O “jornalismo de mercado”
Não comentei aqui, mas vocês devem ter visto nos últimos dias um fato noticiário sobre a “desvalorização” da Petrobras. No sábado, a Folha publicou uma matéria relatando que as ” incertezas que envolvem o processo de capitalização da Petrobras provocaram nos últimos meses uma desvalorização intensa das ações da estatal” , mostrando que só as ações da British Petroleum – por causa do acidente no Golfo – tinha caído mais. A matéria era ricamente ilustrada com o gráfico que você vê aí ao lado. (acima)Mas como podem ter se desvalorizado tanto, se a empresa acaba de registrar o maior lucro de sua história, segundo revelou agora há pouco a consultoria Economática, em matéria publicada no Estado de S. Paulo?
A explicação está numa palavrinha que os jornais não publicam: especulação. Por que?
Porque está para sair – se os movimentos especulativos do “mercado” não o impedirem – o valor da capitalização da empresa, autorizada pelo Congresso para que ela possa fazer frente à exploração do pré-sal. Com ela, a União fará a cessão onerosa de até cinco bilhões de barris de petróleo (em reservas) para a empresa e receberá dela o valor equivalente em ações. Para ter direito ao percentual da nova emissão de ações proveniente da capitalização, o acionista privado terá que desembolsar o valor correspondente a sua parcela acionária na empresa.
Ora, como o valor das reservas vai ser estimado em dinheiro e, portanto, isso vai definir o quanto cada acionista vai ter de pagar pelo lote de ações emitidas correspondente a sua parte.
Se ele não exercer sua opção de compra, o direito de compra passa a ser da União. E, portanto, a União aumenta sua participação no capital de empresa.
Por isso é que a Folha registra a opinião do NY Times de que “mesmo que dois terços dos acionistas privados participassem da oferta, isso poderia fazer com que o governo ficasse com as outras ações em que não houve subscrição, o que poderia aumentar sua participação na Petrobras para 40%. E isso provavelmente não enviaria um sinal positivo para o mercado financeiro global.”
Mas o nosso “jornalismo de mercado” está mais interessado em abalar a imagem e o valor da Petrobras do que dizer algo simples e muito compreensível: a recuperação pelo Estado brasileiro de boa parte do capital da empresa, criminosamente vendido por Fernando Henrique Cardoso é bom para o Brasil e ruim para os investidores – a maioria estrangeiros – que o abocanharam 11 anos atrás.
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