A mais recente pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), deve ter causado insônia, no mínimo, em duas pessoas. Carlos Augusto Montenegro, o chefão do instituto tucano, havia jurado à revista Veja que a candidata Dilma Rousseff dificilmente passaria dos 15% nas pesquisas. Além de ser motivo de chacota no futebol carioca, após levar o seu time à segunda divisão, ele agora é ridicularizado pelos palpites infelizes – e tendenciosos – no Ibope.
Já o presidenciável José Serra, que é notívago, teve sua insônia agravada. A pesquisa confirmou sua queda e, pior, o crescimento vertiginoso de Dilma Rousseff. Ela indica que o tucano caiu três pontos, patinando nos 35% das intenções de votos, e que a petista subiu 13 pontos desde a última pesquisa do Ibope/CNI em dezembro – pulando para 30%. Além disso, ela revela que 53% dos brasileiros preferem votar na candidata apoiada por Lula, que bate novo recorde de popularidade.
Procura-se um candidato a vice
A pesquisa do instituto tucano causou frisson nos meios políticos, já que chefão do Ibope não é muito confiável. Ela demorou para ser divulgada e frustrou boatos que corriam nas redações da própria mídia demotucana. No seu blog da revista Veja, Lauro Jardim já havia antecipado que “o PSDB saiu-se mal em uma pesquisa nacional de intenção de voto. Ela mostra empate técnico de José Serra e Dilma Rousseff, mas com a petista um ponto percentual à frente”. Outra pesquisa, esta encomendada pelo PT, apontou pela primeira vez Dilma com três pontos à frente de Serra.
Apesar do risco de manipulação – Ulysses Guimarães costumava brincar que “a margem de erro das pesquisas é a margem de lucro” dos institutos –, o resultado do Ibope deve agravar o inferno astral da oposição liberal-conservadora. Sem programa e sem discurso, ela está perdida e metida em graves crises internas. Na semana passada, Aécio Neves enterrou a dobradinha dos sonhos de Serra. Até o portal da Globo, o G1, lamentou o desenlace. “O lançamento da pré-candidatura de Aécio ao Senado praticamente elimina a possibilidade da chapa-pura do partido à Presidência”.
“Ou disputa ou sai da vida pública”
Outro tucano sondado para ser vice, o senador “jagunço” Tasso Jereissati, também fez questão de recusar publicamente o convite. No início de março, em plena campanha eleitoral – que a mídia evita criticar –, Serra esteve na festa da uva em Caxias do Sul, ao lado de outra “potencial” vice, Yeda Crusius. Mas ele preferiu ficar bem distante da governadora deste estratégico estado, que se esforça para arrumar a casa – ou melhor, a mansão – após várias denúncias de corrupção. Para piorar, o PMDB local, que batia asas para os tucanos, sinalizou que deve apoiar Dilma Rousseff.
Diante destas agruras, José Serra até vacilou em ser candidato. Temia perder a briga presidencial e, de quebra, entregar o governo paulista para o seu rival, o traído e ressentido Geraldo Alckmin. Mas ele não tem como fugir da raia – ou do cadafalso! Serra é a alternativa que restou ao bloco neoliberal-conservador. Tanto que o Estadão, um jornal tucano-xiita, pressiona: “A relutância em assumir sua legítima aspiração, pela qual trabalha em surdina, já faz com que se diga que ele não tem medo do poder – tem medo do voto... A esta altura, ou ele disputa o Planalto ou sai da vida pública... A oposição precisa de um candidato que vá para a batalha pela porta da frente”.
A “Ivete Sangalo” do Senado
O jeito, então, é procurar um vice na seara, ou inferno, dos demos. É certo que também aí a coisa está feia. O “vice-careca” José Roberto Arruda, tão paparicado por Serra, FHC e outros tucanos, permanece preso em Brasília e deverá ser afastado do governo do Distrito Federal. O DEM está em baixa, não tem outros governadores, perdeu dezenas de deputados nas últimas eleições e não possui outras lideranças ascendentes. Sobra, então, a líder dos ruralistas, a senadora Kátia Abreu. O Correio Braziliense inclusive já incluiu o seu nome na lista dos vices demos do tucano Serra.
É certo que a parlamentar do Tocantins é uma das expressões mais grotescas do atraso na política nativa e representa o latifúndio – parte dele travestido de “moderno” agronegócio –, a grilagem, o trabalho escravo e infantil e a contratação de capangas. É certo, também, que ela é motivo de galhofa até no Senado, onde já foi apelidada pelos seus próprios pares de Ivete Sangalo, “graças ao seu jeito barulhento de fazer política”, segundo excelente reportagem de Diego Escosteguy, publicada na insuspeita revista Veja em julho de 2008 – mas que pode ser “arquivada”.
“Fortes evidências” de crime eleitoral
É certo, ainda, que pairam dúvidas sobre a honestidade da nova estrela dos demos. “A Veja teve acesso a documentos internos da CNA [Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária] que apontam fortes evidências de que a entidade bancou ilegalmente despesas da campanha dela ao Senado. A papelada revela que a CNA pagou R$ 650 mil à agência Talento, em agosto de 2006 – na mesma ocasião em que essa empresa prestava serviços de publicidade à campanha de Kátia Abreu ao Senado”, detalhou o artigo “Tem boi na linha”, de Diego Escosteguy.
Estas e outras sujeiras, porém, podem ser apagadas pela mídia demotucana. No seu esforço para evitar a continuidade do ciclo progressista aberto por Lula e garantir o retorno ao neoliberalismo, a mídia fará de tudo para transformar o tucano José Serra num exemplo de “gestor moderno” e a demo Kátia Abreu numa liderança do “moderno agronegócio”. É certo que será difícil convencer os eleitores. Mas não custa tentar. A campanha seria bem mais divertida com uma chapa Serra-Kátia, a dobradinha do vampiro com a Ivete Sangalo.
FONTE: Blog do Miro
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