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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mídia clama por um fato novo

Reproduzo artigo do escritor Washington Araújo, publicado no sítio Carta Maior:

"E um fato novo se viu/ Que a todos admirava:/ O que o operário dizia/ Outro operário escutava." (Vinícius de Moraes, O operário em construção)

E todos os que fazem a cobertura das eleições 2010 no Brasil parecem ter feito um pacto em torno de uma mesma torcida: meu reino por um fato novo. Todos sabemos que a matéria-prima do jornalismo, ao menos aquele dissociado do estilo-jabuti (o que se coloca em árvore nessa ou naquela posição), são os fatos novos. Fatos que indicam ação, movimento, mudança. Com uma campanha precocemente exaurida pela inexistência quase absoluta de fatos, vemos jornalistas, colunistas, comentaristas, apresentadores de TV e radialistas suplicando que venham os tais fatos, assim como ao longo de décadas o sertanejo nordestino ansiava para que a chuva viesse. No contexto atual o assunto é bem complexo. É que não podem ser quaisquer fatos, sejam velhos ou novos.

O que se implora é que sejam fatos beirando o extraordinário, com cores cataclísmicas e ímpeto aterrador. E não podem ser fatos quaisquer, não. Ao contrário, precisam ser caracterizados por sua natureza antigovernista e profundamente oposicionista. E se têm que vir, que venham logo pois do contrário será tarde demais. Neste exato momento os fatos que embalam anseios e orações, desejos e exercícios mentais não podem ocorrer após o dia 3 de outubro de 2010. Se ocorrerem, não terão valor algum. Serão apenas fatos precocemente envelhecidos ante a pressão do calendário eleitoral, que a cada dois anos se impõe à vida ordenada da sociedade brasileira. Fiz-me entender?

"Uma ação afirmativa e veemente"

Fazendo brevíssima viagem no tempo, tomemos como data-início o dia 6/8/2010 e como data-fim o dia 27/8/2010 e teremos uma descrição bem ao gosto do filósofo espanhol Ortega Y Gasset (1883-1955), quando gravou em alto relevo no pensamento universal a máxima "eu sou eu e minhas circunstâncias".

Para Ricardo Kotscho, decano do jornalismo político no país, um possível fato novo seria o que assumisse o formato da boca do jacaré.

"A não ser que nos próximos debates ou nos programas eleitorais no rádio e na TV, que começam a ir ao ar no próximo dia 17, surja algum fato novo fantástico capaz de virar o jogo, a atual tendência é a consolidação das curvas das pesquisas, com a `boca do jacaré´ se abrindo a favor de Dilma" (6/8/2010).

Para Álvaro Dias, destemido senador paranaense, o fato novo tem que ter aquele poder de criar ondas que uma pedra consegue quando é arremessada corretamente por sobre a superfície de lago calmo: "Temos de buscar fatos novos, sacudir essa campanha com uma ação afirmativa e veemente" (Álvaro Dias, PSDB-PR, Folha de S.Paulo,14/8/2010).

"Um grande impacto"

Para Marcos Coimbra, sociólogo e proprietário do Instituto Vox Populi, o assunto abre caminho para situar o fato novo no fazer jornalístico diário e para circunscrever o fato novo dentro de rígidos parâmetros da ética e do bom senso:

"A imprensa precisa de notícias, de preferência surpreendentes. Sem `fatos novos´, fazer o jornal é mais difícil. Por isso, os jornalistas os amam. E os jornalistas que não querem a vitória de quem está na frente? E as empresas de comunicação que têm simpatias por quem está em segundo ou terceiro? Aí, se os fatos novos teimam em não surgir, a tentação de criá-los é grande. Inutilmente, pelo que conhecemos de nossas eleições presidenciais anteriores. Quando a maioria do eleitorado cisma que vai votar em alguém, não há `fato novo´ que a mova. É como fogo de morro acima. Ou água de morro abaixo" (Marcos Coimbra,15/8/2010).

O jornalista Fernando Rodrigues, com o faro sempre apurado, busca no passado alguma semelhança com o presente e traz à memória o famigerado caso dos "aloprados" de quatro anos atrás:

"[Em comparação com as eleições de 2006] hoje, não há sinal de Dilma querer faltar a debates. Também não existe indício de um `aloprados 2´ a caminho – embora o de 2006 tenha sido um raio em céu azul no dia 15 de setembro. Sem erros do PT, as coisas ficam difíceis para Serra" (Folha de S.Paulo, 18/8/2010).

A propósito, convém fazer remissão à entrevista que Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, empresa que virou sinônimo de pesquisa de opinião pública no Brasil, concedeu à revista Veja (Edição 2127, de 26/8/2009). O título dizia tudo: "Lula não fará seu sucessor". Pois bem, passados exatos doze meses, eis o que lemos na entrevista da diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari:

"A 45 dias das eleições presidenciais, apenas um fato novo, fora de controle, poderá mudar o rumo da campanha... Não exime que na reta final da campanha aconteça algum fato que possa trazer um impacto grande nas campanhas..." (Agência Reuters, 19/8/2010).

"Não se pode dar a eleição por decidida"

Em tom taciturno recolhemos também do editorial do jornal Folha de S.Paulo a percepção do jornal sobre a possibilidade de "fatores imprevisíveis", nome pomposo para aquilo que os reles mortais chamam apenas "fato novo". Aponta para chances teóricas não capazes de vencer o pleito de 2010, mas sim, de conceder "sobrevida" à postulação oposicionista:

"Pode até ser que a candidatura José Serra à Presidência experimente alguma oscilação estatística até o dia 3 de outubro. E fatores imprevisíveis, como se sabe, são capazes de alterar o rumo de toda eleição. Não há como negar, portanto, chances teóricas de sobrevida à postulação tucana" (Folha de S.Paulo, editorial, 21/8/2010).

Para a senadora mato-grossense do sul Maria Serrano, a ideia de fato novo rima com o imponderável, com o apelo a que se avance o bom combate até seu último minuto. Há um quê de angústia em sua súplica:

"O clima de desânimo marcou as reações dos tucanos, que agora dizem esperar um `fato novo´ para levar a eleição ao segundo turno. Isso impacta a gente. Não é fácil, mas só podemos desistir no último minuto. É ruim esperar o imponderável, mas precisamos lutar até o fim" (Folha de S.Paulo, 22/8/2010).

Para o jornalista José Roberto de Toledo, atualmente no jornal Estado de S. Paulo, co-autor de Era FHC – um balanço e de Marketing Político e Persuasão Eleitoral, o "fato novo" é co-irmão do "fato aloprado". Segundo Toledo, a possibilidade de vir a existir é o que impede a presente eleição de ser considerada "decidida". Eis o que ele escreveu:

"Quando a eleição vira assunto do dia-a-dia, o acesso às informações sobre a campanha é praticamente simultâneo a todo o eleitorado, seja nas capitais, seja no Brasil profundo. Isso pode tanto reforçar tendências quanto provocar alterações bruscas, a partir de um fato inesperado, um `aloprado´. Também por isso não se pode dar a eleição por decidida" (O Estado de S. Paulo, 23/8/2010).

"Tendência só mudará com fato muito relevante"

O decano dos cronistas brasileiros, Carlos Heitor Cony, em seu lugar de destaque na página 2 da Folha de S.Paulo, é econômico no palavrório, generoso nos julgamentos e agourento para um dos polos da disputa presidencial:

"Acontece que nesta atual campanha, com a disparada das intenções de voto para Dilma, ficou escancarada a participação legal e eleitoral de Lula nos comícios e na TV. A vantagem de sua candidata tenderá a subir – a menos que ocorra um fato novo que beneficie o contendor ou bagunce o coreto montado pelo PT" (Folha de S.Paulo, 26/8/2010).

Para o presidente da Arko Advice Pesquisas, Murilo Aragão, tudo pode ser resumido em bem ajeitada metáfora futebolística onde o fato novo esperado pela oposição tem que necessariamente surgir nas asas do extraordinário.

"No entanto, Serra está em grandes dificuldades, pois além de ter que enfrentar circunstâncias adversas, não joga bem para conseguir mudar o quadro atual. É como se o time estivesse jogando no campo do adversário, com a maioria da torcida contra, e jogando mal. Está dependendo do erro do adversário para poder crescer nas pesquisas ou de um fato novo extraordinário" (Murilo Aragão, 26/8/2010).

Mauro Paulino, diretor do Datafolha, resume em apenas 25 palavras a corrida presidencial. Mesmo com roupagem da brevidade, Paulino ressalva a relevância de um fato "muito relevante":

"Mantida a tendência de crescimento da candidata Dilma Rousseff (PT), que só mudará se ocorrer um fato muito relevante, a eleição presidencial terminará no primeiro turno" (O Globo, 27/8/2010).

A quem interessaria?

Coincidência ou não, o fato é que 24 horas depois que Dilma Rousseff abriu 20 pontos de vantagem sobre José Serra, conforme pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha, os principais jornais desta sexta-feira (27/8/2010) traziam em suas primeiras páginas as seguintes manchetes:

* Folha de S.Paulo: "Nova quebra de sigilo abre batalha PT-PSDB"

* Estadão: "Suspeitos de violar sigilo de tucanos são blindados pela Receita"

* O Globo: "Núcleo da Receita no ABC devassou dados de 140"

* Jornal do Brasil: "Só um escândalo derruba Dilma"

* Zero Hora: "Oposição se une em ataque ao PT pela quebra de sigilos"

* Veja online: "Quebra de sigilo – Receita vê indícios de esquema para venda de informações sigilosas"

* Época online: "Receita diz que violação é fruto de `esquema´"

* Portal G1/Globo: "Receita vê indícios de `balcão de venda´ de informações fiscais"

* Globo online: "Numa última tentativa, a ordem, ainda que não consensual na campanha tucana, foi de jogar todas as fichas no episódio da violação do sigilo fiscal..."

E a pergunta que se impõe é: as nove manchetes acima relacionadas, todas em torno da quebra de sigilo fiscal de diversas pessoas ligadas ao PSDB, trazem consigo marcas que apontam para o inesperado, o fantástico, o extraordinário?

Mas, antes de responder a esta questão, que é obviamente facílima de responder, há que se utilizar a percepção, a intuição e a inteligência jornalística para responder a outras questões ainda mais importantes:

A quem interessaria (no duro mesmo!) a quebra do sigilo fiscal nos últimos meses de 2009 de Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB, de seus companheiros de partido, de Samuel Klein (dono da Casas Bahia) e da apresentadora da TV Globo Ana Maria Braga?

Quem estaria mais necessitado de um balão de oxigênio que atendesse pelo nome fato novo?

Fonte: Blog do Miro

Miro: Onde o poder da grande mídia não chega

Reproduzo artigo do professor Venício Lima, publicado no Observatório da Imprensa:

Os incríveis índices de aprovação do presidente Lula e do seu governo e a expectativa de que a candidata por ele apoiada vença as eleições ainda no primeiro turno – agora confirmada pela unanimidade dos institutos de pesquisa de "opinião pública" – vem deixando muita gente boa desorientada.

Teóricos de ocasião e autodesignados "formadores de opinião" estão perdidos diante do insucesso da cobertura de oposição sistematicamente praticada pela grande mídia nos últimos anos – aliás, confirmada pela presidente da ANJ em março passado – e têm oferecido explicações sem sentido para salvar as aparências.

Quem forma a "opinião pública"?

Afinal o que é opinião pública? Qual é o papel da grande mídia na sua formação? Quem são os seus formadores? Qual é o papel da mídia – e, portanto, dos jornalistas – na democracia representativa liberal?

A opinião pública tem sido objeto de estudo e reflexão desde pelo menos o século 18 e, no século 20, passou a fazer parte do debate conceitual e teórico na academia. Mais do que isso, seu significado se tornou objeto da própria disputa política de vez que serve aos interesses privados da grande mídia (a) defini-la como resultado das pesquisas que financia ou faz; (b) atribuir a si mesma o papel de "falar em nome da opinião pública"; e, sobretudo, (c) ser considerada como sua principal formadora.

O que está envolvido em tudo isso, por óbvio, é a disputa pelo poder: o enorme poder de "fazer a cabeça" das pessoas.

Descartada pelo marxismo clássico como falsa consciência e ideologia que mascara o interesse de classe, a opinião pública ocupa um papel central nas chamadas democracias consentidas liberais (G. Sartori), pois é considerada, no plano das idéias, o equivalente ao "preço das mercadorias", uma e outro resultantes da livre competição racional no mercado.

A opinião do cidadão informado e esclarecido surgiria do confronto plural de idéias no processo racional de debate público informado pela mídia. O sujeito da opinião, portanto, não seria o membro alienado de uma "massa", mas o cidadão esclarecido de um "público".

Na perspectiva liberal, caberia à mídia, acima dos interesses em jogo, o papel de fornecer ao público a pluralidade e a diversidade das informações necessárias à formação de sua opinião e, claro, à tomada de decisão política, em geral, e eleitoral, em particular. A liberdade da imprensa seria, portanto, a garantia do fluxo livre de informações, responsável pelo funcionamento do mercado de idéias e, em última instância, da própria democracia representativa.

Os excluídos despertam...

Como explicar, então, que, apesar de estar sendo "bem informada", a maioria da opinião pública brasileira esteja se formando politicamente com opinião oposta àquela explicitamente defendida pela grande mídia, ou seja, favorável não só ao presidente Lula, mas ao seu governo e à sua candidata?

Tenho argumentado a algum tempo que a grande mídia insiste em não enxergar a nova realidade (ver, por exemplo, neste Observatório, "A velha mídia finge que o país não mudou"). Certamente são muitas as explicações para o que vem acontecendo em relação à opinião pública brasileira.

Entre elas, com certeza, está a maior diversidade de fontes de informação política hoje disponível [internet] e o crescimento às vezes imperceptível do nível de consciência de camadas significativas da população sobre a mídia comercial, seu enorme poder e seus interesses. E ainda: a crescente consciência de que a comunicação é um direito fundamental da cidadania.

Jovens da periferia de Brasília

Essa longa reflexão vem a propósito de rápido, mas intenso contato que tive com grupos de jovens e educadores populares da periferia de Brasília, discutindo com eles sobre as relações entre a mídia e a violência durante o seminário "A juventude quer viver: diga não à violência e ao extermínio de jovens", realizado na Universidade Católica de Brasília, no último fim de semana.

O acesso às novas tecnologias e as facilidades de filmar, gravar, produzir sons e imagens e distribuí-los a baixo custo nas próprias comunidades periféricas, cria novos "espaços públicos" externos e fora do alcance da grande mídia.

Um exemplo: chega a ser surpreendente o conteúdo de músicas hip-hop que artistas populares criam descrevendo criticamente o padrão de cobertura que a grande mídia oferece sobre o jovem da periferia dos centros urbanos. Basta a esses artistas o confronto da sua realidade cotidiana com o que se escreve, se fala e se mostra a seu respeito. Revela-se comparativamente para milhões de jovens como o seu cotidiano é omitido ou grosseiramente distorcido. Eles são de fato excluídos e assim se consideram.

Para esses jovens, restrições à liberdade de expressão são uma realidade histórica, só que praticadas não pelo Estado, mas exatamente pela grande mídia que não oferece a eles o acesso e o espaço que deveria ser seu de direito [direito de antena].

Novos tempos

Essa realidade começa a ser mudada, todavia, pelos próprios jovens. E sem qualquer participação da grande mídia: são rádios comunitárias, shows de hip-hop, portais na internet, vídeos e outros recursos que começam a formar redes alternativas de comunicação comunitária a serviço da liberdade de expressão de milhares e milhares de jovens da periferia.

Nestes "espaços públicos" a grande mídia não interfere na formação da opinião. Aqui o conteúdo dos jornalões, das revistas semanais e das redes dominantes de rádio e televisão serve, na verdade, para confirmar a exclusão social e cultural, além de alimentar a crítica conscientizadora.

Talvez esteja aí – nas comunidades organizadas de jovens das periferias das grandes cidades – uma das explicações para o retumbante fracasso da grande mídia na formação da opinião pública em relação ao presidente Lula, ao seu governo e à sua candidata à Presidência.

O tempo dirá.

Fonte: Blog do Miro

MÍDIA - O "poste Dilma" e o jornalismo de pegadinhas.


Blog de Luis Nassif


As perguntas dos apresentadores do Jornal da Globo mostram duas coisas: o único universo de temas que lhes interessa é o virtual, esse mundo à parte criado pela velha mídia ao longo dos últimos anos. Nenhuma pergunta temática, nenhuma discussão sobre propostas de governo, nenhum questionamento à política econômica.

Apenas a peça de teatro que criaram para as eleições e que está sendo desmontada pesquisa após pesquisa.

1. A mudança física de Dilma, seguindo o script de mostrar uma candidata de duas caras.

2. A insistência em tentar colocar José Dirceu no debate.

3. A insistência em falar no fatiamento do governo pelos aliados.

4. Quebra de sigilo dos tucanos.

5. Caso dos presos de Cuba.

6. Narcoguerrilha e Farcs.

Nenhuma pergunta programática, nada que pudesse mostrar a visão ou falta de visão de futuro de Dilma, nenhum questionamento sobre as vulnerabilidades da economia, sobre o novo desenho do governo - social-democrata mas preso ao mercadismo do BC -, sobre as novas formas de governar, com participação popular.

Só a realidade virtual criada pela Globo.

Embarcaram em duas fantasias:

1. Achar que esse mundo virtual criado pela mídia (e que está sendo demolido, dia a dia, pelas pesquisas de opinião e pela exposição pública de Dilma) tivesse o mínimo de eficácia.

2. Acreditar na versão-poste, de que a Ministra mais forte do governo mais popular da história pudesse ser um "poste" que se enredaria com esse nível primário de perguntas. Conseguiram fortalecer mais ainda, junto à sua opinião pública, a percepção de que "o poste" é bastante articulado.

Surpreende, porque Waack é dos mais preparados jornalistas de televisão. Se descesse do pedestal para discutir conceitos com a candidata, poderia ter proporcionado aos seus telespectadores um dos momentos altos do jornalismo nessa campanha.

Venderam a idéia de que, quando exposta à luz, a candidata desmancharia. Ledo engano: exposto à luz do contraditório, quem desmanchou foi esse mundo virtual. A entrevista de ontem mostrou que a auto-suficiência no jornalismo, a arrogância, o tom de verdade absoluta imprimido a qualquer factóide, não resiste a 20 minutos de entrevista quando se dá a palavra à parte atingida.

Do G1

Dilma Rousseff é entrevistada pelo Jornal da Globo

Candidata do PT é a primeira de série com presidenciáveis.
José Serra será ouvido na edição de terça (31); Marina Silva, na de quarta.

Do G1, em São Paulo

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A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, foi entrevistada na edição desta segunda-feira (30) do Jornal da Globo pelos apresentadores William Waack e Christiane Pelajo. O candidato José Serra (PSDB) será o entrevistado da edição de terça (31) e a candidata Marina Silva (PV) estará na de quarta (1º). A ordem das entrevistas foi definida em sorteio. A entrevista tem duração de 20 minutos e foi dividida em dois blocos. Veja abaixo a íntegra de cada bloco, em vídeo, e leia a transcrição das perguntas e respostas:

William Waack: Boa noite. Bem-vinda ao Jornal da Globo. Candidata, o seu tempo começa a contar a partir de agora. Eu vou formular a primeira pergunta. A senhora passou - até talvez por não ter disputado nenhuma eleição até agora - por uma grande transformação física. Cabelo, roupa, o jeito de falar... Foi difícil?

Dilma Rousseff: Boa noite, William. Boa noite, Christiane. É, eu acho que esse é um processo diferente de ser ministra-chefe da Casa Civil. É, eu sempre digo que, como ministra-chefe da Casa Civil, a gente trabalha muito e tem muito pouco tempo pra você se relacionar com a população porque é um trabalho de bastidor, de construir, de estruturar um governo, de levar ele à frente. Então há uma exigência muito grande. Quando eu passei a ser candidata, eu acho que - vou te falar assim com sinceridade -, acho que é melhor, mais fácil porque implica em você ter contato com as pessoas, conseguir conversar com elas, fazer propostas. E é importante também você cuidar da forma como você aparece em público. Porque você vai, na verdade, aparecer pros 190 milhões de brasileiros, de uma forma ou de outra, ou através da TV aberta ou através do rádio, também, que você vai conversar. E, principalmente, eu acho que no contato pessoal. As pessoas gostam que a gente se cuide pra se aparecer pra elas. Então eu acho que isso foi bom pra mim. E eu acho que é bom também pras pessoas que me assistem, me veem.

Christiane Pelajo: Candidata, a gente tem visto muitos petistas envolvidos em escândalos na campanha da senhora. José Dirceu, por exemplo. Qual é o papel que ele terá num possível governo da senhora?

Dilma Rousseff: Olha, sabe, Christiane, eu não tenho discutido o futuro governo. Por uma questão, eu acho, que de respeito à população. Pra você começar a discutir um governo, eu teria de estar eleita. Eu acho que a questão que se coloca quando você está em campanha eleitoral é respeitar uma das questões mais importantes na democracia que é o voto do povo dia 3 de outubro. Se eu colocar a carroça na frente dos bois, em vez de eu discutir os programas do governo, em vez de eu dizer o que eu quero pras pessoas me escolherem como presidenta do Brasil, eu vou ficar discutindo uma coisa que não aconteceu? Por que, cá entre nós, pesquisa não ganha eleição...

Christiane Pelajo: Mas a senhora...

Dilma Rousseff: O que ganha eleição é voto na urna...

Christiane Pelajo: Mas a senhora...

Dilma Rousseff: Dia 3 de outubro.

Christiane Pelajo: Mas a senhora não vê problemas em trazer de volta à política uma pessoa que teve direitos políticos cassados?

Dilma Rousseff: Eu vou te insistir com isso. Eu não vou discutir nem o Zé Dirceu, não vou discutir quem quer que seja. Outro dia colocaram que o Henrique Meirelles, outro dia colocaram que era o Guido Mantega, outro dia colocaram que era o Palocci. Eu, em princípio, não discuto nenhum nome pro meu governo...

William Waack: A senhora vai deixar...

Dilma Rousseff: É uma questão assim de princípio. Por quê? Porque eu tenho sido acusada também de estar querendo ganhar a eleição antes da hora e que eu quero sentar na cadeira antes. Eu queria dizer, gente, que quem sentou na cadeira antes foi o ex-presidente da República e que... acho, inclusive, por dois motivos eu não sento em cadeira antes. Primeiro porque eu respeito o voto popular. E em segundo lugar porque eu acho que dá azar sentar na cadeira e ficou visível que deu azar.

William Waack: Essa é uma dose de superstição. Uma novidade.

Dilma Rousseff: Como todo brasileiro e brasileira deste país.

William Waack: Agora, a senhora se recusar a discutir cargos e distribuição de cargos, a senhora vai deixar um monte de gente decepcionada. Seus aliados estão discutindo abertamente quem vai ficar com o quê. Não seria a hora de a senhora participar?

Dilma Rousseff: Sabe, é comigo que sou, se eleita, a parte interessada ninguém fez isso até hoje. Todo mundo respeitou o fato de que em processo eleitoral a gente tem de levar em conta o interesse da população no fato de que ela tem de esclarecer. Segundo, tem de respeitar o dia do voto. É que nem futebol: todo mundo pode ficar fazendo prognóstico, mas, se um jogador de futebol sair dizendo que ele vai ganhar de 2 a 0, de 1 a 0, sem ter a bola na rede, é uma baita pretensão. Eu considero que seria pretensão da minha parte discutir qualquer consequência do processo eleitoral de 3 de outubro sem estar o último voto na urna às cinco horas da tarde.

William Waack: Já que a senhora usou o futebol, todo mundo escala o time antes do jogo.

Dilma Rousseff: É. Todo mundo escala o time antes do jogo, mas aí é futebol e eu tô fazendo eleição.

Christiane Pelajo: Candidata, a Receita Federal negou intenção política na quebra de sigilo no vazamento de dados de tucanos na semana passada. Integrantes do seu partido já foram envolvidos em montagem de dossiês contra opositores. Como é que a senhora pode dar garantias pra gente, pra população que isso não vá acontecer num eventual governo da senhora?

Dilma Rousseff: Olha, eu tenho muito tempo de vida pública, Christiane. E jamais compactuei com nenhuma união mal feita. Tenho insistido que a acusação da oposição a mim e à minha campanha é absolutamente sem fundamento. Inclusive, entrei com seis medidas jurídicas contra o candidato, meu opositor - não eu, mas o meu partido -, e também pedi providências à Política.. é, à Polícia Federal pra investigar esse fato. Eu considero que é absolutamente injustificável que uma pessoa acuse outra sem apresentar provas. Nós temos pedido sistematicamente que apresente provas. Aliás, se essa situação for colocada dessa forma, eu queria dizer uma coisa: o partido do candidato meu adversário tem uma trajetória de vazamentos e grampos absolutamente expressiva. Por exemplo, vazamento das dívidas dos deputados federais com o Banco do Brasil nas vésperas da votação da emenda da reeleição. Os grampos que existiram no BNDES e também os grampos feitos juntos ao próprio gabinete, o secretário da Presidência da República. Eu jamais usei esses episódios pra tornar o meu adversário suspeito de qualquer coisa porque eu não acho correto. Agora, eu também não concordo e que sem provas me acusem ou acusem a minha campanha. Eu tenho uma trajetória política. Na minha trajetória política, eu tive sempre absoluta respeito pela legalidade e pelo uso do dinheiro público. Então não vejo nenhuma justificativa para as acusações a não ser interesse eleitoral.

William Waack: Candidata, a senhora tem uma longa história política. A senhora foi torturada durante a ditadura militar. Como é que a senhora se sentiu quando ouviu o presidente Lula comparar presos de consciência em Cuba a bandidos em São Paulo?

Dilma Rousseff: Olha, William, eu acho que a trajetória política e de vida do presidente Lula não pode permitir que a gente acredite que o presidente Lula foi uma pessoa que não lutou a vida inteira pelos direitos humanos. Eu, da minha parte, tenho consciência disso e tenho presenciado isso. Acho de forma, muito discreta inclusive, o Brasil é responsável pela soltura dos presos políticos. Eu não digo que ele é responsável, que seria também muita pretensão minha, mas eu acredito que o presidente Lula, o Itamaraty e todas as tratativas feitas de forma discreta - como deve ser feito, até porque, se você não fizer de forma discreta, você não consegue muitas vezes o seu objetivo - responsável pela soltura dos presos políticos em Cuba. Agora, eu da minha parte, tenho uma convicção, William. Sabe qual é? A minha vida pessoal, ela teve um momento muito duro. Eu vivi a minha juventude durante a ditadura e lutei contra ela do primeiro ao último dia. Tenho absoluta solidariedade com presos políticos. Sou contra crimes de opinião, crimes políticos ou crimes por pensar, por querer ou por opor e vou defender isso a minha vida inteira.

William Waack: Ou seja, a senhora jamais faria essa comparação?

Dilma Rousseff: Não, eu não acho correto transformar o presidente e falar que o presidente tomou uma atitude errada nesse episódio. O presidente, eu vou repetir, foi responsável, um dos, pelas tratativas de soltura dos presos políticos cubanos.

Christiane Pelajo: Candidata, é notório que as Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, estão relacionadas ao tráfico de drogas e também ao crime organizado aqui no Brasil. Por que a senhora hesita em chamar as Farc de narcoguerrilha?

Dilma Rousseff: Eu jamais hesitei em chamar, falar que as Farc tem relações com o tráfico. É público e notório.

Christiane Pelajo: Então a senhora está declarando aqui que as Farc são uma narcoguerrilha?

Dilma Rousseff: Não estou declarando, não. O governo do presidente Lula acha as Farc ligadas ao crime, ao crime organizado e ao crime do tráfico de drogas. Nunca escondemos esse fato. Aliás essa história das nossas relações com as Farc foi muito bem respondida pelo próprio presidente, ex-ministro da Defesa da Colômbia, que disse o seguinte: em várias oportunidades, ele, ministro da Defesa, que combateu inequivocamente as Farc na Colômbia, conversou com elas, teve diálogo, porque tem momentos que sem ele ter o diálogo ele não consegue acabar e negociar a paz. Então, no Brasil, a gente tem de perder essa - eu acho assim - essa visão um tanto quanto conspiradora que muitas vezes se coloca. Se não se conversar, você não consegue inclusive a paz. E eu acho que ele foi muito feliz na resposta que ele deu pra uma revista nesse domingo - né?, foi domingo que saiu - em que ele diz: eu e outros políticos colombianos conversamos também.

2º bloco

William Waack: Estamos de volta para a segunda parte da entrevista com a candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff. Candidata, o seu tempo volta a contar a partir de agora, mais dez minutos. A senhora fez parte de um governo que tem sido criticado frequentemente por ter colocado na máquina administrativa muitos militantes do seu partido. Essa política prossegue?

Dilma Rousseff: Olha, eu sempre digo uma coisa, viu, William. Eu acho que um governo é composto de políticos que tenham competência técnica. Vai prosseguir sempre... eu vou prosseguir nesse critério. Vou escolher políticos com competência técnica. Aliás, eu sempre conto uma história: acho que os técnicos são muito importantes, mas técnicos que não têm compromisso com o desenvolvimento do seu país, que não têm compromisso com a distribuição de renda do seu país, que não têm compromisso com a inclusão social do seu país, levam o país a situações muito precárias. Eu, por ato do ofício meu como ministra de Minas e Energia, me relacionei com vários ministros da América Latina. E, uma vez, estava em uma reunião, era véspera de Natal, e começou aquela conversa meio social, meio de final de reunião. "Onde você vai passar as férias?". Nós todos... Eu disse: "Na minha casa". Onde você mora? "Em Porto Alegre". Cada um, eram vários ministros. Um deles, que importa, disse: "Ah, eu vou também passar em casa". E aí eu estava em dúvida se ele morava numa de duas cidades daquele país e disse uma delas. Ele falou: "Não". Eu disse a outra, ele falou: "Não". Então onde é? Ele disse para mim: "Eu moro em Miami". A família dele morava em Miami, os filhos dele moravam em Miami, os netos dele moravam em Miami. Eu não acredito que alguém que não crie a sua família no Brasil, que não tenha interesse na educação dos seus filhos de qualidade no Brasil, que não sinta no coração amor pelo seu país a ponto de morar nele, de aguentar as consequências, todas as consequências da vida que você, que um governo vai produzir lá, seja uma pessoa confiável. Então eu sempre vou escolher políticos com competência técnica. E aí todos os do meu partido que foram políticos com competência técnica para cargos específicos ocuparão esses cargos. E isso não vale só para o PT, isso vale para todos que ocuparem cargos no meu governo.

William Waack: Qualquer o partido?

Dilma Rousseff: Qualquer partido.

Christiane Pelajo: Candidata, o Brasil...

Dilma Rousseff: Aliás, sempre disseram que eu era um pouco exigente, não sei se você lembra. Sempre disseram: "Olha, ela é um pouco exigente no que se refere à qualificação para cargos".

William Waack: Ou quis dizer: "Não importa a carteirinha?"

Dilma Rousseff: Olha, eu acho que a carteirinha, já expliquei, importa sim, se a carteirinha for isso que eu disse: o compromisso com o seu país. Política não é sempre uma coisa ruim. Política não é sempre uma coisa suja. A política pode ser responsável por transformar, como o presidente Lula fez nesses últimos oito anos, um país que vivia na desigualdade, na estagnação e vivia também no desemprego, num país que está crescendo, que emprega 14 milhões quando o mundo está desempregando 30 milhões e em um país...

Christiane Pelajo: Candidata....

Dilma Rousseff: Que tem uma, de fato hoje, um resultado social muito impressionante.

Christiane Pelajo: Candidata, vamos mudar um pouco de assunto. O Brasil investe muito pouco em relação ao PIB e os investimentos dependem basicamente de Petrobrás e setor privado. Por que o governo Lula não conseguiu investir?

Dilma Rousseff: Eu não concordo com a afirmação. Acho que houve um esforço extraordinário do governo Lula para investimento. E isso ficou, isso é visível hoje nos números. Nós aumentamos bastante o investimento público - óbvio que a Petrobrás aumentou o seu investimento, que a Eletrobrás aumentou investimento. Agora, os investimentos privados, por exemplo, na área de infraestrutura foram demandados por leilões do governo...

Christiane Pelajo: Já que a senhora está falando de números, eu gostaria de dar alguns números aqui. Quarenta por cento da riqueza nacional do país vão para o governo e o governo só é responsável por dois por cento dos investimentos do país.

Dilma Rousseff: Veja bem. É o tipo do dado que ele não tem precisão econômica, ele não tem precisão orçamentária. Porque é o seguinte: o governo, ele, infraestrutura, nós passamos mais de 25 anos sem investir. Hoje nós estamos fazendo as seguintes obras: interligação da bacia do São Francisco, seis bilhões de reais. Para levar o quê? Para levar água para 12 milhões de pessoas no semi-árido nordestino. Acabamos com a história do racionamento de oito meses que aconteceu no Brasil. Hoje, vocês não veem mais alguém dizendo que o Brasil corre risco de racionamento, porque não tem risco de racionamento. Você vê Jirau e Santo Antônio. Vou te dar outro exemplo....

Christiane Pelajo: A senhora está satisfeita então com os investimentos no Brasil.

Dilma Rousseff: Não. Eu não. Eu sou uma pessoa que jamais vou ficar satisfeita. Quando eu falo que o Brasil voltou a investir, eu tô dizendo o seguinte: nós estamos em uma longa trajetória. Vamos precisar investir muito mais. Por exemplo, em casa própria para as pessoas, voltamos a investir, saneamento. Saneamento, hoje, eu estava dando um exemplo aqui em São Paulo, que nós botamos em saneamento aqui em São Paulo 8,6 bilhões.

William Waack: Candidata, parece haver um consenso, a senhora é economista, e parece haver um consenso entre os economistas. Primeiro: porque a nossa taxa de investimento é muito baixa em relação ao PIB....

Dilma Rousseff: Eu concordo...

William Waack: A senhora faz parte desse consenso.

Dilma Rousseff: Concordo...

William Waack: Há um outro consenso ainda....

Dilma Rousseff: Chegamos a 19, né, William...

William Waack: É, onde estamos mais ou menos....

Dilma Rousseff: Não, nós queríamos ter chegado a 21...

William Waack: A 24, 25...

Dilma Rousseff: Não, a 21. Nós íamos chegar a 21, em 2009... houve a crise e nós caímos outra vez.

William Waack: Eu quero chamar a atenção da senhora para outro consenso...

Dilma Rousseff: Nós vamos retomar este ano.

William Waack: Eu quero saber se a senhora faz parte desse consenso também, já que o primeiro a senhora admite que os investimento são mais baixos do que poderiam ser. Como é que o Brasil vai continuar crescendo, e não vamos crescer a mesma coisa que crescemos no primeiro semestre, o Ministro da Fazenda estava comentando isso agora, um pouco antes, à noite. Como é que nós vamos conseguir manter o mesmo ritmo sem fazer um severo ajuste fiscal. A senhora já está pensando nisso?

Dilma Rousseff: Eu acho, eu sou, hoje, contra que se faça ajuste fiscal agora no Brasil.

William Waack: Por causa de eleição? Ou porque a senhora não quer dizer ainda agora?

Dilma Rousseff: Não, não, não, não. O Brasil teve de fazer ajuste fiscal porque precisou fazer. O que é ajuste fiscal? Ajuste fiscal é regime de caixa. Caracteriza-se pelo fato que na despesa você sai cortando: aumento de salário mínimo, aumento de salário. Você sai cortando qualquer despesa passível de corte. Ou seja, aquelas que não estão vinculadas. Investimento, saneamento, nem pensar. Ela caracteriza primeiro por isso. Como é regime de caixa, tem um lado da receita que todo mundo esquece. Sabe o que você faz? Você aumenta imposto.

William Waack: Não tem jeito.

Dilma Rousseff: Aumenta o imposto. Além de aumentar imposto, sentam no caixa. Então vamos supor que você seja um empresário. E aí você tem um crédito tributário, um crédito devido a você. O Fisco te deve e vai ter de pagar. Sabe o que é o regime de caixa? Te devolvem em 48 meses. Em vez de devolver automaticamente te devolvem em 48 meses. O Brasil não precisa passar por isso mais. Sabe por quê? Primeiro: a inflação está sob controle visivelmente. Nós estamos com US$ 260 bilhões de reserva. E a relação dívida líquida sobre PIB está caindo inquestionavelmente, está em 41 por cento. Nós inclusive tivemos que ter um aumentozinho em 2009, mas foi a única vez. Fizemos superávit todos os anos. Então, o pessoal que está defendendo ajuste fiscal está errado. O que nós temos de defender é outra coisa. O Brasil tem de crescer e tem de controlar os seus gastos, não pode sair crescendo e gastando dinheiro a roldão. Um governo que não controle direito os seus gastos, que não pegue o seu dinheiro e olhe se ele está devidamente aplicado não é o governo que eu defendo. Agora, defender ajuste fiscal como foi praticado no Brasil é um crime hoje.

Christiane Pelajo: Candidata...

Dilma Rousseff: Hoje nós estamos na fase do investimento, do planejamento, do controle e da fiscalização do gasto público, mas não estamos na fase do ajuste fiscal.

William Waack: Contas externas... elas estão piorando. Como é que a senhora pretende inverter esse quadro?

Dilma Rousseff: Olha, nós estávamos falando há pouco na taxa de investimento. Eu sou a favor da taxa de investimento ser cada vez maior. Como o Brasil começou um processo de investimento virtuoso, nós estamos tendo um desequilíbrio devido a uma discrepância entre nós e o resto do mundo. Enquanto as exportações nossas não têm mercado porque os Estados Unidos e a União Europeia, a OCDE toda está com um problema sério de crise ainda...

William Waack: Nós temos mais 15 segundos, candidata.

Dilma Rousseff: Tá. Nós hoje somos mais importadores de bens de capital e bens intermediários que elevam a taxa de investimento. Eu acredito que o Brasil está convergindo para taxas de juros internacionais, porque eu acredito....

Christiane Pelajo: Candidata, o nosso tempo encerrou...

Dilma Rousseff: Que nós vamos reduzir a dívida. E aí o Brasil cresce.

Christiane Pelajo: Candidata, muito obrigada pela presença da senhora aqui com a gente no Jornal da Globo.

William Waack: Obrigado.

Christiane Pelajo: Amanhã a gente volta com mais um candidato à Presidência da República, José Serra, do PSDB

Fonte: Luis Nassif

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Porque Serra é uma farsa? Por que o PIG é sujo!

Políticos de maneira geral adoram uma característica comum ao povo. Sua falta de memória.

Mas em tempos de interconectividade onde este mundo conhecido como internet somado a ferramentas do tipo Redes Sociais, Blogs, Youtube, Messengers e outras mais, definitivamente veio mudar a maneira como as pessoas se informam.

Graças á Deus não somos mais obrigados a acreditar em jornalões como Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Correio Braziliense, O Globo, revistas Veja ou Istoé, rádios como Bandnews ou CBN, telejornais como Jornal da Gazeta ou o pior de todos: O Jornal Nacional.

Vá de retro toda manipulação midiática. O povo já não é mais tão bobo como esses veículos gostariam.

Yés! We CAN!

Eduardo Guimarães: “É a economia, estúpido!”



Tanto que rodamos, tanto que especulamos e a verdade sobre a eleição presidencial esteve o tempo todo sob os nossos narizes.

Aliás, quando flexiono os verbos do período anterior a partir da terceira pessoa do plural, sou bondoso, pois nós é uma vírgula… Eles, a direita, é que construíram teorias insólitas sobre como Serra venceria a eleição; a blogosfera progressista, os que integramos essa avassaladora “onda vermelha”, sempre dissemos a causa pela qual Serra cairia como fruta podre quando a campanha eleitoral chegasse ao auge.

A frase que intitula este texto foi dita por James Carville em 1992. Era, então, um dos craques mundiais do marketing político. Sua teoria se tornou notória durante a campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos. Explicava como o democrata poderia combater o então presidente americano, George Bush (pai), que buscava a reeleição pelo partido Republicano.

“É a economia, estúpido”, dizia Carville. A economia favorecia a vitória de Clinton como favoreceu a de Lula em 2002 e a de Obama em 2008, por estar mal, e foi a mesma economia que favoreceu a vitória de Lula em 2006 e favorecerá a de Dilma neste ano por estar bem. O resto é papo furado.
Atribuem a popularidade de Lula a uma sua lábia que teria poderes mágicos ou, ao menos, hipnóticos, e que enganaria um povo incauto, inculto, incompetente, irresponsável. Um povo, porém, que quando elegeu FHC era o supra-sumo do amadurecimento político decorrente da redemocratização do país, pelo menos para a mídia.

No fim, a explicação mais correta continua sendo a mais simples. A teoria de que o povo elegeria o maior adversário de Lula durante o seu mandato para continuar a sua obra se mostrou tão burra quanto a estratégia de negar até a morte os avanços que o país estava – e está – experimentando e de tentar atrapalhar sua governança de todas as formas.

Serra não vencerá a eleição, portanto, simplesmente porque não haveria como um oposicionista vencer. Claro que não precisaria ser por margem acachapante – e talvez não seja, porque ainda há muito chão pela frente até 3 de outubro. Mas a derrota da oposição sempre foi o cenário mais provável e continuará sendo mesmo fazendo todas as necessárias menções ao imponderável que se possa fazer…

Aliás, vale dizer que Serra até poderia ter uma pequena chance de vencer a eleição se ele e os seus aliados não tivessem passado os últimos anos sabotando tudo o que Lula fazia.

Será que o tucano acha que as centenas de milhares de famílias dos jovens que se beneficiaram do Prouni ficariam caladas enquanto ele prometia não interromper o programa apesar de seu aliado DEM ter entrado na Justiça para extingui-lo?

Nunca antes na história deste país um candidato deve ter sido tão chamado de mentiroso por tantos.Essas centenas de milhares de famílias de estudantes pobres converteram-se em milhões de pessoas que as integram, pessoas que vêm ascendendo na escala social e que não estão dispostas a eleger aquele que, através de aliados, tentou impedi-las de ascender.

E as milhões de famílias integrantes do Bolsa Família que passaram quase oito anos sendo estigmatizadas pelos aliados de Serra e pelo próprio como hordas de “vagabundos” e de “mendigos” que exploravam o resto da sociedade através do “bolsa esmola”? Essas milhões de famílias, à razão de 5 membros cada uma, converteram-se em dezenas e dezenas de milhões de pessoas que sabem muito bem o que significaria devolver o poder a tucanos e pefelês.

E as dezenas de milhões de trabalhadores que passaram a era FHC escutando os tucanos dizerem que era preciso acabar com direitos trabalhistas para viabilizar a geração de empregos no Brasil? Será que toda essa maré humana se esqueceu disso enquanto viu Lula criar 14 milhões de empregos com todos os direitos e com salários mais altos?

Até parece que o povo daria a mesma aprovação a Lula se a economia estivesse no fundo do poço como estava quando Serra, FHC e o resto deles estavam no poder. O atual presidente já teria caído há muito tempo, ou caminharia para o mesmo destino de FHC em 2002.

Note-se que a clareza da população sobre a situação política é tão grande que em 2006, com a mídia colocando imagens de pilhas de dinheiro para acusar Lula no horário nobre da TV e tudo, e com a economia muito menos vigorosa que hoje, o presidente foi reeleito por ampla margem de votos. O povo sabia o rumo em que o país tinha entrado.

O grande erro de Serra, de seu grupo político e de sua mídia foi o de subestimarem o povo, a capacidade do brasileiro de enxergar os fatos e, sobretudo, a melhora impressionante da qualidade de vida desencadeada por medidas e escolhas que a oposição e sua máquina de desinformação contestaram uma a uma com grande estardalhaço por anos a fio.

Como sempre se disse neste espaço, acima de tudo o que acontece nesta campanha eleitoral duas apostas estão se confrontando – uma feita pela direita midiática e outra pela centro-esquerda petista. Os conservadores apostam na burrice popular e os progressistas, no amadurecimento. Ainda que falte muito chão pela frente até 3 de outubro, até agora a aposta conservadora está virando pó.

Tenho certeza de que ao menos Serra já está repetindo para si mesmo a frase de James Carville e se perguntando por que, diabos, foi dar ouvidos ao Otavinho e companhia limitada.

FONTE: Blog da Cidadania

Elio Gaspari na Folha de São Paulo: DEM quer sim acabar com o PROUNI

“Dilma disse a verdade quando acusou o ex-PFL de tentar destruir o programa no STF”.

Elio Gaspari

"Em benefício da qualidade do debate eleitoral, é necessário que seja esclarecida uma troca de farpas entre Dilma Rousseff e José Serra durante o debate do UOL/Folha.

Dilma atacou dizendo o seguinte: "O partido de seu vice entrou na Justiça para acabar com o ProUni. Se a Justiça aceitasse o pedido, como você explicaria essa atitude para 704 mil alunos que dependem do programa?".

Serra respondeu: "O DEM não entrou com processo para acabar com o ProUni. Foi uma questão de inconstitucionalidade, um aspecto".

Em seguida, o deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM, foi na jugular: "Essa informação que ela deu é falsa, mentirosa".

Mentirosa foi a contradita. O ProUni foi criado pela medida provisória 213 no dia 10 de setembro de 2004. Duas semanas depois o PFL, pai do DEM, entrou no Supremo Tribunal Federal com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a iniciativa, e ela tomou o nome de ADI 3314.

O ProUni transferiu para o MEC a seleção dos estudantes que devem receber bolsas de estudo em universidades privadas. Antes dele, elas usufruíam benefícios tributários e concediam gratuidades de acordo com regras abstrusas e preferências de cada instituição ou de seus donos.

Com o ProUni, a seleção dos bolsistas (1 para cada outros 9 alunos) passou a ser impessoal, seguindo critérios sociais (1,5 salário mínimo per capita de renda familiar, para os benefícios integrais), de acordo com o desempenho dos estudantes nas provas do ENEM. Ninguém foi obrigado a aderir ao programa, só quem quisesse continuar isento de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, PIS e COFINS.

O DEM sustenta que são inconstitucionais a transferência da atribuição, o teto de renda familiar dos beneficiados, a fixação de normas de desempenho durante o curso, bem como as penas a que estariam sujeitas as faculdades que não cumprissem essas exigências.

A ADI do ex-PFL está no Supremo, na companhia de outras duas e todas já foram rebarbadas pelo relator do processo, o ministro Carlos Ayres Britto. Se ela vier a ser aceita pelo tribunal, bye bye ProUni.

Quando o PFL/DEM decidiu detonar a medida provisória 213, sabia o que estava fazendo. Sua petição, de 23 páginas, está até bem argumentada. O que não vale é tentar esconder o gesto às vésperas de eleição.

Em 1944, quando o presidente Franklin Roosevelt criou a GI Bill que, entre outras coisas, abria as universidades para os soldados que retornavam da guerra, houve políticos (poucos) e educadores (de peso) que combateram a iniciativa.

Todos tiveram a coragem de sustentar suas posições. Em dez anos, a GI Bill botou 2,2 milhões de jovens veteranos nas universidades, tornando-se uma das molas propulsoras de uma nova classe média americana.

O ProUni não criou as bolsas, ele apenas introduziu critérios de desempenho e de alcance social para a obtenção do incentivo. Desde 2004 o programa já formou 110 mil jovens, e há hoje outros 429 mil cursando universidades. Algum dia será possível comparar o efeito social e qualificador do ProUni na formação da nova classe média brasileira. Nessa ocasião, como hoje, o DEM ficará no lugar que escolheu.”

FONTE: escrito por Elio Gaspari e publicado na Folha de São Paulo

José Serra: “Que repouse em paz”

Há quase um ano nas eleições presidenciais do Chile, quando o candidato neoliberal de lá, empresário e dono entre outras coisas da LAN Chile, Sebastian Piñera venceu as eleições sobre o candidato do Governo Bachelet, a direita brasileira e o PIG soltaram fogos de artifícios comemorando o que imaginavam ser um bom sinal para o retorno do Brasil aos desígnios do caminho Norte Americano.
Viam a vitória de Piñera, uma cria de Pinochet como afirmam os chilenos, a redenção ao estado anterior de coisas e com isso a re-tomada do poder aqui no Brasil pelos Demotucanos nas eleições presidenciais desse ano. Foi mais ou menos quando o guru Ibopiano, o "pai Montenegro" sacando de seu jogo de búzios cibernético, profetizou que Dilma teria apenas 20% de votos no país todo (sic).

Abaixo Altamiro Borges discorre sobre a peça que os deuses aplicaram no "pai Montenegro" quando inverteram sua leitura. Ou se preferirem: "pai Montenegro" entende tanto de buzios como de pesquisas de opinião pública.

Por Altamiro Borges

As últimas pesquisas confirmam que Dilma Rousseff pode vencer a eleição presidencial já no primeiro turno, em 3 de outubro. Até os dois institutos mais alinhados ao tucanato, o Ibope e o Datafolha – que o blogueiro Paulo Henrique Amorim apelidou de Globope e Datafraude – já jogaram a toalha e confessaram a difícil situação de José Serra. O horário eleitoral na rádio e TV, apontado como tábua de salvação do demotucano, acabou afundando ainda mais o candidato.

O ridículo do Globope e do Datafraude

No caso do Ibope, a pesquisa aponta que Dilma Rousseff abriu 24 pontos de vantagem e obrigou o presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro, a fazer autocrítica das suas bravatas. Em entrevista à revista Veja, em agosto de 2009, ele garantiu que “Lula não fará seu sucessor” e que sua candidata não ultrapassaria os 20% dos votos. Agora, na entrevista desta semana da revista IstoÉ, ele admite o “erro” e decreta: “O Brasil já tem um presidente. É Dilma Rousseff”.

Já o Datafolha, numa inusitada virada que mereceria estudo acadêmico e rigorosa averiguação da Justiça Eleitoral, informa que Dilma Rousseff abriu 20 pontos de vantagem sobre seu adversário. O instituto tucano também confirma que ela passou a liderar as sondagens em todas as regiões, inclusive no Sul e Sudeste, e que o José Serra só está crescendo em rejeição. A única capital em que o tucano surge na frente, Curitiba, é motivo de questionamentos sobre o método da pesquisa.

Mídia é o último bastião de Serra

Muita água ainda vai rolar até o dia da eleição. Estrategistas tucanos da mídia venal orientam o candidato a baixar de vez o nível da campanha, assumindo o discurso raivoso da ultradireita. Já o comando demotucano confessa que a mídia é o último bastião de José Serra. A batalha não está decidida e qualquer salto alto pode ser fatal. Apesar da cautela, as pesquisas indicam que o povo não aceita o retrocesso e aposta na continuidade do ciclo progressista aberto pelo governo Lula.

Elas não são um simples atestado de “incompetência” do ex-governador paulista – que está sem discurso, não conseguiu montar palanques estaduais fortes, escolheu um vice “indiota”, e que é arrogante e autoritário. O que as pesquisas revelam é que os brasileiros rejeitam a experiência neoliberal, imposta por FHC e por seu pupilo, Serra, que resultou na explosão de desemprego, na precarizaçao do trabalho, no desmonte do Estado e na humilhação da nação brasileira.

O colapso da “terceira via” neoliberal

A dimensão histórica do desastre demotucano foi bem sintetizada pelo professor José Luis Fiori, no artigo “Requiescat in pace”, publicado no sítio Carta Maior. Para ele, “o que mais chama a atenção não é a derrota em si mesma, é a anorexia ideológica dos últimos herdeiros da ‘terceira via’. Não se trata de incompetência pessoal, nem de um problema de imagem, se trata do colapso final de um projeto político-ideológico eclético e anódino que acabou de maneira inglória: o projeto do neoliberalismo social-democrata. Que repouse em paz!”.

domingo, 29 de agosto de 2010

Miro: Quartelada midiática para salvar Serra

Certo ditado ensina que não se deve tripudiar sobre aquele que está no chão, praticamente sem forças para recuperar-se e levantar.
No jargão popular não se deve "bater em cachorro morto" por motivos óbvios.
O que notamos nestas últimas semanas de Agosto 2010 é uma avalanche de porradas num "cachorro morto" que o PIG em sua totalidade vendia como o verdadeiro salvador da pátria, aquele que passou a vida inteira se preparando para assumir o mais elevado posto da república, aquele que sempre foi, sem nunca antes ter sido, o magistral José Serra.
Ou Zé, como seus marketeiros resolveram apelidar o bom rapaz no intuito de mostrar que ele é um homem do povo(sic).

Seria cômico se não fosse trágico. O chocolate que ele, o Zé está levando, não é pouca coisa não e principalmente seus aliados políticos, dentre eles o maior de todos, o PIG não serão tão facilmente esquecidos pelo povão que irá ratificar o seu desejo de apoio ao Governo que se finda.
Os lesa-pátria pagarão um alto preço por brincarem com o direito democrático do cidadão.

Porém o pior é ver o próprio PIG, maior apoiador e incentivador da campanha do Zé, agora dar-lhe as costas e fazer justamente o inverso do que ensina o ditado popular: bater em cachorro morto. Lamentável para o Zé e não menos pior para o PIG.

Abaixo Post do Miro:

Reproduzo artigo de Gilson Caroni Filho, publicado no sítio Carta Maior:

O que estamos assistindo agora, com as tentativas tucanas de plantar escândalos e judicializar a campanha, é a uma gigantesca operação de engodo de candidatura sem perspectiva. Secundado pela mídia que sempre o apoiou, e hoje se declara "independente", Serra não tem escrúpulos em conspurcar a credibilidade do jogo político às vésperas de uma eleição presidencial. O que ele e seus sócios do PPS e do DEM estão querendo fazer é um autêntico golpe de mão, uma quartelada midiática para evitar que a sociedade possa comparar dois projetos de país.

Estado por estado as notícias são parecidas. Há um rápido processo de cristianização do candidato tucano. No Nordeste é um arraso: quem fez oposição a Lula nos últimos quatro anos, desembarca da nau serrista para cuidar da própria sobrevivência política. Nem mais em São Paulo, estado que o elegeu senador, prefeito e governador, Serra voa em céu de brigadeiro. O repúdio não se dirige apenas contra sua melancólica figura, mas ao estilo de governo posto em prática nos oito anos em que o neoliberalismo vigorou no país. Há algo de covarde na recusa de uma comparação retrospectiva, mas também há algo de didático no exame das decisões de um ator político.

Quando se nega a comparar o governo a que pertenceu com a gestão petista, Serra afirma “que não faz política olhando para o retrovisor". Certamente preferia que tudo fosse diferente, mas, no beco sem saída em que se encontra, não é possível acertar o caminho com manobras abruptas. Seu trem em marcha ré colidiria com os desastres da política econômica de FHC, o padrinho a ser ocultado.

Vamos aos fatos: a abertura comercial, promovida pelo consórcio demo-tucano, não trouxe ganhos de competitividade à indústria nacional. Pelo contrário, causou um efeito devastador em setores, como o têxtil, transformando segmentos que produziam localmente em meros importadores de insumos. De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), depois de oito anos de economia submetida à concorrência internacional, sem instituição de políticas públicas adequadas, as conseqüências apareceram nos resultados negativos da balança comercial, em menos geração de emprego e renda no Brasil.

Os pesquisadores concluíram que a importação de matérias-primas provocou o esgarçamento dos setores intermediários de produção, aqueles encarregados de produzir os insumos para os fabricantes de produtos finais. A análise dos resultados na década de 1990 demonstrou maior competitividade na produção de commodities e vulnerabilidade das atividades de maior conteúdo tecnológico, aquelas com maior valor agregado e responsáveis pela geração de mais postos de trabalho. Nesse contexto, cabe a pergunta: como Serra teria condições de apresentar sua política industrial, sem renegar totalmente o pensamento do PSDB?

Seguindo os preceitos do Consenso de Washington, a possibilidade de o Brasil tornar-se exportador de produtos básicos, que seriam processados em outros países, e importados posteriormente, era o que se afigurava como horizonte à época. Na indústria química, o crescimento das importações levou à desativação de centros de produção de insumos. Princípios ativos para a produção de medicamentos que, nos anos 80, começaram a ser produzidos aqui, com a abertura desregulada, passaram a ser fornecidos pelos Estados Unidos e por países europeus. Nos tempos ministeriais de Serra, a saúde que interessava era a da indústria farmacêutica internacional. Não lhe peçam, portanto, para apresentar propostas programáticas para o setor. Além das platitudes, o vazio é total.

No campo energético, o desastre não foi menor. A decisão de vender usinas prontas, em plena operação, sem ao menos abrir aos investidores a oportunidade, e o consequente risco, do empreendimento novo, gerou uma situação de insegurança energética, com 70% do mercado de distribuição e boa parte da geração privatizados. Sem agregar energia nova, o governo de FHC pensou em esquartejar Furnas quando o movimento mundial ditava fusões. Não faltavam, ainda, os defensores da venda da Chesf, detentora de grandes reservatórios - alguns de alta importância ecológica e social - antes de se regulamentar o uso múltiplo das águas. O que Serra teria a dizer sobre o descalabro? Por que a doce e ética Marina silencia sobre o tema?

Por que não discutir sobre as consequencias desastrosas da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, programada para se instalar em 2005 e que, fatalmente, nos levaria a novo pacto colonial?

Serra, o “Zé que joga pesado" não pode defender o passado sem deixar de fazer um elogio à rasteira da soberania nacional. Por isso, dele só se pode esperar a pregação golpista, o denuncismo como método. E um genérico de Elba Ramalho em seu programa eleitoral. O ex-presidente da UNE jogou sua biografia no ralo das circunstâncias. Da soma dos fatores a que se submeteu, deixando de fora os nove, sobra rigorosamente nada.

FONTE: Blog do Miro

sábado, 28 de agosto de 2010

Carlos Dória: ELEIÇÕES - Serra: "Quem te viu e quem te ve"

Já que o PIG com todas as suas manipulações e factóides não está conseguindo alavancar a candidatura do Serra,este agora tornou-se uma "vivandeira dos quartéis".Há poucos dias falou em liberdade de imprensa e que o governo Lula censura os meios de comunicação.
Agora exigiu que seu encontro com a milicada, com o grande deputado democrata Bolsonaro a tiracolo, fosse fechado a imprensa.A esse respeito, o Clube de Aeronáutica emitiu a seguinte nota:

“A assessoria de imprensa do Clube da Aeronáutica afirmou que o fechamento do evento à imprensa foi a pedido da assessoria do candidato. “Eles estabeleceram as regras do jogo. Eles pediram. Nós queríamos que fosse aberto”, afirmou o assessor do clube, coronel Paulo F. Tavares.”

Vejam o que o Serra declarou, evocando a república sindicalista: (abre aspas)

“— Em 64, uma grande motivação para a derrubada do Jango foi a república sindicalista.

Lembra disso? Não tinha nada disso, isso não tinha a menor possibilidade.

Eles fizeram agora a verdadeira república sindicalista”.(fecha aspas)

Este brilhante comentário foi publicado pelo jornal O Globo na sua edição de hoje e que evoca o passado do golpismo militar e da direita, agora contra o governo Lula e o PT.Será que ele está achando que em pleno século XXI, ainda há espaço para quarteladas?
E eu que estive no comício da Central do Brasil assistindo o Serra, como presidente da UNE, pronunciar um violento discurso, ao lado do Jango, do Brizola, do Arraes, do Julião, etc, defendendo o governo do Jango Goulart,só posso dizer uma frase bastante popular: "Quem te viu e quem te vê". Pior que isso, é ouvir o Gabeira, que participou do sequestro do embaixador americano, declarar que a juventude que estava arriscando sua vida, lutando contra a ditadura, queria implantar uma ditadura comunista.Por falar nisso, não vejo a imprensa golpista chamar o Gabeira de terrorista, o mesmo acontecendo em relação ao Serra, que fez parte do grupo Ação Popular.Por aí se ve como o PIG é imparcial. Quero ver esse PIG (os mervais, os jabores, etc), criticar esta censura à imprensa imposta pelo Serra, a sua visita ao Clube de Aeronáutica.
Enquanto isso, como dizia o Ibrahim Sued, "enquanto os cães ladram, (e como ladram os 5% que acham o governo Lula péssimo, na certa leitores da Veja),a caravana passa".

Carlos Dória

Ditador Serra proibe imprensa em evento com militares


José Serra (PSDB) fez palestra esta tarde no Clube da Aeronáutica, no Rio, para militares da reserva e membros dos clubes militares. Mas o candidato proibiu a entrada da imprensa, censurando o trabalho dos jornalistas.

Apesar de credenciados pelo Clube da Aeronáutica, os jornalistas presentes foram avisados pela assessoria de imprensa de Serra de que o encontro, de natureza pública, “seria fechado”.

A assessoria de imprensa do Clube da Aeronáutica afirmou que o fechamento do evento à imprensa foi a pedido da assessoria do candidato. “Eles estabeleceram as regras do jogo. Eles pediram. Nós queríamos que fosse aberto”, afirmou o assessor do clube, coronel Paulo F. Tavares.

Com o ato, Serra jogou no lixo seu discurso feito no Congresso Nacional dos Jornais, defendendo a liberdade de imprensa, quando afirmou “ser contra qualquer restrição à atividade jornalística”. Naquela ocasião, após o discurso, ele já havia se recusado a responder três perguntas de repórteres.

Agora fica a pergunta: que tipo de conspiração Serra quis apresentar aos militares, que a população brasileira não possa ouvir? (Com informações do portal Ig)

por Zé Augusto



NavalhaO que o Serra falou reservadamente aos sócios do Clube da Aeronáutica ?

O que ele foi fazer lá ?

Homenagear o Carlos Lacerda, que batia na porta desse mesmo Clube para derrubar o Vargas e o Jango ?

A quem o Serra se dirigiu, em segredo  ?

Ao Brigadeiro Delio Jardim de Matos, da República do Galeão que desestabilizou Vargas ?

Ao Brigadeiro Burnier – responsável pela proteção ao filho da Zuzu Angel – , no Centro de Informações da Aeronáutica  ?

Por que em segredo ?

O que um candidato a Presidente tem a dizer a sócios de um clube militar que não possa dizer ao eleitor, abertamente ?

Que a Dilma vai instalar a república sindicalista-petebo-comunista ?

Que ela é o Jango de saias ?

O Serra foi lá convocar o Golpe de Estado da Direita ? (*)

Que ele sabe como as FARCs vão dominar o Brasil ?

Que, depois do Ministério do Acarajé e do Ministério do Cano ele tem um plano secreto para produzir a bomba atômica na Bolívia ?

O ministro serrista Nelson Jobim, da Defesa, deveria exigir que seu colega de apartamento e fellow-traveller revele o que o Serra disse lá dentro, a portas fechadas.

A palestra de Serra num clube de militares pode ser uma ameaça à Segurança Nacional.

Paulo Henrique Amorim 


FONTE: Conversa Afiada - Blog Amigos do Presidente Lula - Portal IG

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Importante Registro! Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada


“Dossiê do sigilo” nasceu com
filha do Serra e irmã de Dantas

Dantas e a irmã deixam o PF Hilton

Convém não comer gato por lebre.

O “dossiê do sigilo” é a mais recente tentativa de colar na Dilma uma das baixarias do Serra – a Catanhêde, na Folha (*), pág. 2, chama de “banditismo”.

No tempo em que os bichos falavam e não havia blogosfera, o Serra e o PiG (**) conseguiram, em 2006, transformar a compra de ambulâncias superfaturadas pelo Ministério da Saúde, na gestão Serra – Barjas Negri – Marcelo Itagiba na fotografia da pilha de dinheiro dos aloprados.

Com a notável colaboração do delegado Bruno (onde anda o delegado Bruno ?), uma repórter da Folha (*) e um repórter da Rede Globo.

Isso colou, na época.

Com a providencial colaboração do Ali Kamel, a Globo, na véspera da eleição no primeiro turno, ignorou a queda do avião da Gol para mostrar por 54 minutos a foto do dinheiro.

E o Ali Kamel levou a eleição presidencial para o segundo turno.

Clique aqui para ler “O primeiro golpe já houve. Falta o segundo”.

A baixaria corrente consiste em atribuir à Dilma a tentativa de abrir  os dados do Imposto de Renda do Preciado.

O PT vai entrar à Justiça para flagrar Serra nesse ato de baixaria explícita.

Clique aqui para ler sobre o “tiro no pé” e sobre a inutilidade de se conhecer mais ainda sobre as atividades do senhor Preciado.

Mas, não convém chamar papagaio de meu louro.

O dossiê começou lá atrás, quando se soube que vem aí um livro bomba que descreverá os porões da privataria do Governo Serra/FHC.

E quando reacendeu a discussão sobre a sociedade da filha do Serra com a irmã do Daniel Dantas.

Clique aqui para ver os documentos que unem a filha do Serra à irmã do Dantas, numa empresa em Miami (em Miami !).

Quando soube disso, o Serra entrou em parafuso.

Correu um frio nas costas gordurosas do PiG (**) e foi esse Deus nos acuda.

Então, vamos dar os nomes aos bois.

Vamos ver onde começa essa “crise do dossiê”:


Livro desnuda a relação de Serra com Dantas.
É por isso que Serra se aloprou


Publicado pelo Conversa Afiada em 04/06/2010

A bomba explodiu no colo do Serra


O Conversa Afiada recebeu de amigo navegante mineiro o texto que serve de introdução ao livro “Os porões da privataria” de Amaury Ribeiro Jr.

É um trabalho de dez anos de Amaury Ribeiro Jr, que começou quando ele era do Globo e se aprofundou com uma reportagem na IstoÉ sobre a CPI do Banestado.

Não são documentos obtidos com espionagem – como quer fazer crer o PiG (**), na feroz defesa de Serra.

É o resultado de um trabalho minucioso, em cima de documentos oficiais e de fé pública.

Um dos documentos  Amaury Ribeiro obteve depois de a Justiça lhe conceder “exceção da verdade”, num processo que Ricardo Sergio de Oliveira move contra ele. E perdeu.

O processo onde se encontram muitos documentos foi encaminhado à Justiça pelo notável tucano Antero Paes e Barros e pelo relator da CPI  do Banestado, o petista José Mentor.

Amaury mostra, pela primeira vez, a prova concreta de como, quanto e onde Ricardo Sergio recebeu pela privatização.

Num outro documento, aparece o ex-sócio de Serra e primo de Serra, Gregório Marin Preciado no ato de pagar mais de US$ 10 milhões a uma empresa de Ricardo Sergio.

As relações entre o genro de Serra e o banqueiro Daniel Dantas estão esmiuçadas de forma exaustiva nos documentos a que Amaury teve acesso. O escritório de lavagem de dinheiro Citco Building, nas Ilhas Virgens britânicas, um paraíso fiscal, abrigava a conta de todo o alto tucanato que participou da privataria.

Não foi a Dilma quem falou da empresa da filha do Serra com a irmã do Dantas. Foi o Conversa Afiada.
Que dedica a essa assunto – Serra com Dantas – uma especial atenção.

Leia a introdução ao livro que aloprou o Serra:

Os porões da privataria


Quem recebeu e quem pagou propina. Quem enriqueceu na função pública. Quem usou o poder para jogar dinheiro público na ciranda da privataria. Quem obteve perdões escandalosos de bancos públicos. Quem assistiu os parentes movimentarem milhões em paraísos fiscais. Um livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou nas mais importantes redações do país, tornando-se um especialista na investigação de crimes de lavagem do dinheiro, vai descrever os porões da privatização da era FHC. Seus personagens pensaram ou pilotaram o processo de venda das empresas estatais. Ou se aproveitaram do processo. Ribeiro Jr. promete mostrar, além disso, como ter parentes ou amigos no alto tucanato ajudou a construir fortunas. Entre as figuras de destaque da narrativa estão o ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o próprio Serra e três dos seus parentes: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Todos eles, afirma, tem o que explicar ao Brasil.


Ribeiro Jr. vai detalhar, por exemplo, as ligações perigosas de José Serra com seu clã. A começar por seu primo Gregório Marín Preciado, casado com a prima do ex-governador Vicência Talan Marín. Além de primos, os dois foram sócios. O “Espanhol”, como (Marin) é conhecido, precisa explicar onde obteve US$ 3,2 milhões para depositar em contas de uma empresa vinculada a Ricardo Sérgio de Oliveira, homem-forte do Banco do Brasil durante as privatizações dos anos 1990. E continuará relatando como funcionam as empresas offshores semeadas em paraísos fiscais do Caribe pela filha – e sócia — do ex-governador, Verônica Serra e por seu genro, Alexandre Bourgeois. Como os dois tiram vantagem das suas operações, como seu dinheiro ingressa no Brasil …


Atrás da máxima “Siga o dinheiro!”, Ribeiro Jr perseguiu o caminho de ida e volta dos valores movimentados por políticos e empresários entre o Brasil e os paraísos fiscais do Caribe, mais especificamente as Ilhas Virgens Britânicas, descoberta por Cristóvão Colombo em 1493 e por muitos brasileiros espertos depois disso. Nestas ilhas, uma empresa equivale a uma caixa postal, as contas bancárias ocultam o nome do titular e a população de pessoas jurídicas é maior do que a de pessoas de carne e osso. Não é por acaso que todo dinheiro de origem suspeita busca refúgio nos paraísos fiscais, onde também são purificados os recursos do narcotráfico, do contrabando, do tráfico de mulheres, do terrorismo e da corrupção.


A trajetória do empresário Gregório Marin Preciado, ex-sócio, doador de campanha e primo do candidato do PSDB à Presidência da República mescla uma atuação no Brasil e no exterior. Ex-integrante do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), então o banco público paulista – nomeado quando Serra era secretário de planejamento do governo estadual, Preciado obteve uma redução de sua dívida no Banco do Brasil de R$ 448 milhões (1) para irrisórios R$ 4,1 milhões. Na época, Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor da área internacional do BB e o todo-poderoso articulador das privatizações sob FHC.


(Ricardo Sergio é aquele do “estamos no limite da irresponsabilidade. Se  der m… “, o momento Péricles de Atenas do Governo do Farol – PHA)

Ricardo Sérgio também ajudaria o primo de Serra, representante da Iberdrola, da Espanha, a montar o consórcio Guaraniana. Sob influência do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, mesmo sendo Preciado devedor milionário e relapso do BB, o banco também se juntaria ao Guaraniana para disputar e ganhar o leilão de três estatais do setor elétrico (2).


O que é mais inexplicável, segundo o autor, é que o primo de Serra, imerso em dívidas, tenha depositado US$ 3,2 milhões no exterior através da chamada conta Beacon Hill, no banco JP Morgan Chase, em Nova York.  É o que revelam documentos inéditos obtidos dos registros da própria Beacon Hill em poder de Ribeiro Jr. E mais importante ainda é que a bolada tenha beneficiado a Franton Interprises. Coincidentemente, a mesma empresa que recebeu depósitos do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira, de seu sócio Ronaldo de Souza e da empresa de ambos, a Consultatun. A Franton, segundo Ribeiro, pertence a Ricardo Sérgio.


A documentação da Beacon Hill levantada pelo repórter investigativo radiografa uma notável movimentação bancária nos Estados Unidos realizada pelo primo supostamente arruinado do ex-governador. Os comprovantes detalham que a dinheirama depositada pelo parente do candidato tucano à Presidência na Franton oscila de US$ 17 mil (3 de outubro de 2001) até US$ 375 mil (10 de outubro de 2002). Os lançamentos presentes na base de dados da Beacon Hill se referem a três anos. E indicam que Preciado lidou com enormes somas em dois anos eleitorais – 1998 e 2002 – e em outro pré-eleitoral – 2001. Seu período mais prolífico foi 2002, quando o primo disputou a presidência contra Lula. A soma depositada bateu em US$ 1,5 milhão.


O maior depósito do endividado primo de Serra na Beacon Hill, porém, ocorreu em 25 de setembro de 2001. Foi quando destinou à offshore Rigler o montante de US$ 404 mil. A Rigler, aberta no Uruguai, outro paraíso fiscal, pertenceria ao doleiro carioca Dario Messer, figurinha fácil desse universo de transações subterrâneas. Na operação Sexta-Feira 13, da Polícia Federal, desfechada no ano passado, o Ministério Público Federal apontou Messer como um dos autores do ilusionismo financeiro que movimentou, através de contas no exterior, US$ 20 milhões derivados de fraudes praticadas por três empresários em licitações do Ministério da Saúde.

O esquema Beacon Hill enredou vários famosos, entre eles o banqueiro Daniel Dantas. Investigada no Brasil e nos Estados Unidos, a Beacon Hill foi condenada pela justiça norte-americana, em 2004, por operar contra a lei.


Percorrendo os caminhos e descaminhos dos milhões extraídos do país para passear nos paraísos fiscais, Ribeiro Jr. constatou a prodigalidade com que o círculo mais íntimo dos cardeais tucanos abre empresas nestes édens financeiros sob as palmeiras e o sol do Caribe. Foi assim com Verônica Serra. Sócia do pai na ACP Análise da Conjuntura, firma que funcionava em São Paulo em imóvel de Gregório Preciado, Verônica começou instalando, na Flórida, a empresa Decidir.com.br,  em sociedade com Verônica Dantas, irmã e sócia  do banqueiro Daniel Dantas, que arrematou várias empresas nos leilões de privatização realizados na era FHC.


Financiada pelo banco Opportunity, de Dantas, a empresa possui capital de US$ 5 milhões. Logo se transfere com o nome Decidir International Limited para o escritório do Ctco Building, em Road Town, ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas. A Decidir do Caribe consegue trazer todo o ervanário para o Brasil ao comprar R$ 10 milhões em ações da Decidir do Brasil.com.br, que funciona no escritório da própria Verônica Serra, vice-presidente da empresa. Como se percebe, todas as empresas tem o mesmo nome. É o que Ribeiro Jr. apelida de “empresas-camaleão”. No jogo de gato e rato com quem estiver interessado em saber, de fato, o que as empresas representam e praticam é preciso apagar as pegadas. É uma das dissimulações mais corriqueiras detectada na investigação.


Não é outro o estratagema seguido pelo marido de Verônica, o empresário Alexandre Bourgeois. O genro de Serra abre a Iconexa Inc no mesmo escritório do Ctco Building, nas Ilhas Virgens Britânicas, que interna dinheiro no Brasil ao investir R$ 7,5 milhões em ações da Superbird. com.br que depois muda de nome para  Iconexa S.A…Cria também a Vex capital no Ctco Building, enquanto Verônica passa a movimentar a Oltec Management no mesmo paraíso fiscal. “São empresas-ônibus”, na expressão de Ribeiro Jr., ou seja, levam dinheiro de um lado para o outro.


De modo geral, as offshores cumprem o papel de justificar perante o Banco Central e à Receita Federal a entrada de capital estrangeiro por meio da aquisição de cotas de outras empresas, geralmente de capital fechado, abertas no país. Muitas vezes, as offshores compram ações de empresas brasileiras em operações casadas na Bolsa de Valores. São frequentemente operações simuladas tendo como finalidade única internar dinheiro nas quais os procuradores dessas offshores acabam comprando ações de suas próprias empresas… Em outras ocasiões, a entrada de capital acontecia através de sucessivos aumentos de capital da empresa brasileira pela sócia cotista no Caribe, maneira de obter do BC a autorização de aporte do capital no Brasil. Um emprego alternativo das offshores é usá-las para adquirir imóveis no país.


Depois de manusear centenas de documentos, Ribeiro Jr. observa que Ricardo Sérgio, o pivô das privatizações — que articulou os consórcios usando o dinheiro do BB e do fundo de previdência dos funcionários do banco, a Previ, “no limite da irresponsabilidade” conforme foi gravado no famoso “Grampo do BNDES” — foi o pioneiro nas aventuras caribenhas entre o alto tucanato. Abriu a trilha rumo às offshores e as contas sigilosas da América Central ainda nos anos 1980. Fundou a offshore Andover, que depositaria dinheiro na Westchester, em São Paulo, que também lhe pertenceria…


Ribeiro Jr. promete outras revelações. Uma delas diz respeito a um dos maiores empresários brasileiros, suspeito de pagar propina durante o leilão das estatais, o que sempre desmentiu. Agora, porém, existe evidência, também obtida na conta Beacon Hill, do pagamento da US$ 410 mil por parte da empresa offshore Infinity Trading, pertencente ao empresário, à Franton Interprises, ligada a Ricardo Sérgio.


(1)A dívida de Preciado com o Banco do Brasil foi estimada em US$ 140 milhões, segundo declarou o próprio devedor. Esta quantia foi convertida em reais tendo-se como base a cotação cambial do período de aproximadamente R$ 3,2 por um dólar.

(2)As empresas arrematadas foram a Coelba, da Bahia, a Cosern, do Rio Grande do Norte, e a Celpe, de Pernambuco.

DIREITA: À BEIRA DO PRECIPÍCIO

“Eleições atualizam a correlação de forças no legislativo. Isso vai significar, neste ano, na redução das bancadas dos partidos do núcleo da direita (PSDB e DEM) e no fortalecimento da base parlamentar da presidenta Dilma Rousseff.

Por José Carlos Ruy

O tempo político transcorre, nos parlamentos, em ritmo mais lento do que as mudanças vividas nas sociedades. Nas democracias de modelo ocidental, estas casas são como sítios arqueológicos de correlações de forças que existiram no passado. Principalmente no Senado pois, na Câmara dos Deputados, isto é relativizado. Além da renovação a cada quatro anos, ali existe a possibilidade da sintonia mais fina de muitos deputados e partidos que fazem daquela Casa uma espécie de caixa de ressonância das inquietações populares.

Já o Senado, com renovação mais lenta (os mandatos são de oito anos, e as eleições ocorrem a cada quatro anos, trocando 1/3 dos mandatos em uma e 2/3 em outra) e média de idade dos senadores mais alta, pode funcionar como um contrapeso para mudanças políticas maiores, contrapeso formado justamente pela permanência da correlação de forças ultrapassadas e que, devido aos longos mandatos de oito anos, mantém uma sobrevida em que o passado pode travar o futuro.

Este é o sentido da alteração dos objetivos eleitorais de demos e tucanos que, segundo os jornais, jogaram a toalha nesta eleição presidencial que as pesquisas de opinião dão como perdida para o candidato da oposição José Serra. Passam a privilegiar a disputa para o Senado, como recomendam a seus correligionários caciques da direita, em particular Fernando Henrique Cardoso e César Maia.

A escolha de novos senadores na eleição deste ano vai registrar o último suspiro da conjuntura política de 2002 ao renovar os mandatos ou mandar para casa os 54 mandatários eleitos naquele ano. Esta escolha se dará numa conjuntura nova e profundamente alterada pelas mudanças ocorridas desde que o presidente Lula assumiu, em 2003. O temor do cardinalato demo-tucano é perder aquelas posições que, fincadas na correlação de forças já ultrapassada de 2002, foram o bastião conservador contra as mudanças.

O ajuste da composição da Câmara dos Deputados e, principalmente, do Senado, com a nova correlação de forças que vai se constituindo, será - tudo indica - devastador para os partidos que formam o núcleo da oposição de direita, cujo desempenho é declinante desde 1998.

DECLÍNIO ELEITORAL

Em 1998 o então PFL (atual DEM) elegeu 90 deputados federais; foi caindo de eleição a eleição, chegando a 54 em 2006; calcula-se que agora elegerá, com sorte, 40 deputados federais, podendo perder o status de partido grande. O PSDB vive sorte semelhante: elegeu 83 em 1998 e 56 em 2006, e há quem considere que, no máximo, vai manter esse número na eleição deste ano.

No Senado, o cenário se repete. O DEM que, como PFL, elegeu cinco senadores em 1998, passou para 14 em 2002, caiu para seis em 2006 e, este ano, poderá eleger entre quatro ou cinco. O PSDB, por sua vez, passou de quatro em 1998 para oito em 2002, cinco em 2006 e este ano poderá eleger sete.

No saldo final, segundo a consultoria Patri, os partidos que apoiam a candidatura de Dilma Rousseff poderão formar uma base parlamentar de 342 deputados e 54 senadores, contra uma bancada da direita neoliberal e conservadora de 135 deputados e 31 senadores. São números que, se forem confirmados pelas urnas, darão uma confortável maioria parlamentar (2/3 nas duas casas legislativas) para o novo governo que, como as pesquisas indicam, será chefiado por Dilma Rousseff.

A REAÇÃO DA DIREITA

Se a eleição deste ano terá uma particularidade, será a de registrar as mudanças ocorridas nos últimos oito anos. Elas são indicadas pelas tendências que as pesquisas eleitorais mostram e também pelos movimentos tectônicos que acometeram a oligarquia neoliberal, cujas bases que, no passado, foram verdadeiros currais eleitorais, hoje, migram para posições mais autônomas de afirmação democrática. Migração já visível nas últimas eleições, fazendo minguar principalmente as bases do DEM, com ênfase no interior do Nordeste.

A campanha eleitoral apenas confirma essa tendência. Há aqueles que desistiram de concorrer, como mostra o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). O DEM é o partido que tem maior número de deputados federais nessa situação pois temem o fracasso nas urnas. Da bancada de 56 deputados federais que o partido tem hoje, 13 desistiram. É um número alto: entre os 513 deputados que compõem a Câmara, apenas 34 não vão concorrer este ano, e os demos constituem mais de 1/3 deste número.

Outro exemplo da derrocada ocorre em Pernambuco onde o tucano infiltrado no PMDB, o senador Jarbas Vasconcelos, candidato ao governo do Estado, foi literalmente abandonado pela maioria dos prefeitos que o PSDB tem no estado. Dos 17 prefeitos tucanos em Pernambuco, 14 apóiam a candidatura do governador Eduardo Campos (PSB) à reeleição. "Aqui", reclama Jarbas, os tucanos "só têm criado dificuldade".

SENHA PARA O GOLPE

No passado, quando viveu situação semelhante, a resposta dos conservadores não veio através das urnas, mas do golpe de Estado.

A última eleição democrática ocorrida no Brasil antes de 1964 é um exemplo. Ela ocorreu em 7 de outubro de 1962 e confirmou a tendência de avanço político vivida desde o início da década de 1950, que se traduzia na diminuição da votação nos partidos conservadores e no grande crescimento do Partido Trabalhista Brasileiro, que era então o estuário das esperanças de mudança. E também do voto nas coligações, configurando o fracasso da organização partidária montada para garantir a hegemonia conservadora desde o final da ditadura do Estado Novo.

A eleição de 1962 revelou o crescimento mais acelerado do PTB em relação aos partidos conservadores (Partido Social Democrático - PSD, e União Democrática Nacional - UDN). Entre a eleição de 1950 e a de 1962, o número votos do PSD cresceu 8% e da UDN, 23%. O PTB teve mais votos que a UDN (1,7 milhão contra 1,6 milhão dos udenistas) e um avanço de 37% naqueles doze anos. Os votos em coligações explodiram: passaram de 1,6 milhão em 1950 a 5,9 milhões em 1962, representando um crescimento de 277%.

A direita percebeu aqueles resultados como uma grave ameaça para seus partidos (PSD e UDN), representada pelo fortalecimento da tendência de uma mudança profunda na correlação de forças. O presidente da República era o petebista João Goulart, ligado aos sindicatos e sensível às demandas populares; e a luta por reformas sociais crescia, refletindo-se naqueles resultados eleitorais. O Brasil era outro, ainda fortemente agrário, onde o poder das oligarquias latifundiárias era muito forte e os avanços democráticos enfrentavam os obstáculos representados pela aliança de proprietários que unia fazendeiros, banqueiros, industriais, parcela considerável do alto clero e da cúpula das Forças Armadas, além de representantes do imperialismo.

Naquele quadro, a avaliação que o general Golbery do Couto e Silva fez do resultado da eleição de 1962 foi uma espécie de senha para a articulação golpista que levou à derrubada de João Goulart em 1964 e ao início da ditadura que durou duas décadas. Ele enxergou uma tendência "comuno-petebista" que inviabiliza uma opção eleitoral para os conservadores, impondo uma saída à margem das instituições, como declarou ao jornal norte-americano The New York Times.

O FANTASMA DE HUGO CHAVEZ

Em nossos dias, a direita conservadora revive aquele mesmo desconforto, mas sua capacidade de ameaçar - e de mobilizar forças para transformar rosnados em fatos concretos - parece menor. À beira do precipício, a cúpula do PSDB, partido do candidato neoliberal José Serra, deixa a disputa eleitoral em segundo plano e prioriza as eleições para governador em quatro estados (São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás) e para o Senado. Há mesmo, entre os tucanos, aqueles cujo realismo sugere a avaliação pessimista da iminência do naufrágio do partido se não tiver sucesso nestas eleições para governadores.

A opção pelo Senado tem para eles o sentido estratégico de manter ali sua trincheira contra as mudanças. Os jornais dizem que Fernando Henrique Cardoso tem sido claro a seus interlocutores dizendo que precisam manter uma bancada de senadores capaz de ser um contrapeso contra as ações da Presidência da República. A experiência dos últimos oito anos mostra exatamente o que o ex-presidente tucano quer dizer: manter no Senado a capacidade para impedir as mudanças e uma tribuna através da qual possam difundir mentiras com o objetivo de mobilizar a parte da população sensível a seu discurso retrógrado.

Outro dirigente da direita que faz uma desenvolta defesa dessa opção é o ex-prefeito carioca César Maia, do DEM que, como FHC, brande como ameaça a imagem do presidente venezuelano Hugo Chávez - o demônio da hora da direita - e diz, claramente, que o "jogo" agora é “o controle do Senado”.

Além de manter a presidência da República e a perspectiva de continuar e fazer avançar as mudanças iniciadas sob Lula, a eleição deste ano precisa dar outro passo fortalecendo as forças da mudança na Câmara dos Deputados e no Senado, derrotando a direita e seu plano de preservar sua capacidade de criar obstáculos para o avanço social e democrático no Brasil.”

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Miro: O contrabando ideológico da mídia golpista

Reproduzo artigo de Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:

Se existe um assunto que absolutamente não me apetece é essa conversa de que no Brasil se encontram ameaçadas a liberdade de expressão, liberdade de opinião e liberdade de imprensa. Primeiro porque a confusão é grande e nem o editorialista nem o comentarista designado para o mister faz o menor esforço para separar uma de outra, é tudo jogado no mesmo saco das intenções veladas.

Para aproveitar o bordão presidencial, tomo a liberdade de, solene como sói acontecer, declarar que nunca antes na história deste país se usufruiu de tanta liberdade – opinião, expressão, imprensa – como nos dias atuais. E nem se precisa ir muito longe para autenticar essa minha percepção já que se trata de algo facilmente verificável.

Se o leitor desejar fazer uma amostragem na seara das revistas semanais de informação, basta acessar o acervo digital de Veja ou de Época e, em rápido cotejo, verificará diversas matérias de capa ora condenando o presidente, ora o seu governo, ora o seu partido, ora a sua coligação. Algumas das recentes edições do carro-chefe da Editora Abril trouxeram na capa, sempre carregando na cor vermelho-escarlate, chamadas como “Lula, o mito, a fita e os fatos” (edição 2140), “O monstro do radicalismo” (edição 2173), “Ele cobra 12% de comissão para o PT” (edição 2156) ou “Caiu a casa do tesoureiro do PT” (edição 2155).

E até o mensalão candango, que engolfou a última cidadela governamental do Democratas em fins de 2009, mereceu capa que longe de trazer à mente o partido demista fazia nada sutil remissão ao partido do presidente. Oportuno recolher a desfaçatez com que vistoso colunista da revista Veja (26/11/2009) se referiu à candidata governista. Seu texto abria assim: “A fraude que virou candidata à presidência anda propondo que o país compare Fernando Henrique a Lula…”

Ficção e realidade

O mesmo poderá ser feito com os jornais de maior tiragem diária do país, como O Globo, a Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo. São mais de oito anos de luta cerrada, quando não agredido em editoriais sob medida para criticar essa ou aquela frase do presidente, sempre ânimo redobrado para fustigar essa ou aquela política pública.

Vejamos o que escreve o principal comentarista de política do jornal O Globo, Merval Pereira. Em apenas dois meses não deixou de vociferar o que crê seja digno de nota e remissões: a alcunha que criou para Dilma Rousseff, a laranja eleitoral. Destaco os seguintes excertos de sua coluna em que o tema é temperado e retemperado pelo maduro articulista:

* “Os discursos nas convenções do PT e do PSDB, no fim de semana passado, revelam com clareza qual será o tom da campanha presidencial daqui para a frente, quando já temos candidatos oficiais e não simples pré-candidatos, como a esdrúxula legislação eleitoral definia até então. De um lado, a candidata oficial, Dilma Rousseff, transformada pelo próprio Lula em sua ‘laranja’ eleitoral; de outro, o tucano José Serra atacando o PT, a falta de experiência da adversária, mas só se referindo a Lula de maneira indireta.” (“Meu nome é Dilma”, 15/6/2010)

* “A verdade, porém, é que mesmo que a candidata oficial Dilma Rousseff alegue que não compartilha essas propostas, elas fazem parte de uma espécie de código genético da ala mais radical do petismo, da qual ela já era figura proeminente antes mesmo de surgir do bolso do colete de Lula para ser impingida ao eleitorado como sua ‘laranja eleitoral’.” (“Contradições”, 06/7/2010)

* “A candidata petista, por seu turno, tem alguns desafios importantes pela frente, o principal deles o de convencer o eleitorado de que o seu eventual primeiro mandato será o terceiro de Lula, o que pode transformá-la em uma mera ‘laranja eleitoral’ do seu mentor. O que pode agradar a certo eleitorado, e afastar outro.” (“O predomínio eleitoral”, 16/7/2010)

* “Serra está à procura de temas que sirvam para atacar o governo Lula sem atacar o próprio, enquanto Dilma a cada dia valoriza mais o papel de ‘laranja eleitoral’ de Lula, recusando-se a aprofundar o debate de políticas governamentais, passando apenas a única mensagem que interessa, a da continuidade do governo Lula.” (“Quem é quem”, 11/8/2010)

* “É também importante frisar que, àquela altura, ainda com sequelas do mensalão, Lula tinha 55% de avaliação de ‘bom e ótimo’ nas pesquisas, e hoje tem 77%. Mas, como não é ele que concorre, e sim uma sua ‘laranja eleitoral’, a transferência de votos ainda não é total, e possivelmente não será.” (“Zona de conforto”, 17/8/2010)

E para defender sua ideologia liberal, vale tudo. Destaco o seguinte diálogo (que me foi enviado pelo leitor D.M.S.) de recente capítulo na novela Paraíso, da TV Globo. Observem como personagens de ficção avançam para além de qualquer trama para tratar do que consideram ser a realpolitik. E como vem sendo cada vez mais corriqueiro contrabandear ideologia e crítica política através de personagens que, bem ou mal, caem nas graças do povo:

Atriz: “Vamos perfurar um poço de petróleo aqui na cidade”

Ator: “Você não é candidata a presidente da república. Nem presidente da Petrobras”

Atriz: “Quanto custa pra perfurar um poço de petróleo?”

Ator: “Muito…”

Atriz: “Mais de mil escolas?”

Ator: “Bota mil nisso…”

Atriz: “Mais de mil hospitais?”

Ator: “Bota mil nisso… Em vez de gastar dinheiro perfurando poço de petróleo, a gente poderia encher de escolas, hospitais…”

(Pausa para os comerciais).

Irônico que a primeira empresa que surge fazendo seu comercial é a própria Petrobras, Coisas do Brasil?

Argumento anêmico

A revista Época também segue à risca o script que deseja cumprir. Para ilustrar cito recente edição (nº 639, de 14/8/2010) em que a capa é a foto da jovem Dilma Rousseff, em princípios dos anos 1960. A manchete é lúgubre: “O passado de Dilma”, com a explicação que mais ameaça que esclarece qualquer coisa: “Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar: seu papel na luta armada contra o regime militar” (ver, neste Observatório, “Revista ignora a anistia“).

A “matéria” lista perguntas que, segundo a revista, a candidata se recusa a responder. Tudo no elevado estilo “intimidação sempre rende resultados”. Ao leitor imparcial fica evidente e enorme forma de marginalização que a mídia tenta aplicar à figura da candidata. Até a ditadura brasileira é assumida pela revista, mesmo que indiretamente, como tendo ocorrido. As questões que a revista trata de cobrir – com o véu de suspeição em estado bruto – representam torpe tentativa de criminalizar a candidata e, para tanto, não hesitam em minimizar o contexto dando conta que o país vivia tenebroso período ditatorial. Escamoteou-se que Dilma desceu do muro e teve a coragem de decidir em que lado estava: a luta contra o arbítrio.

O colunista da Folha de S.Paulo Fernando Barros e Silva, na edição de 1/6/2010 do jornal, escreveu texto com o título “O Bolsa-Mídia de Lula”. Profissional talentoso, Fernando não é só um articulista, mas também editor. E, por ele passam as mais relevantes decisões editoriais do jornal paulista. Pois bem: no texto, Fernando repercute matéria da própria Folha, que demonstra como Lula pulverizou a verba publicitária do governo: em 2003, 179 jornais receberam verbas federais; em 2008, foram 1.273. Lula fez o mesmo com rádios e com a internet. Com esse raciocínio inicial era de se esperar qualquer coisa menos um petardo como o que ele arremessou a seguir:

“(…) a língua oficial chama [a tal pulverização de verbas] de regionalização da publicidade estatal e vende como sinal de ‘democratização’. Na prática, significa que o governo promove um arrastão e vai comprando a mídia de segundo e terceiro escalões como nunca antes nesse país.”

É daqueles casos em que o texto não faz jus ao talento do autor. Argumento tão raquítico, anêmico faria qualquer um de nós, Jecas Tatus do Brasil profundo, pensar com seus botões: “Ué, quer dizer que quando a verba ia só para o ‘primeiro escalão’ (onde, suponho, Fernando inclui a Folha, onde ganha o sustento diário) os governos anteriores a 2003 estavam simplesmente ‘comprando a mídia’? É isso mesmo? Tal pensamento não carrega em seu cerne a idéia de desejar ser comprado sozinho sem se expor às agruras de um capitalismo com concorrência?”

Contra e a favor

Dia sim e dia não também, incluindo telejornais noturnos e madrugadeiros, somos bombardeados aos longos das semanas, meses e anos com a mais ampla liberdade de expressão. É sob a égide dessa preciosa liberdade que proliferam os insultos de baixo e alto calados. Termina sendo também a inconfessável defesa de seus valores antípodas. Como o destempero verbal (e escrito), o ataque infamante – quando não apenas calunioso – busca a cabal sujeição de suas vítimas à mais completa impotência ante o formidável aparato de comunicação com suas sentenças formadas antes mesmo de o crime haver sido pensado. Sentença que será repercutida por seus pares à exaustão, dando assim ares de legitimidade ao que não passa de mera luta para manter seu poder nas auriverdes esferas da política e da economia.

Infelizmente tenho que reconhecer que nossos meios de comunicação de massa não revelam a realidade, mascaram-na; eles não ajudam a gerar mudança, transformações e, ao contrário, ajudam a evitá-la. Pior ainda, nossos meios estão bem longe de incentivar a participação democrática. São muito mais afeitos a nos levar à passividade, à resignação e ao egoísmo. Apropriam-se das bandeiras mais caras ao espírito humano – justiça, liberdade – para torná-las reles mercadorias de troca em sua incessante luta pelo poder, cada vez mais inconstante, cada vez mais fugidio.

Em 2002, em almoço nas dependências do jornal Folha de S.Paulo, seu diretor Otavio Frias Filho sapecou a questão para Lula: “Como é que o senhor vai governar o Brasil se não fala inglês?” Passados oito anos chegamos à conclusão que no caso talvez falar inglês pesasse contra, e não a favor, do então candidato à presidência do Brasil. É possível que, ainda nos próximos 40 dias, atendendo a convite para hipotético almoço no mesmo jornal, seu diretor de Redação sinta-se à vontade para perguntar a Dilma Roussef:

“Como é que a senhora vai governar o Brasil se não fala a nossa língua?”