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sexta-feira, 5 de março de 2010

Educação em São Paulo - A verdade nua e crua!

Apeoesp: "A manobra do governo Serra para maquiar os resultados do Saresp saiu pela culatra"

Atualizado em 05 de março de 2010 às 12:16 | Publicado em 05 de março de 2010 às 11:35
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 Se você acessar hoje, 5 de março, o Portal do Governo do Estado de São Paulo vai encontrar na área da educação só boas notícias. A realidade, porém, está longe do que propangadeia o governo José Serra (PSDB).
Os resultados do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), divulgados em 26 de fevereiro, são uma prova. Em geral, as notas foram baixas. Porém, o governo Serra alterou a classificação das notas para elevar as médias dos alunos, denunciou a repórter Adriana Ferraz, do Agora: “Se o modelo utilizado no passado fosse mantido, nenhuma das séries avaliadas teria superado o conceito básico”.
 “A Secretaria da Educação tentou manipular a divulgação dos dados para melhorar os números”, afirma o professor Fábio Santos de Moraes, secretário-geral do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, a Apeoesp. “O tiro saiu pela culatra; a manobra para maquiar o rendimento escolar das escolas estaduais paulistas acabou descoberta.”
Nós conversamos um pouco mais sobre o assunto com o secretário-geral da Apeoesp.
Viomundo – Afinal, o que é o Saresp?
Fábio de Moraes – O Saresp é o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. Trata-se de uma iniciativa da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, para medir o nível de ensino paulista. Anualmente os alunos que estão na  4ª e 8ª séries do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio são submetidos a uma prova cujo objetivo é avaliar o conhecimento deles.
Viomundo – O que mudou?
Fábio de Moraes – A escala de notas vai de zero a 500. Até 2008, o exame oferecia quatro conceitos: abaixo do básico, básico, adequado e avançado. Agora, o governo reduziu o número de conceitos. São apenas três. O básico e o adequado transformaram-se em suficiente, puxando a média para cima. Por exemplo, até 2008, a Secretaria da Educação considerava uma média de 190 pontos na prova de português da quarta série como básica. Agora, de acordo com o novo critério, ela passou a ser adequada. Em outras palavras: o governo Serra criou o conceito de suficiente, que une os estudantes que estão no nível básico e adequado. 
Viomundo – O que significa essa alteração?
Fábio de Moraes – Cremos que houve uma tentativa de manipulação por parte do governo na divulgação dos dados com objetivo de melhorar nos números, mas o tiro saiu pela culatra. Afinal, a esperteza foi descoberta.
Viomundo – O que o Saresp deste ano mostrou de fato?
Fabio de Moraes – Apesar da manobra, resultados foram pífios, pobres mesmo. Houve pequena melhora no desempenho em Língua Portuguesa mas nada significativo. O problema maior foi em matemática, especialmente no ensino médio. No Saresp de 2008, os alunos do ensino médio atingiram 273 pontos; no de 2009, 269 pontos. Ou seja, mesmo com a alteração, o ensino de matemática foi reprovado.
Viomundo  – O governo do estado culpou os professores. O que o senhor acha disso?
Fábio de Moraes – Há tempos o governo vem culpabilizando os professores pelas mazelas da educação pública no estado de São Paulo. Em 2008, instituiu uma norma que previa que os primeiros 45 dias letivos de aula seriam utilizados para reforço de Português e Matemática. Para isso, preparou material didático – em forma de jornal – para uso dos alunos e professores.
O material continha erros crassos. O mais famoso é a apostila de Geografia com dois “Paraguais”. Mas havia erros em quase todos os livros. Falta uma política de Estado para a Educação Pública. Sem uma política séria, o governo Serra vive tirando “soluções” da manga. Quando as coisas não dão certo, a  culpa é do professor.
Viomundo – Segundo um levantamento feito pela liderança do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 2009, a Secretaria de Educação teve redução de investimentos de R$ 361 milhões. Serra apresentou uma estimativa de gastos de R$ 6,9 bilhões, mas utilizou R$ 6,5 bilhões. Esses cortes podem ter contribuído para que os alunos tivessem notas baixas no Saresp?
Fábio de Moraes – Provavelmente, sim.
Viomundo – Principalmente mães e pais reclamam da baixa qualidade do ensino no Estado de São Paulo. De quem é a culpa?
Fábio de Moraes – Do próprio governo Serra, ou melhor, deste grupo político que está à frente do governo do Estado há quase 15 anos. Foram eles que implantaram a progressão automática, que, na prática, transformou-se em aprovação automática.
O governo não dá as mínimas condições para o professor desenvolver um bom trabalho, as salas estão superlotadas, a profissão não é valorizada. Se quisesse realmente garantir ao povo de São Paulo uma educação de qualidade, deveria aumentar significativamente os recursos para a área. Isso significa aplicar a lei federal 11.738/ 08, que estabelece o piso salarial profissional nacional, que destina, no mínimo, um terço da jornada de trabalho do professor para atividades extraclasses, inclusive para a formação continuada. Nesta questão, aliás, a Secretaria da Educação deveria firmar convênios com universidades públicas para oferecer formação continuada no próprio local de trabalho, como parte da jornada do professor.
No entanto, em 2009, segundo dados do Sigeo (Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária), o governo de São Paulo deixou de gastar metade da verba destinada a programas, como a Rede do Saber. Estavam previstos gasto de R$ 90 milhões para a formação continuada de educadores, foram gastos R$ 44 milhões.
Viomundo – Como o governo Serra tem tratado a educação?
Fábio de Moraes – Com descaso. O estado mais rico da Federação não possui um Plano Estadual de Educação. O governo não tem uma política salarial para os professores. Em vez disso, implantou a política de bônus e abonos. A partir deste ano a progressão na carreira será pela meritocracia, o que arrebenta com nosso Plano de Cargos e Salários.
Viomundo – Por quê?
Fábio de Moraes – O plano revê que serão promovidos até 20% dos professores que atingirem uma pontuação pré-estabelecida numa prova. Ou seja, exclui 80% da categoria. A secretaria elegeu a avaliação individual do professor como a grande saída para a péssima situação das escolas estaduais. Com isso, tenta jogar o foco dos problemas educacionais sobre o educador. Entendemos que a educação é processo coletivo, é trabalho de equipe. Vai além da relação professor-aluno em sala de aula e dos conhecimentos individuais de cada professor. Não basta, portanto, uma prova de conhecimentos do professor para que se assegure a qualidade de ensino.
Viomundo – O que fazer para reverter esse quadro lamentável?
Fábio de Moraes – Essa situação não é boa para ninguém: alunos, professores e governo. Independentemente de quem esteja no poder, é preciso revertê-la. Isso implica dar condições adequadas de trabalho aos professores. As deficiências vão persistir, se: 1) o professor não tiver tranquilidade para atuar; 2) as condições estruturais e pedagógicas não forem dadas; 3) a jornada de trabalho não for adequada: 4) o projeto político-pedagógico e o currículo não estiverem de acordo com as necessidades dos alunos; 5) a carreira não for atraente e não houver bons salários.

FONTE: Viomundo do Azenha

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