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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Miro: Quem são os "investidores" que ouviram FHC

Reproduzo artigo de Carlos Lopes, publicado no jornal Hora do Povo:

Depois de mais de trinta anos em que Serra mostrou-se, reiteradamente, um mentiroso sem escrúpulos, é inútil discutir, como se fosse sério, algo que ele fala. Serra não apresenta programas, apresenta mentiras. Seu verdadeiro programa só é revelado, como dizia um velho senador, “nas cafuas onde a lepra social se junta”.

Na mesma hora em que Serra jurava ser apaixonado pelas estatais (depois de ser responsável por 109 privatizações), seu velho protetor, Fernando Henrique Cardoso, juntava uma centena e meia de “investidores” estrangeiros para falar sobre as oportunidades que um governo Serra abriria para a privatização da Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Eletrobrás, etc., etc., etc.

Nunca houve, no Brasil, um candidato a presidente mais mentiroso. E ainda há quem tenha birra do Maluf. Comparado com Serra, Maluf merece ser canonizado.

Assim, Serra promete R$ 600 de salário-mínimo, sem dizer qual é a sua política para o salário-mínimo. Lula e Dilma têm uma política: a de valorizá-lo crescentemente. Mas Serra não apresenta nenhuma, pois a sua é aquela que praticou como ministro, governador e prefeito: arrochar os salários, e, se possível, acabar com o salário-mínimo, que sempre achou um atraso.

Nem vamos falar desse ridículo 13º para o Bolsa Família, partindo de quem sempre odiou o Bolsa Família, pois, como disse sua mulher, “as pessoas não querem mais trabalhar e ficam ensinando isso aos filhos”. Onde será que ela ouviu tais considerações, a ponto de achar normal externá-las em público?

A mesma coisa pode-se dizer em relação aos 10% para os aposentados. Qual a política de Serra para as aposentadorias? Ele não diz nada sobre isso porque é a mesma que apoiou e aplicou no governo Fernando Henrique: achatá-las, chamar os nossos idosos de vagabundos e depredar a Previdência pública. A sua posição jamais diferiu do seu guia: a de arrasar a Previdência pública.

O primeiro a divulgar a reunião de Fernando Henrique com os “investidores”, ainda na noite de domingo, foi o veterano jornalista mineiro Laerte Braga: “O evento é fechado, o assunto é a privatização da Petrobrás, de Itaipu e do Banco do Brasil, além de outras ‘oportunidades’ de negócios. FHC está assumindo o compromisso de venda dessas empresas em nome de José Serra. Cada um dos investidores recebeu uma pasta com dados sobre o Brasil, artigos de jornais nacionais e internacionais e descrição detalhada do que José Serra vai vender se for eleito. E além disso os investidores estão sendo concitados a contribuir para a campanha de José Serra, além de instados a pressionar seus parceiros brasileiros e a mídia privada a aumentar o tom da campanha contra Dilma Rousseff”.

Braga citava uma das frases de Fernando Henrique aos estrangeiros: “Se deixarmos passar a oportunidade agora jamais conseguiremos vender essas empresas”.

Enquanto isso, Serra dizia na TV que é mais estatista do que Luís XIV, que é contra a privatização de qualquer empresa, que é tudo calúnia do pessoal da Dilma - e outras mentiras.

A incredulidade com que alguns receberam a notícia divulgada por Laerte Braga, se desfez quando, na segunda-feira, o Click Foz, um portal de notícias de Foz do Iguaçu, entrou em contato com o gerente do hotel, que confirmou “um evento com a participação do ex-presidente ontem, e disse ainda que a reunião foi fechada e contou com a participação de vários estrangeiros”.

A reunião foi tão fechada que – exceto, naturalmente, os seus participantes e o hotel - ninguém em Foz do Iguaçu sabia da presença de Fernando Henrique.

Também na segunda, funcionários do hotel disseram ao jornalista Luiz Carlos Azenha que “um grupo de investidores estrangeiros esteve hospedado, para participar de um evento. A funcionária sugeriu que uma consulta fosse feita à assessoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”.

A assessoria de Fernando Henrique, respondendo à jornalista Conceição Lemes, divulgou, só então, a seguinte declaração do grande eleitor de Serra: “Fiz, sim, uma palestra em Foz do Iguaçu, para um grupo de jovens investidores de São Paulo, Tarpon, que lidam especialmente com fundos de pensão de universidades e professores. Havia mais de cem pessoas presentes, e os temas discutidos nada tinham a ver, obviamente, com as infâmias propaladas. Tratou-se de mais uma palestra na qual eu reafirmo a minha confiança no futuro do Brasil, aliás, como disse lá, ganhe quem ganhar!”.

A reunião era tão secreta que não constava da agenda de Fernando Henrique. Nunca se viu tanto segredo para manifestar a confiança no futuro do Brasil! Sobretudo por quem nunca teve alguma.

Quem eram os ouvintes de Fernando Henrique, enquanto seu pupilo berrava na TV que era invenção que ele é a favor de privatizar a Petrobrás e suas co-irmãs?

O organizador, Raphael Eckmann, é funcionário da Tarpon Investimentos, que se diz uma “empresa brasileira”. O nome da empresa é retirado de uma cidade da Flórida. Eckmann já foi gerente comercial da Globosat, mas, antes disso, era empregado da Câmara Americana de Comércio e “analista-senior” da Binswanger Management Corporation, um grupo da Pennsylvania, dedicado a intermediar a compra de empresas, que tem como “clientes” (“apenas para citar uns poucos”, segundo o seu site) a Motorola, Shell, Intel, ExxonMobil, Nextel, Crown Cork & Seal, Hoechst, Comcast e Wal-Mart.

Outra presença – que dificilmente pode ser chamada de “jovem” investidor ou jovem qualquer outra coisa – é Alice W. Handy, fundadora e presidente da Investure. Esta empresa é uma LLC [limited liability company], algo que só existe nos EUA, e que pode ser descrita, mais ou menos, como uma ONG da especulação. Mas a Investure não é qualquer ONG especulativa: é um braço do Rockefeller Brothers Fund. A senhora Handy é funcionária da Fundação Rockefeller - e já foi secretária do Tesouro da Virgínia.

Outro nome na plateia de Foz do Iguaçu: Keith Johnson – um redator do “The Wall Street Journal”, o que dispensa maiores apresentações.

Por fim, Anjum Hussain - um especialista em “investir” dinheiro dos fundos de pensão americanos, atualmente “diretor de gerenciamento de risco” de uma administradora de fundos.

Essa gente não foi a Foz do Iguaçu ouvir Fernando Henrique falar da sua confiança no Brasil. Estão se lixando para isso. E não ouviram que “ganhe quem ganhar” é a mesma coisa, até porque se há algo que Fernando Henrique sabe, é que isso não é verdade – e por isso está apoiando Serra.

Eles foram lá para ver que vantagens teriam se apoiassem Serra – e sabe-se que apoio esse pessoal fornece. Que vantagens poderiam ter, antes de qualquer outra, senão levar as estatais que não conseguiram levar no governo de Fernando Henrique?

No Brasil não existe obstáculo para que eles comprem empresas privadas. Têm comprado mais do que interessa ao nosso país, e, para isso, não precisam sair da Pennsylvania, da Virgínia ou de Nova Iorque. Então, para que vir ao Brasil? Não seria para ouvir alguma xaropada de Fernando Henrique – pois, com magnatas e executivos, ou ele fala algo que interesse a eles ou nem vão aparecer. E apareceram 150, atraídos como formigas por açúcar.

Em suma, Fernando Henrique estava pedindo dinheiro para a campanha de Serra – expondo qual o seu verdadeiro programa: a privatização.

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