sobre serem muitas destas tragédias perfeitamente previsíveis e evitáveis?

Começamos este ano cheio de catástrofes, lamentando perdas de vidas nas tragédias gigantescas como no Haiti, ou em outras de outro alcance em Angra dos Reis, no Estado de São Paulo relatadas pela tv e já somos obrigados a um questionamento aparentemente banal, mas nem tanto: será que o jornalismo não pode ir muito mais além do que reportar, muitas vezes com claro sensacionalismo, a estas tragédias? Não poderia ter outro papel? Será que não pode ajudar a elaborar uma consciência na sociedade sobre serem muitas destas tragédias perfeitamente previsíveis e evitáveis?

Se é verdade que terremotos não são evitáveis , também é verdade que a humanidade já possui a capacidade científica para prever e indicar com precisão quais as áreas onde ocorrerão. Exemplo disso, é que o geólogo Patrick Charles, do Instituto de Geologia de Havana e o sismólogo John Bellini, do Instituto de Sismologia dos EUA, na Conferência Internacional de Geoologia do Caribe, em 2008, previram a inevitável ocorrência de um terremoto de grandes proporções na cidade de Porto-Príncipe, embora não fosse possível definir a data.

O que foi feito com as previsões e os alertas destes cientistas? Foram levadas a sério? É verdade que o Haiti está vitimado por um verdadeiro terremoto social há décadas, causado pelo colonialismo que transformou a primeira República das Américas e o primeiro país a abolir a escravidão num poço de miséria . Poço construído por ações políticas e econômicas concretas, não pelas forças da natureza.

Por exemplo, a França, ex-colonizadora do Haiti, cobrou uma dívida dos haitianos, sob ameaça de intervenção armada, equivalente ao que hoje seria a quantia de 20 bilhões de dólares! Os EUA apoiaram todas as ditaduras mais sanguinárias que aquele país teve que suportar, como a da criminosa dinastia Duvalier que, ao ser derrotada pela luta do povo haitiano, fugiu com sua fortuna para os bancos da Suíça. E tem gente que quer apontar a Suíça como país exemplo de civilização, quando é um grande cúmplice dos maiores roubos e crimes praticados contra a humanidade.

Jogo da mentira e do disfarce

As tragédias nos morros se repetem ano a ano a cada chuva intensa evidenciando a falta de políticas públicas para coordenar as ocupações urbanas de acordo com o critério científico e educativo. Prevalecem os interesses do lucro sobre os da sociedade que se vê destituida de informações, de segurança e de valores seguros para promover a cidadania. Tudo que falta no jornalismo que se esmera na construção das catástrofes e não nas explicações das suas razões profundas.

O jornalismo tem diante de si o desafio de ir mais além do que a simples constatação e exploração sensacionalista e mesquinha das tragédias humanas. Os administradores públicos são em muitos casos os grandes culpados por estas perdas de vidas. Acaso não sabemos que em 2007 já havia a determinação de autoridades competentes para a demolição daquela Pousada Sankai, em Angra dos Reis, por estar em área de risco? O governador do Rio de Janeiro chegou a baixar decreto flexibilizando e facilitando a ocupação de encostas na região, quando deveria agir no sentido contrário.

Da mesma forma, vale relacionar que os moradores do Morro da Carioca, também em Angra, ocuparam aquela área imprópria para a habitação quando houve a privatização e demolição da indústria naval no início dos anos 90. Desempregados dos estaleiros os trabalhadores subiram os morros porque não tinham outro lugar para morar e viver, e foi ali que viram muitos de seus entes queridos perder a vida.

Não é tudo isto perfeitamente evitável??? Claro que sim! Se as autoridades de São Paulo não investem na retirada dos entulhos da calha do Tietê – e política pública negligente deveria acarretar responsabilidade criminal - torna-se perfeitamente previsível que enchentes ocorrerão, provavelmente seguidas de morte e destruição.

Que não se culpe a natureza se os responsáveis pelas políticas públicas não se organizam para a prevenção, para a adaptação das cidades, para políticas habitacionais capazes de dar dignidade, conforto e segurança á população.

Por último vale lembrar que cientistas russos detectaram que em 2036 o asteróide gigante Apophis irá chocar-se com a Terra, sendo previsível grande destruição dada a magnitude do astro. Pois já estão desenvolvendo tecnologias para alterar a trajetória do asteróide de modo a evitar o choque.

Em Cuba, furacões são previstos e com o uso intenso e inteligente dos meios de comunicação, a mobilização dos sindicatos e organizações sociais, chega-se a deslocar até 10 por cento da população cubana em poucas horas, reduzindo radicalmente as perdas de vidas ante as gigantescas tempestades naturais. É a força da consciência e da organização sociais ante a natureza.

A ocupação dos grandes centros urbancos, obedecendo sempre o interesse econômico, voltado para a agressividade contra a natureza , cria as bases das catástrofes, mas, quando estas chegam, os verdadeiros culpados não são apontados, mas dissimulados em forma de desvios estratégicos decorrentes das explicações falsas para descrever os acontecimentos. Fazer confusão e alienação é o resultado prático do jornalismo de catástrofe sob um sistema que elimina a qualidade de vida.

No entanto, este mesmo furacão que passou por Cuba, também passou pelo Haiti e pela Guatemala em 2008, causou centenas e centenas de mortes em cada um destes países. É a diferença das políticas públicas praticadas. Da mesma forma, quando o furacão Katrina chegou a Nova Orleans, mesmo tendo sido previsto com boa antecipação, nenhuma política pública preventiva foi adotada pelo governo do sinistro George Bush , mesmo com todos os recursos materiais e tecnológicos que o país mais rico do mundo possui .

Resultado: centenas e centenas de vidas se perderam injustificadamente por falta de prevenção do governo dos EUA que, no entanto, não reluta em gastar bilhões de dólares em operações militares em qualquer parte do mundo onde possa estar.

O que foi feito com a previsão dos geólogos Patrick Charles e John Bellini que haviam afirmado: os moradores de Porto Príncipe deverão se preparar para um inevitável terremoto de largas proporções? Os EUA que agora ocupam militarmente o Haiti, antes tinham cortado toda a ajuda humanitária ao país. A França também.

O que não poderia ter sido feito com apenas uma fatia de recursos esterilizados no inútil salvamento de bancos que estão seguindo a mesma política financista especulativa irresponsável se este dinheiro tivesse sido utilizado para o deslocamento preventivo da população da capital haitiana, para a construção de novos núcleos habitacionais com técnicas apropriadas para resistir terremotos?

Em muitos países usam-se estruturas de bambu para a construção já que por sua flexibilidade adaptam-se aos tremores de terra e a eles resistem. Por que os avisos dos cientistas não foram ouvidos? Por que a mídia não deu o mesmo destaque a este aviso como deu à morte de um pop star?"

FONTE: escrito por Beto Almeida e publicado no site "Carta Maior". Reproduzido no portal "Vermelho". O autor é jornalista, membro da Junta Diretiva da Telesur e presidente da TV Cidade Livre de Brasília.

Postado no Democracia & Política

O poder e as vulnerabilidades da mídia

Um pouco de conhecimento e conscientização sobre a realidade da mídia. Qual é o mundo real e qual é o virtual? Em qual deles vivemos? Será que vivemos uma democracia? Pensa bem....

Abaixo mais um post do Miro:

Reproduzo abaixo a entrevista concedida ao Observatório do Direito à Comunicação, página do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social –, que tem como “objetivo central criar um ambiente de acompanhamento, fiscalização e reflexão sobre as políticas públicas no campo da comunicação”. O indispensável sítio, que acaba de ser reformulado, fornece às organizações da sociedade engajadas na luta contra a ditadura midiática “referências concretas que potencializem sua intervenção política, no Brasil e em fóruns internacionais”. O Intervozes é hoje reconhecido com uma das mais importantes entidades na elaboração sobre este tema estratégico. Agradeço ao editores do sítio pela divulgação do livro “A ditadura da mídia”.

No livro “A ditadura da mídia” (Editora Anita Garibaldi), Altamiro Borges descreve o que chama de paradoxo da mídia hegemônica: nunca teve tanto poder, mas nunca esteve tão desacreditada. Nesta entrevista, explora novamente este paradoxo desde a perspectiva de quem se coloca na “trincheira contra a ditadura midiática” – como aponta o subtítulo de seu Blog do Miro (altamiroborges.blogspot.com). Em suas respostas, o jornalista, membro do comitê central do PCdoB e autor de outras publicações sobre comunicação e sindicalismo, faz um resumo provocador dos dilemas da mídia hegemônica e daqueles movimentos que tentam – ou deveriam tentar – derrubá-la.

No livro “A ditadura da mídia”, você tentou usar uma linguagem mais acessível, menos especializada. Por que esta preocupação?

Um dos problemas da batalha pela democratização dos meios de comunicação no Brasil é que, como tratamos de um tema difícil, que envolve muita tecnologia nova, ela acaba se tornando um debate restrito a alguns setores. Estudiosos já há algum tempo alertaram para o tema como uma questão estratégica, mas o debate geralmente fica entre especialistas. No outro extremo, o movimento social ainda não se deu conta de que a comunicação é uma questão decisiva para as lutas do cotidiano, que é muito difícil realizar um trabalho de conscientização, organização e mobilização da classe se você não enfrenta a manipulação que a mídia desenvolve. E que a mídia é fundamental também para a defesa de direitos – pois dizem que eles são coisa de privilegiados, marajás – e que ela dificulta qualquer luta transformadora.

O movimento social é muito premido pelas urgências. No sindicalismo, por exemplo, a demanda é muito grande. É atraso de salário, pressão da chefia, retirada de direitos... O movimento sindical acaba tendo que correr atrás desse prejuízo, e esse também é o papel dele. Mas isso apenas confirma a tese de Marx: você fica na guerra de guerrilhas cotidiana contra os efeitos e não vê as causas. O movimento fica na luta imediata, econômica, corporativa, mas não vê as causas da exploração. O movimento social, no geral, não se deu conta ainda desta batalha estratégica.


E como foi esse trabalho de “tradução”?

O objetivo do livro foi exatamente tentar fazer uma ponte entre um tema que é meio árido e um público formado por quem nem sempre “caiu a ficha” sobre isso. Este foi o esforço. Participei muito tempo do movimento sindical – fui presidente de uma entidade chamada Centro de Estudos Sindicais, fui assessor de formação em algumas entidades – e conheço um pouco desta realidade. Então, fiz um livro voltado para este público, porque acho que se essa galera dos movimentos sociais – que é extremamente aguerrida e combativa e que, como todo mundo, tem também suas falhas e debilidades – não encara de frente essa batalha, ela não será ganha.

A pauta da comunicação ainda é subestimada pelos movimentos sociais?

Acho que sim, em vários sentidos. Primeiro, os movimentos e os militantes têm dificuldade de entender o que é a mídia hegemônica. Todos ficam “p da vida” com o tratamento que se dá, por exemplo, a uma greve. Sempre desvirtuam as nossas lutas, colocando a sociedade contra as nossas mobilizações, como se a sociedade não fosse formada também por trabalhadores. Sobre qualquer greve ou manifestação que se faça, o eixo da cobertura é sempre o da criminalização do movimento. O tratamento da Rede Globo para manifestações é sempre “congestionou o trânsito”. São sempre os manifestantes que são os violentos, os baderneiros. O MST, por exemplo, é duramente criminalizado, como se vê no tratamento que a Veja lhe dá.

Então, o movimento social é a principal vítima desses meios de comunicação, mas por enquanto ainda permanece apenas reclamando. Ainda não percebeu que a questão da comunicação é decisiva e deveria ser pauta obrigatória de todos os congressos de trabalhadores. Afinal, são os trabalhadores as vítimas desta mídia hegemônica, pois eles ficam no cotidiano do trabalho e, quando chegam em casa, se sentam na frente da TV e lhes é despejada uma carga imensa de material manipulado, publicidade, individualismo, consumismo e rejeição à ação coletiva. A questão é que não adianta só reclamar: o movimento social precisa encarar essa luta de maneira estratégica, e acho que ainda não encara. No próprio processo de construção da Conferência Nacional de Comunicação, os relatos que chegam são sempre os mesmos: baixa participação dos movimentos sociais mais tradicionais. Além disso, também falta investir em instrumentos próprios de comunicação, fazer a luta de idéias na sua base.


Qual o problema com a comunicação dos movimentos sociais?

Muitas entidades ainda encaram a comunicação como um gasto, não como um investimento da luta de idéias. Veja o caso do movimento sindical: existe até uma tiragem razoável de boletins sindicais no Brasil, mas muito fragmentada, muita voltada para as questões do cotidiano e também com muitos problemas de linguagem. O mundo do trabalho sofreu profundas transformações em razão das mudanças tecnológicas e de técnicas de gerenciamento. Existe uma juventude sem cultura sindical e que está presente nas empresas, e como você se comunica com eles? Os boletins sindicais são, geralmente, aqueles “tijolaços”, aquela coisa mal feita. E quando se discute isso, alega-se que o gasto é muito grande. Ou você investe em materiais de qualidade, em novas linguagens, em novas plataformas, ou você vai perder a batalha de idéias. Hoje, a cabeça do trabalhador é disputada no “macro” e no “micro”, pela mídia e também com as técnicas de gerenciamento, pois o patrão está disputando a cabeça do trabalhador com círculos de controle de qualidade.

O quanto as organizações do movimento social tem conseguido usar as novas plataformas de comunicação e se desapegar dos métodos mais “tradicionais”?

Há uma grande mudança de paradigma e acho que às vezes não nos damos conta destas mudanças. Percebo que ainda há muita resistência. É difícil convencer um sujeito acostumado com a máquina de escrever da potência da internet. Eu mesmo sinto essa dificuldade, pois ainda dou muito valor ao conteúdo e pouco à forma, ao visual. Eu acho que existem algumas organizações que começam a perceber isso, investindo mais em internet, produzindo sites mais vivos, atraentes, sem dogmatismo ou doutrinarismo.

Acho que há um esforço. Eu vejo algumas organizações dos movimentos sociais investindo em outros instrumentos. A experiência do MST com rádio é muito interessante, atingindo 600, 700 rádios. Esta é uma das coisas bonitas que o MST está fazendo, porque é uma comunicação para o interior de São Paulo, onde o rádio tem um papel fundamental. Alguns sindicatos têm investido hoje em TV. O Sinpro [Sindicato dos Professores] de Minas Gerais, por exemplo, investiu em um baita estúdio, fazendo um programa de televisão muito bem feito, que procura ter dinamismo. Ou seja, eles estão fazendo a disputa na sociedade. Existem outros casos, como a Apeoesp [Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo], os metalúrgicos de Caxias do Sul. Mesmo na internet, recebi um relato de que os bancários de Sergipe organizaram uma greve através do Orkut em função das dificuldades de mobilização. Ou seja, já existe na esquerda gente se alertando para isso, mesmo que cometendo erros. Às vezes.


No livro, você fala do “paradoxo da mídia hegemônica”. Qual é o paradoxo?

Nunca a mídia teve tanto poder. Em certo momento, até em uma visão progressista, chegou-se a sugerir que a mídia fosse um quarto poder, como um poder fiscalizador do executivo, legislativo e judiciário, que seria a voz dos sem vozes. Isso acabou. A mídia não é mais hoje um poder de fiscalização da sociedade, se é que algum dia foi, e eu questiono isso. Mas antes ela não era tão forte. Hoje ela é um grande poder. Ela é altamente concentrada. Na França, os dois principais grupos de comunicação estão ligados à indústria de armamentos. Como diz o Ignacio Ramonet, é comunicação e canhão. Você pega nos Estados Unidos, grandes grupos... é um poder econômico violentíssimo, que tem como objetivo o lucro, que faz de tudo um espetáculo, sensacionalismo para ser rentável, no mundo e no Brasil. No nosso caso, ainda há o agravante do tipo de formação dos complexos midiáticos, que é um negócio familiar, propriedade cruzada. A situação do Brasil é dramática, pois o processo de concentração foi pior do que em outros países, já que não existe regra nenhuma. Uma mesma família é dona de rádio, jornal, revista, TV, internet, o diabo! Então, é um grande poder com uma grande capacidade de manipulação.

Quão grande é esta capacidade de manipulação?

Ela consegue convencer que o Saddam Hussein tem armas químicas e bacteriológicas. Se bobear, consegue convencer que o Saddam Hussein estava num daqueles aviões do 11 de setembro. Você vê a manipulação que está se dando agora com o golpe de Honduras. A mídia está relativizando o golpe, está escondendo as manifestações. Ou senão, apresenta as manifestações a favor dos golpistas e as manifestações a favor do presidente deposto como se houvesse esta disputa entre os hondurenhos, tentando negar o golpe.

Tem um episódio recente que achei um absurdo... Sem entrar nos méritos do que representa o governo iraniano – um governo sobre o qual tenho muitas ressalvas, um governo teocrático, conservador, mas é um governo eleito, a mídia fez uma “baita onda” quando o presidente iraniano viria ao Brasil para assinar alguns acordos. Até umas manifestações merrecas foram pra TV Globo. Agora, acabou de sair do país um ministro de Israel [Avigdor Lieberman, ministro das Relações Exteriores israelense] – e sobre este não precisa ter dúvida: o cara fala que tem que jogar bomba, que tem que matar, é um racista assumido, alguém que emporcalha a história dos judeus perseguidos pelo holocausto porque ele propõe um holocausto sionista. E a mídia não fala nada! A Veja ainda publica uma entrevista como se o cara fosse um santo.

Então, essa capacidade de manipulação da opinião pública é muito violenta. É só a gente pegar o que foi a eleição de 2006 no Brasil, a eleição de 2005 na Bolívia, a tentativa de golpe na Venezuela... O Dênis de Moraes, que é um brilhante estudioso da mídia, chega a dizer que ela tem um duplo poder: ela é um poder econômico, no sentido de reprodução capitalista, está atrás de lucro, e é ao mesmo tempo – e ele retém o pensamento deste revolucionário italiano Antonio Gramsci – um aparelho privado de hegemonia. Este é o lado do poder, o lado da ditadura midiática.


Uma ditadura poderosa, pelo visto...

E este poder se agravou muito, a meu ver, por três fatores. Um: as mudanças tecnológicas, muito profundas. Dois: a desregulamentação neoliberal. O desmonte do Estado e o fim de leis deram à mídia este poder. Ela se coloca acima da Constituição, acima do Estado, acima das leis. E um terceiro fator, este totalmente endógeno: o capitalismo tende à concentração. A lógica do sistema é ser concentrador. Então, a monopolização, o desmanche neoliberal e as novas tecnologias aumentaram este poder.

E onde está o paradoxo?

Pois é! Se estamos falando de um poder que vem crescendo nos últimos tempos, onde está o paradoxo? É que este poder também está sendo questionado. E onde ele está sendo questionado? No meu entender, pelas próprias mudanças tecnológicas. Elas abriram determinadas brechas – que eu acho que não duram muito, mas são brechas importantes. A internet, hoje, é uma coisa aberta. Isso fragiliza a mídia. Essa mudança de paradigma sobre o qual a gente falava que o movimento social tem dificuldade de compreender, eles [a mídia hegemônica] também estão com dificuldade. É falência de jornalões, é queda de audiência de TV... Acho que estas mudanças tecnológicas criam o paradoxo: é um grande poder, mas que está mais vulnerável.

A outra coisa que eu acho que afeta muito é que a mídia, esta mídia hegemônica, vem perdendo credibilidade. Porque como a manipulação fica muito agressiva, tem hora que a sociedade vai despertando. Os estadunidenses, por exemplo, foram intoxicados e entorpecidos com toda aquela mensagem do Bush. Mas depois eles perceberam que aquela mensagem do Bush, da guerra, da desregulamentação da economia conduziu os Estados Unidos a uma crise enorme, tanto é que se produziu um fenômeno: a eleição de um negro para a Presidência em uma sociedade que tem características racistas muito fortes. Tal foi o descontentamento que se teve com o Bush. Com o Bush e também com a mídia.


No livro, você cita alguns exemplos na América Latina.

Acho que no nosso continente a mídia sofre um forte questionamento da sua credibilidade. O golpe de 2002 na Venezuela foi um golpe todinho organizado pela mídia. Inclusive as reuniões dos golpistas eram feitas na sede da RCTV e na sede do Cisneros. E o povo não aceitou. O povo desligou as televisões, se comunicou através de rádios comunitárias, internet e motoboy, desceu o morro, ocupou o [Palácio] Miraflores e obrigou o retorno do Chávez. Isso é uma derrota da mídia. Você pega a eleição na Bolívia. O Emir Sader fez uma pesquisa interessante: 87% das matérias de rádios, jornais e TVs na Bolívia foram contra o Evo Morales, inclusive com conteúdo racista. E o povo vai lá e elege o Evo Morales. Pega aqui mesmo no Brasil, com todas as limitações do governo Lula, a onda que se fez contra o governo Lula... e o povo reelege.

A gente percebe quando a mídia passa do ponto...

A mídia passou do ponto, sim. E o povo percebe... Mas acho que não tem jeito: a mídia vai exagerar na dose. Voltando ao Gramsci, ele fala o seguinte: quando os partidos das classes dominantes entram em crise, a imprensa assume o papel do partido do capital. Isso que o Gramsci falava na década de 1920 está se confirmando hoje: como as instituições burguesas estão em crise – até porque todas elas apostaram no receituário neoliberal de desmonte do Estado, da nação e do trabalho, e afundaram na crise que elas próprias ajudaram a criar –, cada vez mais a mídia vai ocupar este papel e ser mais agressiva. E com isso ela vai perder credibilidade. Esse menino que organizou o Rebelión, que é um dos grandes portais da internet hoje no mundo – é o Pascoal Serrano –, tem um livro que ele fala: a mídia vai perdendo credibilidade. Ela perde credibilidade porque surgem fontes alternativas, porque exagera na sua autoridade e isso vai corroendo a mídia. E quando ela exagera demais ela se estrepa.

Pega o episódio da Folha de S. Paulo quando qualificou a ditadura militar de ditabranda... ela perdeu assinantes! Por isso está fazendo estas campanhas falsárias, dizendo que é plural, que ouve todo mundo, pela democracia... Quem apoiou o regime militar, deu carro pra levar preso político pra tortura e quer falar de democracia tem que começar fazendo autocrítica do que fez no passado. Então, é por tudo isso que se dá o paradoxo: a mídia nunca teve tanto poder assim, mas as coisas estão se corroendo. E há ainda um terceiro fator que leva a este paradoxo: a mídia reflete a luta de classes no seu país e no mundo e, no caso do nosso continente, esta luta se radicalizou. De laboratório das políticas neoliberais, virou a liderança de oposição. Isso produziu uma radicalização da luta política na América Latina e a eleição de governos anti-neoliberais – uns mais avançados, uns mais recuados, uns mais radicais no sentido pleno da palavra, de ir na raiz dos problemas, outros mais moderados e conciliadores, mas isso começou a produzir mudanças. Mais cedo ou mais tarde estes governos iam ter de enfrentar o problema da mídia. E eles começaram a enfrentar.


Como tem sido este enfrentamento?

Alguns países estão enfrentando de forma ousada. Na Venezuela, o governo bate duro, não brinca com a mídia. A mídia não está acima do Estado, acima da sociedade. Bate duro. Se a RCTV é golpista, se a RCTV não paga os funcionários, se a RCTV transmite programa fora do horário que afeta crianças e adolescentes, programas de prostituição inclusive, se a RCTV pratica evasão de divisa, acabou a concessão pública. Acabou. Pode chorar, mas vocês não têm mais a concessão pública. É bandido! Não tem mais concessão pública, vocês não têm esse direito. O governo venezuelano vai tomando medidas. Agora mesmo fechou um bocado de rádio com concessões irregulares.

O governo boliviano também vem tomando medidas. A Constituição do Equador é impressionante neste sentido. A auditoria das concessões que foi feita no Equador... impressionante. Esses governos vão tomando estas medidas e a mídia vai ficando cada vez mais como bicho acuado... Eu acho que isso tudo vai vulnerabilizar a mídia hegemônica. Por isso o paradoxo: nunca teve tanto poder, mas nunca esteve tão vulnerável.


O senhor vê alguma especificidade no caso brasileiro? Por exemplo, no Brasil não tem definições como: tal jornal é conservador, tal colunista é progressista. A Folha, por exemplo, diz em relação à imprensa norte-americana: o jornal The New York Times é progressista, o colunista tal é conservador, mas não usa essas coisas para si mesma. Por quê? Por que essa especificidade brasileira, onde não é possível nem fazer este tipo de questionamento acerca da filiação dos diferentes veículos a determinadas posições políticas?

Eu acho que isso tem a ver com a própria formação dos monopólios no Brasil. O processo de concentração no Brasil se deu totalmente desregrado. Nos Estados Unidos, com todos os problemas dos Estados Unidos – uma potência imperialista agressiva -, mas lá você teve, até mesmo como fruto da luta contra o nazifascismo, a elaboração de leis que controlavam um pouco a mídia, que proibiam a propriedade cruzada. Você tem uma agência reguladora, tem lei anti-truste – é verdade que o Bush tentou acabar com todas elas ... –, você tem duas redes públicas razoáveis. Na Europa, tem ainda mais cuidado com isso, porque, no processo de derrota do nazifascismo, você teve toda uma construção de redes públicas fortes, com capacidade de audiência. Você pode até ter críticas à BBC, mas ela é uma televisão de alta qualidade pública. Então, houve a experiência da televisão portuguesa no final do salazarismo, teve a Itália no final do fascismo.

No Brasil, não teve nada disso, nunca teve uma rede pública forte. Getúlio Vargas até tentou criar com a Rádio Nacional - que chegou a ser a 4ª maior do mundo – , investiu também em um jornal alternativo que foi o Última Hora, mas exatamente por isso ele é tão detestado pela elite brasileira e principalmente pela elite paulista. Aliás, São Paulo é o único estado do país onde não tem uma rua Getúlio Vargas. É o único lugar onde tem um feriado para comemorar a tentativa de uma revolução oligárquica, dia 9 de julho.


Qual o problema criado pela falta de uma rede pública de comunicação?

Sem uma rede pública forte, o que sempre se teve foi um setor privado que nunca teve regras de controle. Nunca houve regulamentação para essa área. Então, nós não pegamos a experiência européia de público e ainda pioramos o que pegamos dos Estados Unidos, que minimamente tem lei que controla a concentração e o trabalho da mídia. Então, esses caras aqui se sentem os donos da cocada preta, sempre com muita capacidade de interferir. Com exceção do Última Hora e jornais de esquerda, todas essas grandes empresas de comunicação apoiaram o golpe de 64. Todas entraram na campanha do Collor. Até os colunistas progressistas estas empresas foram limpando. Para vozes que destoem, que problematizem, que polemizem, o espaço é reduzidíssimo nestes meios. Eu acho que estes fatores é que geram esta degeneração.

Qual é a correlação de forças no Brasil, hoje, entre os movimentos progressistas que questionam o modelo midiático e estes grandes grupos de mídia? Como você acha que vai ser a Conferência Nacional de Comunicação?

Primeiro, a Conferência é uma grande conquista dos movimentos sociais brasileiros, destas entidades que há muito tempo levantam a importância de se lutar pela democratização dos meios de comunicação: Intervozes [- Coletivo Brasil de Comunicação Social], FNDC [Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação], Abraço [Associação Brasileira de Rádios Comunitárias], entidades que levantam este tema. Uma vitória que foi difícil, pois há sete anos estamos tentando esta Conferência. Ela estava implícita no programa do Lula de 2003, estava explícita no de 2006 e só saiu agora, no final de 2009. E isso tem a ver com correlação de força e com vacilações do governo Lula.

Por que “vacilações”?

O governo Lula fez pacto com o capital financeiro, pacto com o agronegócio e pacto com os barões da mídia. Apanhou muito em 2006, e no segundo mandato começou a romper com esse pacto com os barões, mas foi muito cauteloso. Dos governos progressistas da América Latina, talvez tenha sido o que menos avançou neste processo de democratização dos meios de comunicação. Isso tem a ver com a correlação de forças no Brasil e com a complexidade do Brasil e o próprio problema de convicção do governo. Então, já foi tão duro conquistar a Conferência, não ia ser fácil realizá-la.

Você se refere aos impasses criados pelos empresários...

A conquista da Conferência teve a ver também com um racha no setor empresarial, um racha nas classes dominantes, que, por sua vez, teve a ver com essas mudanças tecnológicas, com essa digitalização e com a entrada dos operadores de telefonia na produção de conteúdos. Então, os radiodifusores brasileiros estão muito preocupados com isso. Inclusive são muito manhosos. Eles que pregaram a desnacionalização da economia, entrega tudo, privatiza tudo e agora estão falando em defesa da cultura nacional. É uma hipocrisia razoável, apesar de que parte de um problema real, porque se as operadoras de telefonia entram, elas têm um poder financeiro... A Telefônica é 60 bi [R$ 60 bilhões] e a Globo que é a Globo é 5 bi. Então se não tiver nenhum mecanismo de controle, daqui a pouco você não tem nenhuma produção de conteúdo nacional, só vai ver porcaria estrangeira. Vai ter que agüentar Bob Esponja de manhã, à tarde e à noite. Enfim: este racha empresarial também facilitou a Conferência. É uma vitória do povo, dos movimentos sociais brasileiros e principalmente destas entidades que entenderam a importância estratégica deste tema. Mas nada vem fácil. Eles perderam por conta do racha deles, mas eles vão tentar interferir no processo da Conferência. Eu acho que se eles sentirem que eles vão levar uma surra na Conferência a tendência é eles não irem para Conferência.

Eles já tem sinalizado esta saída...

É uma postura truculenta, arrogante. O Evandro [Guimarães] representante da Abert [Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV] vem com exigências. E eu pergunto: quem é você para falar pela sociedade? Eles dizem: não pode discutir o passado, só pode discutir o futuro. Discutir “o passado” é discutir o que está na Constituição, nos artigos 220, 221, 222 e 223? Eles dizem: não pode discutir conteúdo. E vem com uma imposição de que tem que reduzir a interferência estatal.. Não existe rede pública no Brasil e está querendo reduzir ainda mais? Vem com imposição de critérios: “temos que ter 40% de cadeira cativa para os empresários”. Mas quem são vocês para ter 40% de cadeira cativa? Se os empresários dos meios de comunicação representassem 40% da sociedade brasileira, nós não teríamos o problema de concentração da mídia no Brasil. Eu acho que eles estão medindo, estão tentando enquadrar a Conferência, chantagear o governo e ameaçar sair para tentar enquadrar a Conferência na questão de conteúdo, de critérios para participação. Então é uma batalha difícil, não é fácil. O governo tem manifestado que faz a Conferência com ou sem empresários, vamos ver se peita este tipo de atitude. [O anúncio da saída dos empresários foi feito duas semanas após a entrevista.]

Ocorrendo a Conferência, o que pode acontecer? Qual pode ser o saldo da Conferência?

A realização da Conferência, o seu processo com as etapas estaduais, municipais e a nacional é um processo muito interessante, porque ela se volta para aquela pergunta inicial sobre quem entendeu a importância da comunicação, da luta nesta área estar restrita a um setor ainda pequeno, formado de “especialistas”. Não caiu a ficha para os movimentos sociais e ampla parcela da sociedade acha que a televisão que está aí é ótima. O processo de Conferência eu acho que permite duas coisas: primeira e grande coisa, ela é um esforço pedagógico porque permite envolver mais gente nesse debate, sair da coisa de especialistas, cutucar o movimento social para que ele entre com força e fazer o debate com o amplo setor da sociedade. Se este debate, hoje, está reduzido a mil, dois mil ativistas, no processo da Conferência você pode envolver, sei lá, cem mil pessoas debatendo mídia enquanto direito humano, enquanto requisito da democracia, debatendo mídia enquanto respeito à diversidade. Por si só, mesmo que não tivesse conquista nenhuma na Conferência só isso já seria extremamente positivo. Além disso, eu acho que é possível ter algumas vitórias na Conferência.

Quais seriam estas possíveis vitórias?

Eu acho que se o movimento social brasileiro conseguir elencar propostas concretas, centrar em algumas – não tentar abarcar tudo -, não achar que a Conferência vai acabar com a ditadura midiática, porque não vai acabar... Nem o Chávez que é o Chávez, em um processo mais radicalizado, acabou com o latifúndio midiático na Venezuela! Nós ainda vamos ter que acumular muita força. Mas eu acho que se a gente consegue eleger alguns temas e propostas concretas, não ficar só no diagnóstico, mas ir para a proposição, eu acho que a gente pode conseguir algumas vitórias como: medidas para inclusão digital, medidas para não criminalizar a radiodifusão comunitária, medidas para rediscutir critérios de publicidade oficial, medidas para redefinir atualizar e garantir a discussão dos critérios de concessão publica, medidas de fortalecimento da rede pública – e a gente não está falando só sobre a EBC [Empresa Brasil de Comunicação], mas também os canais comunitários, canais educativos, universitários. Então, eu acho que a Conferência é vitória, os patrões estão fazendo chantagem, mas se ela se realiza, só o processo já é pedagógico. E mais do que isso: acho que conseguimos obter vitórias pontuais, parciais, mas vitórias. Não vai ser uma revolução, mas é um processo acumulativo de ganhar forças

A mídia "em guerra", no mundo todo

30 de Janeiro de 2010 - 11h23

Bernard Cassen: mídias viraram arma ideológica e política

No Vermelho
O jornalista francês Bernard Cassen criticou nesta sexta-feira (29) os meios de comunicação que, segundo ele, deixam de lado a informação e se transformam em “arma ideológica e política, abandonando toda a fachada do pluralismo”.
Ele citou como exemplo a atual situação da Venezuela e dos veículos de comunicação do país. “Oitenta por cento das mídias venezuelanas são privadas e em guerra aberta ao governo. Não fazem informação, fazem guerra”, disse o ex-diretor do jornal Le Monde Diplomatique.

O jornalista, que participou dos debates no Fórum Social Mundial Temático na Bahia, definiu as mídias como atores econômicos da globalização liberal, além de vetores ideológicos das políticas neoliberais.

Ele lembrou que, apenas na França, 75% dos veículos estão nas mãos de três grupos. A mesma concentração existe também na Itália, na Alemanha e mesmo no Brasil. “É um fenômeno global”, disse, ao enfatizar que a crítica ao sistema midiático não deve ser interpretada como uma crítica aos jornalistas. “Eles pagam preços muito altos – muitos estão desempregados e quem não está, está assalariado em situações de precariedade, como vítimas do sistema”, completou.

Ele defendeu a democratização da comunicação, por meio do favorecimento a mídias comunitárias e alternativas, e disse que é preciso “dar poder aos jornalistas”.

Cassen destacou a importância do papel da educação para a formação de leitores, espectadores e ouvintes críticos. “Nas escolas, [é preciso] oferecer ensinamento crítico sobre as mídias, desmontar a desinformação e a manipulação. Isso tem que ser ensinado, dar armas para não se deixar levar pelas mídias. Os movimentos sociais, por meio de publicações, também têm seu papel na educação para adultos.”

Fonte: Agência Brasil
Lido no Viomundo de Luiz Carlos Azenha

Fórum Social Mundial Temático da Bahia

Repasse de 5% do lucro a trabalhadores não prejudicará empresas, diz ministro
Mariana Jungmann
Enviada Especial


Salvador - O ministro Samuel Pinheiro Guimarães, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, disse hoje (30) que a proposta de repasse de parte do lucro das empresas para os trabalhadores está prevista na Constituição e depende apenas de regulamentação. “O que existe hoje é uma proposta que está sendo discutida, será encaminhada ao Congresso para se regulamentar essa questão”, afirmou o ministro.

De acordo com ele, o repasse de 5% do lucro líquido das empresas para os trabalhadores é possível e não vai prejudicar o empresariado. “O setor empresarial no Brasil felizmente tem lucros extraordinários. Nós estamos falando de 5% de resultados positivos. Ainda vão sobrar 95%. Será que é pouco?” A proposta de tornar lei a participação nos lucros e resultados das empresas está sendo estudada por um grupo de trabalho do governo federal.

O ministro participou pela manhã de duas mesas no Fórum Social Mundial Temático da Bahia, uma sobre o tema Governança e Paz Mundial e a outra sobre Diálogos e Controvérsias. O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, também participou dos debates.
Na primeira mesa, Samuel Pinheiro Guimarães falou sobre as mudanças que vêm ocorrendo no cenário global, como a substituição do G8 pelo G20 e a participação de mais países nas discussões sobre mudanças climáticas.
“A luta contra a opressão é uma luta histórica, permanente. Naturalmente nós enfrentamos a resistência dos que se beneficiam dos regimes desiguais”, afirmou o ministro.

Ele disse ainda que a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), realizada em dezembro em Copenhague, na Dinamarca, foi um passo importante e que há uma conscientização crescente dos países sobre o tema.

Edição: Juliana Andrade
Fonte: Agência Brasil 

PROPAGANDA: O MODO DEMOTUCANO DE GOVERNAR

Blog Democracia e Política:

"Para Kassab é tudo pela propaganda

Os quadros publicados pela revista Época são significativos da prioridade número um de Kassab. Publicidade e propaganda têm verbas equivalentes à soma de todo o dinheiro previsto para construção de piscinões, corredores de ônibus, obras de emergência contra enchente, para áreas de risco e construção, ampliação e reforma de equipamentos para saúde.

É significativo também o montante em dinheiro alocado à propaganda na prefeitura de Kassab, quando comparado com os gastos federais e estaduais. Kassab gasta proporcionalmente 11 vezes a mais em publicidade que o governo federal e o dobro do que gasta o próprio Serra (o que já é mais que o triplo do gasto federal em publicidade!).

A cada R$1.000 do orçamento, são gastos por Kassab em publicidade R$4,55. Serra gasta em propaganda R$1,62 e o governo federal R$0,40. Os dados são da revista Época."

Essa é Minha Opinião: Talvez isso explique e deixe muito claro os motivos desta dobradinha admnistrativa mal fadada de São Paulo ser tão acobertada pelo PIG. É dinheiro que não acaba mais nos cofres da Mídia Golpista! Lamentável...

sábado, 30 de janeiro de 2010

Lula está muito bem, obrigado!

Lula concedeu entrevista coletiva após passar por exames Foto: Raphael Falavigna/Terra Lula concedeu entrevista coletiva após passar por exames
Foto: Raphael Falavigna/Terra

Peter Fussy
Direto de São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado, após fazer exames de check-up, em São Paulo, que vai continuar sua agenda de viagens este ano, o último de seu segundo mandato. "Eu sempre digo que quem engorda o porco é o olho do dono. Se o presidente não ficar em cima cobrando, as coisas não funcionam", afirmou Lula, com a voz em tom baixo, mas de bom humor.

Trajando o uniforme olímpico brasileiro, Lula disse que embora seja o último ano de mandato, não pode "deixar a peteca cair". O presidente afirmou ainda que, até agora, seus exames demonstram que está com a saúde perfeita e creditou a crise de hipertensão que teve na última quarta-feira à agenda de compromissos e falta de descanso. "De repente, a gente percebe que o dia só tem 24h e a agenda tem uma utilização de horários de mais de 24h".
Ele disse que ficou preocupado com o ocorrido e com a realização de exames e comparou o organismo com um automóvel. "Toda vez que venho fazer check-up, fico preocupado. Pega você e leva seu carro na concessionária achando que ele está com problema na porta direita. Aí deixa lá e você vai ver que o problema é em todo lugar", afirmou. Lula afirmou, porém, que deve melhorar a sua dieta e a sua qualidade de vida.

O cardiologista Roberto Kalil disse que o presidente está liberado para retomar as atividades normalmente e não precisará fazer uso de nenhuma medicação. Ele recomendou apenas que Lula retome as atividades físicas que ele não pode fazer nas últimas semanas e que durma mais. "O presidente é uma pessoa saudável, e teve esse quadro de hipertensão mais por estafa e estresse", afirmou o médico, que não diagnosticou hipertensão crônica em Lula, mas apenas um pico em um momento de cansaço excessivo.

Lula chegou de helicóptero ao Instituto do Coração (InCor) por volta das 8h e passou por ecocardiograma, tomografia das artérias cardíacas, ultrasson do abdome e próstata, teste pulmonar e exames de sangue e urina. De acordo com Kalil, os resultados foram todos dentro da normalidade. A primeira-dama, Marisa Letícia, também faz exames de rotina, que ficaram dentro do esperado. Após os exames, que duraram cerca de duas horas e meia, o casal foi de helicóptero para o aeroporto de Congonhas, de onde seguiram de volta para Brasília.

Fonte: Terra

Azenha: Empreiteira tem incentivo para manter reservatórios cheios

por Conceição Lemes
A empresa privada que controla os reservatórios do Alto Tietê tinha incentivos para manter as represas cheias mesmo antes do início do período de chuvas em São Paulo: ela recebe da Sabesp pelo fornecimento de 10 metros cúbicos de água tratada por segundo.
Isso fica claro no anúncio do fechamento do contrato, feito no Diário Oficial do Poder Executivo de 28 de fevereiro de 2009, um sábado.

Está lá, na capa: Estação de Taiaçupeba terá produção ampliada em 50% num prazo de dois anos.
Diz o texto, assinado por Otávio Nunes, da Agência Imprensa Oficial:
"A estação de tratamento de água (ETA) Taiaçupeba, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), em Suzano, terá sua produção aumentada em 50% em dois anos, passando dos atuais 10 metros cúbicos por segundo para 15 metros cúbicos. Quando estiver pronta, será a segunda maior da empresa e irá responder por 15% da água consumida na Região Metropolitana de São Paulo. Hoje é a terceira, superada pelas ETAs Guaraú (Sistema Cantareira), com 33 metros cúbicos por segundo, e pela Alto da Boa Vista (Guarapiranga), que trata 14 metros cúbicos por segundo, ambas na capital. Outra novidade: a obra é a primeira da Sabesp feita na modalidade Parceria Pública e Privada (PPP)."


"A ETA Taiaçupeba é responsável pelo tratamento da água proveniente do Sistema Alto Tietê. Hélio Castro conta que todo este manancial é formado por cinco represas que armazenam água do Tietê e de seus afluentes locais, como os rios Jundiaí, Biritiba, Paraitinga e Taiaçupeba, onde está a estação, em Suzano. 

A ligação entre as represas e as lagoas de tratamento de Taiaçupeba é feita através de canais e dutos. A obra, iniciada em meados de fevereiro, será tocada pelo consórcio CabSpat, formado pela Galvão Engenharia e Companhia Águas do Brasil (Cab Ambiental). O pool de empresas irá investir R$ 300 milhões nos dois primeiros anos de contrato na ampliação de Taiaçupeba e, também, na construção de 17,7 quilômetros de adutoras (canalização) de 400 a 1,8 mil milímetros de diâmetro e quatro reservatórios para armazenar 70 milhões de litros de água tratada, no processo de disposição final do lodo dos decantadores, na manutenção eletromecânica, na barragem e ainda nos serviços auxiliares de adução e entrega da água. O contrato tem validade de 15 anos".

"Nos dois primeiros anos de contrato, a parceira receberá da Sabesp valor contratual sobre 10 metros cúbicos por segundo de água tratada. Após a conclusão da obra, prevista para fevereiro de 2011, o pagamento será calculado com base no novo volume de tratamento em Taiaçupeba, de 15 metros cúbicos por segundo." 

"Vantagens da PPP – O engenheiro Hélio Castro aponta as vantagens da modalidade PPP. Ele diz que a Sabesp não precisará arrumar verba para o empreendimento, ganhará experiência para participar de obras em outros países ou Estados brasileiros, dentro do novo modelo de parceria, e o consórcio trará novidades tecnológicas para o setor de tratamento de água. “Além disso, se a Sabesp tocasse sozinha a ampliação de Taiaçupeba pelo modelo tradicional, não conseguiria concluí-la em dois anos, devido aos processos de licitação que seriam realizados no período e que acabariam atrasando a obra. Transtorno que o consórcio não terá, por ser privado”, justifica o superintendente".

O texto, curiosamente, nada informa sobre o valor do contrato, estimado em quase um bilhão de reais durante 15 anos, mas deixa claro que se trata de um modelo paulista que a Sabesp pretende "exportar" para o restante do Brasil.

Fonte: Viomundo de Luiz Carlos Azenha

Do golpe militar às Diretas-Já

Reproduzo artigo do Miro Borges que conta um pouco de nossa história recente e o papel da imprensa nesses 21 anos de DITADURA MILITAR no Brasil.

Miro Borges:

O golpe militar de 1964 serviu aos interesses – ideológicos, políticos e empresariais – dos barões da mídia. Com exceção da Última Hora, os principais jornais, revistas, emissoras de TV e rádio participaram da conspiração que derrubou João Goulart. O editorial da Folha de S.Paulo de 17 de fevereiro de 2009, que usou o neologismo “ditabranda” para qualificar a sanguinária ditadura, ajudou a reavivar esta história sinistra – além de resultar num manifesto de repúdio com 8 mil adesões de intelectuais e na perda de mais de 2 mil assinantes. Afinal, não foi apenas a Folha que clamou pelo golpe. Vários livros documentaram a participação ativa da mídia, inclusive listando veículos e jornalistas a serviço dos golpistas [9]. Os editoriais da época escancararam essa postura ilegal.

“Graças à decisão e heroísmo das Forças Armadas, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo a rumos contrários à sua vocação e tradições... Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares”, comemorou o jornal O Globo. “Desde ontem se instalou no país a verdadeira legalidade... A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”, afirmou, descaradamente, o Jornal do Brasil. “Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr. João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comunos-carreiristas-negocistas-sindicalistas”, disparou o fascistóide Carlos Lacerda na Tribuna da Imprensa.

Na sequência, alguns veículos ingeriram seu próprio veneno e sentiram a fúria dos fascistas, que prenderam, mataram, cassaram mandatos e impuseram a censura. Lacerda, que ambicionava ser presidente, foi escorraçado pelos generais. Já o Estadão, com a sua linha liberal-conservadora, discordou do rumo estatizante do regime e teve várias edições censuradas. Este não foi o caso do grupo Frias, que tornou a Folha da Tarde “uma filial da Operação Bandeirantes”, a temida Oban, e no jornal de maior “tiragem” do país devido ao grande número de “tiras” (policiais) na sua redação [10]. Também não foi o caso da Rede Globo, que ergueu seu império graças ao irrestrito apoio à ditadura [11].

Até quando a ditadura já dava sinais de fraqueza, a TV Globo insistiu em salvá-la. Nas eleições de 1982, a corporação de Roberto Marinho montou um esquema, através da empresa Proconsult, para fraudar a apuração dos votos e evitar a vitória do recém-anistiado Leonel Brizola. A fraude foi denunciada por Homero Sanchez, ex-diretor de pesquisas da própria emissora. Ela também tentou desqualificar todos os principais líderes da oposição à ditadura. Numa entrevista ao jornal The New York Times, Roberto Marinho confessou: “Em um determinado momento, me convenci que o Sr. Leonel Brizola era um mau governador... Passei a considerar o Sr. Brizola daninho e perigoso e lutei contra ele. Realmente, usei todas as possibilidades para derrotá-lo”.

A manipulação mais grosseira, que popularizou o refrão “O povo não é bobo, fora Rede Globo”, ocorreu na campanha pelas Diretas-Já. Até duas semanas antes da votação da emenda Dante de Oliveira, que instituía a eleição direta para presidente, ela omitiu a mobilização que contagiava milhões de brasileiros. Ela recusou até matéria paga com chamadas para o comício em Curitiba (PR). Já o ato na capital paulista, que reuniu 300 mil de pessoas em 25 de janeiro de 1984, foi apresentado pelo âncora da emissora como “festa em São Paulo; a cidade comemora seus 430 anos”. “O Jornal Nacional sonegou ao público o fato – notório, na época – de que o ato fazia parte da campanha nacional por eleições diretas. Sonegou que essa campanha era liderada publicamente pelos principais expoentes da oposição” [12]. Um verdadeiro crime!

Das greves à histeria na Constituinte
Alguns veículos perceberam o naufrágio da ditadura militar e jogaram papel positivo na luta pela redemocratização. O caso mais curioso foi o da Folha, que até usou suas capas para convocar os comícios das Diretas-Já. O grupo Frias, que apoiara os generais “linha dura”, mudou de lado por oportunismo político e “mercadológico” [13]. Apesar destas nuances, nenhum barão da mídia abdicou de sua visão de classe. Jornalões e emissoras de TV e rádio nunca vacilaram diante das lutas dos trabalhadores, procurando criminalizar suas greves e satanizar suas lideranças. Numa das massivas assembléias em Vila Euclides, em maio de 1980, os metalúrgicos do ABC paulista destruíram câmeras e veículos da TV Globo, indignados com as suas recorrentes manipulações.

Esta opção de classe ficou visível durante os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, em 1987/1988. Meticulosa pesquisa de Francisco Fonseca, da Fundação Getúlio Vargas, prova que os quatro principais diários do país (Jornal do Brasil, O Globo, Estadão e Folha) uniformizaram os seus ataques aos direitos trabalhistas. “Através dos editoriais, que definem a linha editorial e ideológica de cada veículo, a grande imprensa operou nos debates constituintes, sobretudo nos temas que se referiam aos direitos sociais... Alguns dos direitos propostos, como a diminuição da jornada de trabalho, a ampliação da licença-maternidade, a licença-paternidade e o aumento do valor da hora extra, foram tratados como catastróficos à produção” [14].

“A Constituinte embarcou em um caminho de distribuição de benefícios sociais cujo produto só pode ser um e único: a redução da taxa de investimentos, com o conseqüente atraso econômico”, afirmou o editorial terrorista do JB (28/02/88). “Concessões feitas em total descompasso com os efeitos não prejudicarão apenas os trabalhadores, [mas também] a estabilidade institucional”, ameaçou o golpista O Globo (15/11/87). O Estadão, com sua linha liberal-conservadora, pregou a supremacia do deus-mercado, afirmando que tais direitos “acarretariam pernicioso desestímulo aos melhores” (18/06/87). Já a Folha atacou a “demagogia”, inclusive nas propostas do adicional de férias, aviso prévio aos demitidos e limite de seis horas nos turnos ininterruptos (08/07/88).

Além de rejeitar qualquer avanço trabalhista, a mídia bombardeou o direito de greve e procurou fragilizar o sindicalismo. “A liberdade de greve é um abuso conceitual”, atacou o JB (07/07/88). A Folha exagerou ao dizer que as propostas dos constituintes estimulariam o “direito irrestrito de greve... [com] artigos condenáveis” (15/07/88). Já O Globo, no editorial “A porta da anarquia”, afirmou que este direito “significa a porta aberta à desordem e ao caos” (17/08/88). E o Estadão explicitou sua aversão às greves, principalmente no setor público. “São exércitos de empregados que agem com todas as regalias e mordomias de funcionários públicos, promovendo greves que ganham, hoje, aspectos nitidamente políticos e ideológicos, que levam à violência” (19/11/88).

Diante da ascensão das forças democráticas nos anos de 1980 e das conquistas da “Constituição-cidadã”, segundo a célebre definição do deputado Ulisses Guimarães, a mídia percebeu os riscos na origem e deu seu grito de guerra. “A hora é dos liberais acordarem, porque depois será tarde... Os liberais brasileiros têm diante de si uma ingente tarefa; se não se organizarem para combater o populismo estatizante (...), o Brasil corre o risco de regredir”, alertou o Estadão. “Não há outro caminho senão o de todos nos unirmos pondo acima de superadas divergências ideológicas ou de futuras disputas eleitorais os supremos objetivos da nação”, clamou o golpista Roberto Marinho.


NOTAS
9- Renê Armand Dreifuss. 1964: A conquista do estado. Editora Vozes, RJ, 1981.

10- Beatriz Kushnir. Cães de guarda. Boitempo Editorial, SP, 2004.

11- Valério Brittos e César Bolaño. Rede Globo: 40 anos de poder e hegemonia. Editora Paulus, SP, 2005.

12- Eugênio Bucci e Maria Rita Kehl. Videologias. Boitempo Editorial, SP, 2004.

13- Armando Sartori. “Oportunismo mercadológico”. Revista Retrato do Brasil, setembro de 2006.

14- Francisco Fonseca. “O conservadorismo patronal da grande imprensa brasileira”. Dezembro de 2002.

- Extraído do quarto capítulo do livro “A ditadura da mídia”, publicado pela Associação Vermelho e Editora Anita Garibaldi. Para adquirir seu exemplar, entrar em contato com Eliana Ada no endereço eletrônico – livro@vermelho.org.br

Fonte: Blog do Miro

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mais um Tucano Humorista

Essa é mais uma para a coleção de piadas proferidas por figurinhas da nossa política.
Com a palavra: Álvaro Dias.

Vice-líder tucano: Governo Lula instalou um regime corrupto

Eliano Jorge
Mais uma decisão do governo federal promete esquentar os ataques mútuos entre PT e PSDB. As reações dos oposicionistas surgiram imediatamente ao anúncio de que o presidente Lula retirou, da lista de projetos com suspeita de irregularidades feita pelo Tribunal de Contas da União, quatro obras da Petrobrás, nesta quinta-feira, 28.

Ouvido por Terra Magazine, o vice-líder tucano no Senado, Alvaro Dias (PR), disparou, de cara: "Isso vem na esteira de outras atitudes que consagram a improbidade administrativa".
- Se este governo fosse perfeito em todas as outras áreas, ele teria que ser condenado por ser tão adepto a corrupção, por passar a mão na cabeça dos desonestos e por instalar um regime corrupto no País - conclui.


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O tucano tenta firmar uma pecha de corrupção no governo Lula. "Num primeiro momento, ele dominou de forma absoluta a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás para evitar uma investigação e acobertar irregularidades. Depois avançou sobre o TCU, num esforço incomum, procurando limitar sua capacidade de fiscalizar. E agora passa, de uma só vez, sobre o Tribunal de Contas e o Congresso Nacional, liberando obras superfaturadas", historia.
Em meio ao bate-boca eleitoral antecipado, Dias aponta um motivo para a medida polêmica: "Isso significa consagrar a imoralidade na administração pública, com viés eleitoreiro, porque o objetivo é manter as obras durante a campanha eleitoral".

As palavras do parlamentar do PSDB têm o tom até acima do que vinha sendo empregado pela oposição. "A Petrobrás é uma empresa que tem um caixa significativo, expressivo, de valores gigantescos, essas obras consomem bilhões. Só numa delas, a de Abreu e Lima, há previsão de superfaturamento da ordem de 2 bilhões de dólares. E o presidente fecha os olhos, não dá a menor importância à questão ética, escancara as portas do governo para a corrupção. Isto é um mal enorme ao País", afirma Alvaro Dias.
- Este estímulo à corrupção, à impunidade, é que faz hoje ser possível fazer três vezes mais o que fazem com o mesmo dinheiro - detona.

Legal
Consultada por Terra Magazine, a Controladoria Geral da União confirmou a legalidade do ato presidencial.
Dias não adiantou se a oposição pensa em tomar alguma medida contra a atitude do presidente. "Sob o ponto de vista da legalidade, eu tenho dificuldade de questionar e discutir. Agora, sob o ponto de vista da moralidade, não tem dúvida nenhuma. Nem tudo que é legal é moral. É deplorável usar estes artifícios da legislação para abrir portas à corrupção".

Diante das estratégias eleitorais de comparação entre as gestões tucanas e petistas desde 1995 no Palácio do Planalto, parece claro que a oposição se apegará à suposta permissividade governista com a corrupção. Como indica Alvaro Dias: "Foi o governo (do PT) quem rasgou de forma definitiva a bandeira da ética e jogou na lata do lixo da história".

Fonte: Terra Magazine do Bob Fernandes

 

Íntegra do discurso de Lula no Fórum Econômico Mundial em Davos

Em repouso após passar por uma crise de hipertensão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, leu o discurso de Lula na cerimônia de entrega do prêmio "Estadista Global". O discurso descreve os avanços obtidos pelo Brasil nos últimos anos.

Leia abaixo a íntegra do discurso.

"Minhas senhoras e meus senhores,

Em primeiro lugar, agradeço o prêmio "Estadista Global" que vocês estão me concedendo.

Nos últimos meses, tenho recebido alguns dos prêmios e títulos mais importantes da minha vida.

Com toda sinceridade, sei que não é exatamente a mim que estão premiando - mas ao Brasil e ao esforço do povo brasileiro. Isso me deixa ainda mais feliz e honrado.

Recebo este prêmio, portanto, em nome do Brasil e do povo do meu país. Este prêmio nos alegra, mas, especialmente, nos alerta para a grande responsabilidade que temos.

Ele aumenta minha responsabilidade como governante, e a responsabilidade do meu país como ator cada vez mais ativo e presente no cenário mundial.

Tenho visto, em várias publicações internacionais, que o Brasil está na moda. Permitam-me dizer que se trata de um termo simpático, porém inapropriado.

O modismo é coisa fugaz, passageira. E o Brasil quer e será ator permanente no cenário do novo mundo.

O Brasil, porém, não quer ser um destaque novo em um mundo velho. A voz brasileira quer proclamar, em alto e bom som, que é possível construir um mundo novo.

O Brasil quer ajudar a construir este novo mundo, que todos nós sabemos, não apenas é possível, mas dramaticamente necessário, como ficou claro, na recente crise financeira internacional – mesmo para os que não gostam de mudanças.

Meus senhores e minhas senhoras,

O olhar do mundo hoje, para o Brasil, é muito diferente daquele, de sete anos atrás, quando estive pela primeira vez em Davos.

Naquela época, sentíamos que o mundo nos olhava mais com dúvida do que esperança. O mundo temia pelo futuro do Brasil, porque não sabia o rumo exato que nosso país tomaria sob a liderança de um operário, sem diploma universitário, nascido politicamente no seio da esquerda sindical.

Meu olhar para o mundo, na época, era o contrário do que o mundo tinha para o Brasil. Eu acreditava, que assim como o Brasil estava mudando, o mundo também pudesse mudar.

No meu discurso de 2003, eu disse, aqui em Davos, que o Brasil iria trabalhar para reduzir as disparidades econômicas e sociais, aprofundar a democracia política, garantir as liberdades públicas e promover, ativamente, os direitos humanos.

Iria, ao mesmo tempo, lutar para acabar sua dependência das instituições internacionais de crédito e buscar uma inserção mais ativa e soberana na comunidade das nações.

Frisei, entre outras coisas, a necessidade de construção de uma nova ordem econômica internacional, mais justa e democrática.

E comentei que a construção desta nova ordem não seria apenas um ato de generosidade, mas, principalmente, uma atitude de inteligência política.

Ponderei ainda que a paz não era só um objetivo moral, mas um imperativo de racionalidade. E que não bastava apenas proclamar os valores do humanismo. Era necessário fazer com que eles prevalecessem, verdadeiramente, nas relações entre os países e os povos.

Sete anos depois, eu posso olhar nos olhos de cada um de vocês – e, mais que isso, nos olhos do meu povo – e dizer que o Brasil, mesmo com todas as dificuldades, fez a sua parte. Fez o que prometeu.

Neste período, 31 milhões de brasileiros entraram na classe média e 20 milhões saíram do estágio de pobreza absoluta. Pagamos toda nossa dívida externa e hoje, em lugar de sermos devedores, somos credores do FMI.

Nossas reservas internacionais pularam de 38 bilhões para cerca de 240 bilhões de dólares. Temos fronteiras com 10 países e não nos envolvemos em um só conflito com nossos vizinhos. Diminuímos, consideravelmente, as agressões ao meio ambiente. Temos e estamos consolidando uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, e estamos caminhando para nos tornar a quinta economia mundial.

Posso dizer, com humildade e realismo, que ainda precisamos avançar muito. Mas ninguém pode negar que o Brasil melhorou.

O fato é que Brasil não apenas venceu o desafio de crescer economicamente e incluir socialmente, como provou, aos céticos, que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza.

Historicamente, quase todos governantes brasileiros governaram apenas para um terço da população. Para eles, o resto era peso, estorvo, carga.

Falavam em arrumar a casa. Mas como é possível arrumar um país deixando dois terços de sua população fora dos benefícios do progresso e da civilização?

Alguma casa fica de pé, se o pai e a mãe relegam ao abandono os filhos mais fracos, e concentram toda atenção nos filhos mais fortes e mais bem aquinhoados pela sorte?

É claro que não. Uma casa assim será uma casa frágil, dividida pelo ressentimento e pela insegurança, onde os irmãos se vêem como inimigos e não como membros da mesma família.

Nós concluímos o contrário: que só havia sentido em governar, se fosse governar para todos. E mostramos que aquilo que, tradicionalmente, era considerado estorvo, era, na verdade, força, reserva, energia para crescer.

Incorporar os mais fracos e os mais necessitados à economia e às políticas públicas não era apenas algo moralmente correto. Era, também, politicamente indispensável e economicamente acertado. Porque só arrumam a casa, o pai e a mãe que olham para todos, não deixam que os mais fortes esbulhem os mais fracos, nem aceitam que os mais fracos conformem-se com a submissão e com a injustiça. Uma casa só é forte quando é de todos – e nela todos encontram abrigo, oportunidades e esperanças.

Por isso, apostamos na ampliação do mercado interno e no aproveitamento de todas as nossas potencialidades. Hoje, há mais Brasil para mais brasileiros. Com isso, fortalecemos a economia, ampliamos a qualidade de vida do nosso povo, reforçamos a democracia, aumentamos nossa auto-estima e amplificamos nossa voz no mundo.

Minhas senhoras e meus senhores,

O que aconteceu com o mundo nos últimos sete anos? Podemos dizer que o mundo, igual ao Brasil, também melhorou?

Não faço esta pergunta com soberba. Nem para provocar comparações vantajosas em favor do Brasil.

Faço esta pergunta com humildade, como cidadão do mundo, que tem sua parcela de responsabilidade no que sucedeu – e no que possa vir a suceder com a humanidade e com o nosso planeta.

Pergunto: podemos dizer que, nos últimos sete anos, o mundo caminhou no rumo da diminuição das desigualdades, das guerras, dos conflitos, das tragédias e da pobreza?

Podemos dizer que caminhou, mais vigorosamente, em direção a um modelo de respeito ao ser humano e ao meio ambiente?

Podemos dizer que interrompeu a marcha da insensatez, que tantas vezes parece nos encaminhar para o abismo social, para o abismo ambiental, para o abismo político e para o abismo moral?

Posso imaginar a resposta sincera que sai do coração de cada um de vocês, porque sinto a mesma perplexidade e a mesma frustração com o mundo em que vivemos.

E nós todos, sem exceção, temos uma parcela de responsabilidade nisso tudo.

Nos últimos anos, continuamos sacudidos por guerras absurdas. Continuamos destruindo o meio-ambiente. Continuamos assistindo, com compaixão hipócrita, a miséria e a morte assumirem proporções dantescas na África. Continuamos vendo, passivamente, aumentar os campos de refugiados pelo mundo afora.

E vimos, com susto e medo, mas sem que a lição tenha sido corretamente aprendida, para onde a especulação financeira pode nos levar.

Sim, porque continuam muitos dos terríveis efeitos da crise financeira internacional, e não vemos nenhum sinal, mais concreto, de que esta crise tenha servido para que repensássemos a ordem econômica mundial, seus métodos, sua pobre ética e seus processos anacrônicos.

Pergunto: quantas crises serão necessárias para mudarmos de atitude? Quantas hecatombes financeiras teremos condições de suportar até que decidamos fazer o óbvio e o mais correto?

Quantos graus de aquecimento global, quanto degelo, quanto desmatamento e desequilíbrios ecológicos serão necessários para que tomemos a firme decisão de salvar o planeta?

Meus senhores e minhas senhoras,

Vendo os efeitos pavorosos da tragédia do Haiti, também pergunto: quantos Haitis serão necessários para que deixemos de buscar remédios tardios e soluções improvisadas, ao calor do remorso?

Todos nós sabemos que a tragédia do Haiti foi causada por dois tipos de terremotos: o que sacudiu Porto Príncipe, no início deste mês, com a força de 30 bombas atômicas, e o outro, lento e silencioso, que vem corroendo suas entranhas há alguns séculos.

Para este outro terremoto, o mundo fechou os olhos e os ouvidos. Como continua de olhos e ouvidos fechados para o terremoto silencioso que destrói comunidades inteiras na África, na Ásia, na Europa Oriental e nos países mais pobres das Américas.

Será necessário que o terremoto social traga seu epicentro para as grandes metrópoles européias e norte-americanas para que possamos tomar soluções mais definitivas?

Um antigo presidente brasileiro dizia, do alto de sua aristocrática arrogância, que a questão social era uma questão de polícia.

Será que não é isso que, de forma sutil e sofisticada, muitos países ricos dizem até hoje, quando perseguem, reprimem e discriminam os imigrantes, quando insistem num jogo em que tantos perdem e só poucos ganham?

Por que não fazermos um jogo em que todos possam ganhar, mesmo que em quantidades diversas, mas que ninguém perca no essencial?

O que existe de impossível nisso? Por que não caminharmos nessa direção, de forma consciente e deliberada e não empurrados por crises, por guerras e por tragédias? Será que a humanidade só pode aprender pelo caminho do sofrimento e do rugir de forças descontroladas?

Outro mundo e outro caminho são possíveis. Basta que queiramos. E precisamos fazer isso enquanto é tempo.

Meus senhores e minhas senhoras,

Gostaria de repetir que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. Esta também é uma das melhores receitas para a paz. E aprendemos, no ano passado, que é também um poderoso escudo contra crise.

Esta lição que o Brasil aprendeu, vale para qualquer parte do mundo, rica ou pobre.

Isso significa ampliar oportunidades, aumentar a produtividade, ampliar mercado e fortalecer a economia. Isso significa mudar as mentalidades e as relações. Isso significa criar fábricas de emprego e de cidadania.

Só fomos bem sucedidos nessas tarefas porque recuperamos o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e não nos deixamos aprisionar em armadilhas teóricas – ou políticas – equivocadas sobre o verdadeiro papel do estado.

Nos últimos sete anos, o Brasil criou quase 12 milhões de empregos formais. Em 2009, quando a maioria dos países viu diminuir os postos de trabalhos, tivemos um saldo positivo de cerca de um milhão de novos empregos.

O Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair. Por que? Porque tínhamos reorganizado a economia com fundamentos sólidos, com base no crescimento, na estabilidade, na produtividade, num sistema financeiro saudável, no acesso ao crédito e na inclusão social.

E quando os efeitos da crise começaram a nos alcançar, reforçamos, sem titubear, os fundamentos do nosso modelo e demos ênfase à ampliação do crédito, à redução de impostos e ao estímulo do consumo.

Na crise ficou provado, mais uma vez, que são os pequenos que estão construindo a economia de gigante do Brasil.

Este talvez seja o principal motivo do sucesso do Brasil: acreditar e apoiar o povo, os mais fracos e os pequenos. Na verdade, não estamos inventando a roda. Foi com esta força motriz que Roosevelt recuperou a economia americana depois da grande crise de 1929. E foi com ela que o Brasil venceu preventivamente a última crise internacional.

Mas, nos últimos sete anos, nunca agimos de forma improvisada. A gente sabia para onde queria caminhar. Organizamos a economia sem bravatas e sem sustos, mas com um foco muito claro: crescer com estabilidade e com inclusão.

Implantamos o maior programa de transferência de renda do mundo, o Bolsa Família, que hoje beneficia mais de 12 milhões de famílias. E lançamos, ao mesmo tempo, o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, maior conjunto de obras simultâneas nas áreas de infra-estrutura e logística da história do país, no qual já foram investidos 213 bilhões de dólares e que alcançará, no final do ano de 2010, um montante de 343 bilhões.

Volto ao ponto central: estivemos sempre atentos às politicas macro-econômicas, mas jamais nos limitamos às grandes linhas. Tivemos a obsessão de destravar a máquina da economia, sempre olhando para os mais necessitados, aumentando o poder de compra e o acesso ao crédito da maioria dos brasileiros.

Criamos, por exemplo, grandes programas de infra-estrutura social voltados exclusivamente para as camadas mais pobres. É o caso do programa Luz para Todos, que levou energia elétrica, no campo, para 12 milhões de pessoas e se mostrou um grande propulsor de bem estar e um forte ativador da economia.

Por exemplo: para levar energia elétrica a 2 milhões e 200 mil residências rurais, utilizamos 906 mil quilômetros de cabo, o suficiente para dar 21 voltas em torno do planeta Terra. Em contrapartida, estas famílias que passaram a ter energia elétrica em suas casas, compraram 1,5 milhão de televisores, 1,4 milhão de geladeiras e quantidades enormes de outros equipamentos.

As diversas linhas de microcrédito que criamos, seja para a produção, seja para o consumo, tiveram igualmente grande efeito multiplicador. E ensinaram aos capitalistas brasileiros que não existe capitalismo sem crédito.

Para que vocês tenham uma idéia, apenas com a modalidade de "crédito consignado", que tem como garantia o contracheque dos trabalhadores e aposentados, chegamos a fazer girar na economia mais 100 bilhões de reais por mês. As pessoas tomam empréstimos de 50 dólares, 80 dólares para comprar roupas, material escolar, etc, e isto ajuda ativar profundamente a economia.

Minhas senhoras e meus senhores,

Os desafios enfrentados, agora, pelo mundo são muito maiores do que os enfrentados pelo Brasil.

Com mudanças de prioridades e rearranjos de modelos, o governo brasileiro está conseguindo impor um novo ritmo de desenvolvimento ao nosso país.

O mundo, porém, necessita de mudanças mais profundas e mais complexas. E elas ficarão ainda mais difíceis quanto mais tempo deixarmos passar e quanto mais oportunidades jogarmos fora.

O encontro do clima, em Copenhague, é um exemplo disso. Ali a humanidade perdeu uma grande oportunidade de avançar, com rapidez, em defesa do meio-ambiente.

Por isso cobramos que cheguemos com o espírito desarmado, no próximo encontro, no México, e que encontremos saídas concretas para o grave problema do aquecimento global.

A crise financeira também mostrou que é preciso uma mudança profunda na ordem econômica, que privilegie a produção e não a especulação.

Um modelo, como todos sabem, onde o sistema financeiro esteja a serviço do setor produtivo e onde haja regulações claras para evitar riscos absurdos e excessivos.

Mas tudo isso são sintomas de uma crise mais profunda, e da necessidade de o mundo encontrar um novo caminho, livre dos velhos modelos e das velhas ideologias.

É hora de re-inventarmos o mundo e suas instituições. Por que ficarmos atrelados a modelos gestados em tempos e realidades tão diversas das que vivemos? O mundo tem que recuperar sua capacidade de criar e de sonhar.

Não podemos retardar soluções que apontam para uma melhor governança mundial, onde governos e nações trabalhem em favor de toda a humanidade.

Precisamos de um novo papel para os governos. E digo que, paradoxalmente, este novo papel é o mais antigo deles: é a recuperação do papel de governar.

Nós fomos eleitos para governar e temos que governar. Mas temos que governar com criatividade e justiça. E fazer isso já, antes que seja tarde.

Não sou apocalíptico, nem estou anunciando o fim do mundo. Estou lançando um brado de otimismo. E dizendo que, mais que nunca, temos nossos destinos em nossas mãos.

E toda vez que mãos humanas misturam sonho, criatividade, amor, coragem e justiça elas conseguem realizar a tarefa divina de construir um novo mundo e uma nova humanidade.

Muito obrigado."

Lido no Blog Democracia e Política - Fonte: Uol