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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eleições: Um país dividido


Por Eduardo Guimarães
Informações privilegiadas me caíram no colo ontem por volta da hora do almoço, mas só consegui postar no fim da tarde. Devido à proximidade da hora em que brotariam as pesquisas, porém, optei por tratar do assunto aqui da forma que me pareceu mais lógica, ou seja, fazendo uma baita crítica à condução da campanha de Dilma e ao próprio PT.

Isso porque, em vez de reagirem no primeiro turno, de travarem o debate político, de dizerem na tevê tudo o que dizíamos nos blogs, ficaram ouvindo marqueteiros dizerem que tinham que apanhar calados.
E obedeceram.

Quem cala, consente. A versão do governo Lula poderia ter sido dada pela campanha de Dilma na tevê, mas o PT e certamente o próprio presidente acreditaram que poderiam não responder. A corrente de e-mails difamatórios contra Dilma ganhou força porque as acusações da mídia tucana, do partido da mídia e do candidato dessa mídia não foram respondidas à altura.

E quem do PT cobrou a mídia, no horário nobre da TV, pelo caso Alstom, pelo caso da filha de Serra e da irmã de Daniel Dantas, por exemplo? Quem foi que desprezou todas as vezes em que estes blogs sujos todos suplicaram a Lula e ao PT que travassem o debate político diretamente com a mídia diante da população brasileira?

Por que não vieram a público dizer que não queriam censurar ninguém porcaria nenhuma e que só queriam dar a própria versão dos fatos? Por que, com serenidade, não explicaram ao povo brasileiro, didaticamente, no que consiste a forma de manutenção da desigualdade tupininiquim?

Queriam fazer uma revolução silenciosa contra um inimigo dotado de mega alto-falantes para berrar a sua versão dos fatos nas 24 horas do dia, nos sete dias da semana, nos trinta dias do mês e nos 365 dias do ano – ano após ano do mandato de Lula.

Dilma Rousseff não tem culpa de nada. Superou-se. É uma mulher sincera, corajosa, digna. Já Lula, é um gigante. Um homem como poucas vezes se viu na história da humanidade. Um fenômeno, um mito. Seu nome está gravado para sempre na história. Mas cometeu um erro como cometeram os maiores generais. É humano.

Tudo está perdido? Claro que não. O país está longe de estar com Serra e com a mídia. Está dividido, pendendo para o lado do PT. Ainda. E pode seguir assim, mesmo que por pouco, até a última hora. A esta altura não há mais muitas dúvidas e Serra ainda precisa tirar uma boa diferença para se aproximar de Dilma.

As pesquisas, porém, estão equilibradas. Mostram uma tendência. A mídia não precisa mais arriscar. A onda foi criada. Será suficiente? Bem, sempre se pode usar mais um pouquinho de mídia. Afinal, o PT, Lula e os marqueteiros, mesmo que reajam finalmente contra a utilização da mídia pelos tucanos, irão a reboque dos fatos.

A hora de começar a explicar ao povo brasileiro, didaticamente, no que consiste essa descomunal armação que é José Serra e a sua relação promíscua com a mídia – e de começar, principalmente, a lembrar quem são os que querem voltar ao poder ou a mostrar o que teriam feito durante a crise do ano passado –, é já.

Ainda repetirei mais uma vez:
1 – Cadê a Regina Duarte e o discurso do medo?
2 – Cadê o flashback do apagão?
3 – Cadê a reprodução detalhada da situação do país que Lula herdou de FHC?
4 – Cadê a cobrança da mídia, enquanto denunciava o caso Erenice, de que há um monte de escândalos envolvendo Serra e o PSDB?
5 – Cadê a cobrança da mídia do reconhecimento de que o caso do sigilo fiscal de tucanos foi utilização eleitoreira de um processo antigo de venda de “cadastros” que atravessou governo após governo desde sempre?
6 – Cadê a explicação didática da privataria?
7 – Cadê a explicação de que querem pôr as garras no pré-sal?
8 – Cadê a explicação de como se concentrou a renda no Brasil?
9 – Cadê a explicação a essa classe média de que ela não faz parte da festa da elite branca dos Jardins e da Barra da Tijuca?
10 – Cadê a denúncia de que os que acusam Lula, seu governo, seu partido e sua candidata de “censores” foram os que jogaram o Brasil em uma ditadura militar de 20 anos?

Tem mais? Muito mais. Tem material para umas dez campanhas eleitorais. Por que o PT não usa? Não sei. Se o PT usar só agora funcionará? Não sei. O que sei? Que não está tudo perdido. Isso eu sei. Aliás, muito pelo contrário. Este governo e o grupo político que o apóia têm muito a mostrar. Mas têm que mostrar quem são seus adversários.

Eu vou lutar. Vou conversar, escrever, pensar, trabalhar sem parar. Farei por meus filhos e netos. Farei pelos meus semelhantes. Todos faremos. Mas não está mais tanto em nossas mãos. Travamos o discurso político durante anos e não recebemos o menor apoio. Poderiam ter ouvido o que dizíamos, ao menos.

Agora, porém, o país está dividido. Estamos em cima da hora da eleição, mas o PT também tem, ainda, um tempo ENORME em rede nacional de rádio e tevê. Pode lutar, pode criar fatos políticos poderosos. A parte da sociedade que resiste precisa de armas para lutar. Estamos lutando com estilingues contra um inimigo armado com canhões.

FONTE: Blog da Cidadania

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