A vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau tem o direito de ter as simpatias políticas que desejar. Mas ela, na condição de que está investida, a de fiscal da lei, daria bom exemplo se parasse de exibi-las como faz hoje na entrevista que concedeu na Folha de S.Paulo a Eliane Catanhêde, a colunista da massa cheirosa.
No balanço das eleições até agora, atacou o presidente Lula o tempo todo, referiu-se de forma elogiosa ao manifesto lançado para 100 pessoas em São Paulo condenando supostas ameaças à liberdade de imprensa e negou a existência de um um posicionamento da imprensa a favor de um candidato.
“Não vejo, até por uma razão muito simples. Se houvesse um complô a favor de um candidato ou contra o outro, ele estaria lá nas alturas”, respondeu a dra. Cureau, sem que lhe fosse mencionado quem a imprensa apoiaria.
Se a Dra. Cureau se incomoda com o fato de o presidente da República, segundo ela, estar se excedendo, mais ainda está ela, que deve ser, por princípio e por lei, apartidária.
A vice-procuradora diz que tem a impresssão de ser atacada pelo fato de ser mulher. Ora, dra. Cureau, numa eleição em que duas mulheres disputam a presidência falar em preconceito de gênero é uma alegação despropositada. As mulheres ainda sofrem muito preconceito no Brasil, mas não mulheres com o seu cargo e o seu poder.
A colunista da massa cheirosa conduz a entrevista para que a procuradora desabafe e ela o faz, sem pudores. Diz que as instituições estão sendo desrespeitadas e considera que a manifestação realizada no Largo de São Francisco, em São Paulo, foi uma “consequência do que se está vivendo nesta eleição”.
Lógico que a colunista da massa cheirosa não perguntou isso, mas seria importante lembrar a vice-procuradora que a manifestação a que ela se refere não foi a única. Houve outra, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que condenou o golpismo midiático nessas eleições, enxergando uma realidade totalmente diferente da que a dra.Cureau parece endossar. A leitura da entrevista revela que se não estivesse na atual função, a vice-procuradora eleitoral seria uma das signatárias do manifesto de censura ao governo.
Ao criticar a presença de Lula na campanha, a dra, Cureau disse que todos os presidentes fazem campanha para seus candidatos, mas “de uma maneira mais republicana, ou mais democrática, não sei que palavra usar”. Uma vice-procuradora eleitoral precisa saber exatamente que palavras usar, porque é ela quem julga os atos eleitorais. E se ela considera que Lula não está sendo republicano ou democrático, precisaria explicar à sociedade porque pensa assim.
O máximo que a Dra. Cureau consegue dizer é que Lula “quer fazer a sua sucessora a qualquer custo”. Taí outra afirmação curiosa. O que a vice-procuradora quer dizer, que o presidente está desrespeitando a democracia? Que evidências pode apontar?
A Dra Cureau ainda evitou parcialmente uma pegadinha da jornalista, que tentou encaminhá-la a comparar o Brasil à Venezuela no sentido das tensões políticas, mas não perdeu a oportunidade de afirmar que o que considera desrespeito às instituições “pode levar a um caminho em que não haja autoridade ou que a autoridade seja única.”
A Dra Cureau é uma mulher preparada e inteligente. Não lhe pode escapar que, a esta altura, a imprensa tomou partido e ao procurá-la, o faz com o objetivo pré-determinado de atacar Lula e a candidatura Dilma.
Se ela se presta a estes desígnios da grande imprensa sempre que solicitada, isso tem uma leitura. A Dra. Sandra, por exemplo, não usou a entrevista para explicar porque pediu investigação sobre os contratos de publicidade entre Carta Capital e o governo federal, com base apenas numa denúncia anônima e vaga e não faz o mesmo diante dos contratos entre o governo de São Paulo e a grande imprensa.
Aliás, esse caso, tão em voga, e no qual foi diretamente confrontada pelo diretor de redação da revista, Mino Carta, nem foi abordado na entrevista. Por que será?
FONTE: Tijolaço do Brizola Neto
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