Valter Campanato/Agência Brasil Ricardo Berzoini: "A geração de emprego vem da política de estímulo à economia" do governo Lula |
Eliano Jorge
Assim ele interpretou, para Terra Magazine, a declaração do governador paulista José Serra, do PSDB, que imputou aos investimentos de sua administração a criação de 800 mil empregos diretos e indiretos em 2009. "É uma tentativa desesperada de ficar sócio do sucesso do PT. A geração de emprego vem da política de estímulo à economia", retrucou o petista.
- Na política, é legítima a tentativa do Serra, mas não resiste à menor análise do que é decisivo. Certamente a ação do governo federal é a parte mais forte da geração de emprego em todo o Brasil - respondeu Berzoini, que deixará a presidência do partido em fevereiro de 2010, substituído por José Eduardo Dutra.
Sequência de comerciais televisivos do governo paulista no dia de Natal. "Eu acho escandalosa, é outra demonstração de desespero político. Nunca antes na história do Estado de São Paulo, teve tanta propaganda política", ironizou, recorrendo a um dos bordões do presidente Lula.
O dirigente petista afirma não se importar com a indefinição da candidatura de Serra como candidato da oposição à Presidência da República em 2010. Para ele, tanto faz que seja agora ou em março. "É irrelevante", insiste, amenizando o fato de a ministra Dilma Rousseff, com a visibilidade de quem encabeça a chapa governista, estar se aproximando da liderança tucana em pesquisas eleitorais.
- A minha convicção é que 70% da população só vai se integrar ao processo eleitoral apenas na campanha - prevê.
Ele também analisa a coalizão em torno da sua legenda, comparando a mudança dos métodos do passado. "Chegamos à conclusão de que um partido como o PT, que tem relações políticas em todo o País, não pode ficar restrito às alianças com partidos de esquerda. Tem que fazer aliança também ao centro. E até mesmo à centro-direita", opina.
Veja a entrevista.
Terra Magazine - A definição da candidatura do governador José Serra apenas em março seria melhor para a ministra Dilma Rousseff na disputa da eleição presidencial?
Ricardo Berzoini - É irrelevante. Mais cedo ou mais tarde, isso vai se definir. Na verdade, a parcela da população mais ligada à política já sabe quem são os candidatos do PT e do PSDB. Mesmo sem a confirmação, já têm esta percepção. A minha convicção é que 70% da população só vai se integrar ao processo eleitoral apenas na campanha. Portanto se a definição de algum candidato é janeiro, fevereiro ou março, para nossa visão do processo, é irrelevante.
Mas, enquanto isso, já candidata, a ministra Dilma não vem tendo mais visibilidade e se aproximando do governador Serra nas pesquisas?
A ministra está com agenda de ministra, e não uma agenda partidária. Até o final de março, ela se dedica prioritariamente, até em função da agenda, ao governo, ela tem pouco tempo para atividade partidária. O que vai ocorrer eventualmente é que um maior número de pessoas fica sabendo que ela é a candidata do PT.
O governador Serra atribuiu à sua própria administração a geração de 800 mil empregos diretos e indiretos em 2009. Como fica a disputa pela paternidade desses números, entre PT e PSDB?
É uma tentativa desesperada de ficar sócio do sucesso do projeto do PT. A geração de emprego vem da política de estímulo à economia. Só para fazer uma comparação: no ano em que o governo federal, de uma maneira extremamente responsável, ampliou a oferta de crédito, o governo de São Paulo abriu mão do seu principal fomentador de empréstimo, que foi a Nossa Caixa. Então, na política, é legítima a tentativa do Serra, mas não resiste à menor análise do que é decisivo, no Brasil, para gerar emprego. Certamente a ação do governo federal é a parte mais forte da geração de emprego em todo o Brasil.
Como o senhor avalia a sequência de propagandas do governo de São Paulo na televisão, no dia de Natal?
Eu acho escandalosa, é outra demonstração de desespero político. Nunca antes na história do Estado de São Paulo, teve tanta propaganda política. É Sabesp, é obra, é propaganda institucional...
O presidente Lula declarou, nesta terça-feira, que o PT perdia eleições porque não fazia alianças, "era metido a besta". O senhor concorda?
Na verdade, o PT, durante um período da sua vida, foi muito resistente a alianças de centro. Isso era característica quando Lula era presidente do PT. Depois, com o tempo, o partido passou a fazer novas alianças e, mais para a frente, chegamos à conclusão de que um partido como o PT, que tem relações políticas em todo o País, não pode ficar restrito às alianças com partidos de esquerda. Tem que fazer aliança também ao centro. E até mesmo à centro-direita, dependendo da situação. Aliança é parte essencial de uma eleição municipal, estadual ou nacional. Você faz uma aliança momentânea, com base num projeto político, e apresenta nas eleições de uma maneira transparente. Isso não é contraditório. Em 2002, a aliança com o PL, do (vice-presidente) José Alencar, teve um papel importante até para demonstrar esta disposição do PT de apresentar um programa para o País que não era só do PT. Era um programa que representava um projeto político que hoje, sete anos depois, é bem-avaliado pela população. Então, o presidente tem razão. Não sei se é porque era metido a besta ou tinha uma visão diferente do processo, mas antigamente o PT acreditava que, para não se expor a determinados riscos, deveria fazer aliança só com partidos de esquerda ou nem fazer alianças.
Mas segmentos do PT ainda demonstram, na mídia, insatisfação com exageros nas aberturas permitidas a alguns aliados. Reclamam, por exemplo, do PMDB...
Esse debate já foi superado ao longos dos debates internos do PT. A maioria defende a aliança com partidos de centro e que possamos ampliar essas alianças. A nossa definição para 2010, até agora, inclui todos os partidos da base aliada do governo federal. É possível construir um programa de governo que combine a esquerda, a centro-esquerda, o centro e até a centro-direita, quando há um objetivo claro e não somente objetivos eleitorais. Se o programa de governo for bem executado, o país reconhece a legimitimidade da aliança.
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