Quando o erro é ter marido
Senhoras e senhores, digamos que vocês pudessem embarcar comigo nesta viagem: desmaterializar-se e assistir ao vivo e em cores à história de um não-fato que por pouco, muito pouco, quase virou verdade. Pelo menos enquanto durasse o trâmite judicial do pedido de direito de resposta e eventual indenização por perdas e danos. Conhecendo a morosidade do processo, o escândalo seria até conveniente e vocês vão entender o porquê.Estamos num plantão em novembro último, no feriado de Finados. O responsável pelo principal telejornal do país naquela noite tem em mãos uma reportagem que mostra que o jatinho de um bispo foi apreendido num aeroporto no Norte do país.
A reportagem cita como fonte a Polícia Federal e diz que a aeronave tinha sido apreendida e que havia até dinheiro dentro. O sujeito sabe que tem uma bomba mas, desconfiado, decide ele mesmo apurar melhor a história. Consulta uma colega na redação de São Paulo (uma colaboradora com mais de uma década de bons serviços prestados) e pergunta: - Tem como eu falar com o seu marido? E ela responde: - Claro, o numero do celular é esse e o rádio dele é o seguinte, anote ai.
O marido da colaboradora é um jornalista que recentemente tinha assumido uma posição importante na emissora rival, para cuidar da comunicação institucional do grupo. O colega que tem a bomba liga para ele e diz: - Amigão, é o seguinte: temos isso, isso e isso. A matéria vai ao ar, mas preciso de uma confirmação: o avião foi ou não apreendido? Do outro lado da linha o colega responde: - Olha, não trabalho para a igreja, que não tem nada a ver com a emissora, mas vamos fazer o seguinte: considerando a urgência do pedido, o tempo curto até o jornal ir ao ar, a facilidade de acesso que tenho às fontes e a consideração por você, vou entrar no circuito.
Minutos depois ele descobre que o avião não tinha sido apreendido coisa nenhuma. Ele estava numa área do aeroporto reservada às aeronaves que não tinham feito alfândega (funciona assim: o avião chega do exterior e faz alfândega em um determinado aeroporto país, sem a necessidade de fazer em todos).
Bom, minutos antes do telejornal ir ao ar a reportagem caiu.
Vale lembrar que as duas emissoras disputam anunciantes e telespectadores e vira-e-mexe se estranham, levando ao ar reportagens que fazem acusações mútuas. Mas a história não termina aí. Advinhem o que aconteceu com a colega, aquela de mais de uma década de bons serviços prestados?
Quando o guardião ficou sabendo... (Guardião é aquele que não desabotoa o colarinho da camisa. Qual será o flagelo que ele esconde, heim?) Ela foi dispensada três semanas depois, sob a alegação de que o fato de ser casada com o sujeito da outra emissora tornara-se um impeditivo profissional.
Injustiça? Deixo a palavra com os leitores... Ah, já estava me esquecendo, nos materializamos de volta no ponto de partida da nossa viagem, portanto, isso não aconteceu, foi só um estado de transe coletivo, ok?
FONTE: Doladodelá
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