Lula sobre risco de golpe: 'Não sabiam da minha força'
Na entrevista exclusiva dada ao Terra e publicada desde a manhã desta quinta-feira (23), o presidente Lula aborda um tema delicado. Ao recordar o ano de 2005 e o chamado "Mensalão", o presidente da República deixa claro que, no seu entender, adversários pensaram em derrubá-lo do poder. À pergunta sobre se teria sido uma "tentativa de golpe", Lula esquiva-se de repetir as expressões "golpe" e "derrubar", mas diz com todas as palavras:
- Eles não sabiam da força que eu tinha na rua. Eu reuni o governo aqui e eu disse: "olhe, vocês fiquem aqui porque essa gente vai me enfrentar é na rua (bate na mesa)". Eu não sei se a intenção era essa... não quero tratar isso de forma, eu diria, pequena. Eu acho que eles não foram mais adiante de medo de não saber o que iria acontecer. E acho que não foram mais adiante porque (achavam que) já tinham me desgastado demais.
Se alguma dúvida restar sobre o que quer dizer Lula, e a percepção, ou informações que guardou daqueles dias, leia-se um pouco mais do que disse o presidente na conversa com o Terra:
- Eu acho que nós tivemos muita, mas muita, muita dificuldade em 2005. Foi um momento em que os setores conservadores deste País tentaram repetir Getúlio Vargas, tentaram repetir João Goulart, tentaram repetir Juscelino (Kubitschek). Porque mostra-se a parte boa de Juscelino, mas não mostra que diziam: "Juscelino não pode ser presidente", "se for, não pode ganhar, não pode tomar posse" e "se tomar posse, a gente derruba". Era assim que eles falavam!
Terra - Uma pergunta de balanço final. Qual o senhor acha que foi o pior momento do seu governo e o melhor?
Luiz Inácio Lula da Silva Eu vou dizer uma coisa. Acho que a gente só vai ter noção... (pausa) Não sei se você já perdeu alguém da sua família. Eu quando perdi a minha esposa... você leva um tempo para descobrir que acabou. Você sofre no dia do enterro, no velório, nos primeiros dias parece que você está meio anestesiado. Chega um dia em que você cai na real. Eu estou com muito cuidado para não tomar nenhuma decisão precipitada porque a avaliação correta do governo... (pausa) Normalmente o cara deixa o governo e diz: "vou fazer um livro (mudando a voz)". O cara tem de deixar amadurecer alguns anos, o cara tem que pelo menos saber o que os outros pensam dele para ele não ficar escrevendo "eu me amo". Não dá (risos).
Eu acho que nós tivemos muita, mas muita, muita dificuldade em 2005. Foi um momento em que os setores conservadores deste País tentaram repetir Getúlio Vargas, tentaram repetir João Goulart, tentaram repetir Juscelino (Kubitschek). Porque mostra-se a parte boa de Juscelino, mas não mostra que diziam: "Juscelino não pode ser presidente", "se for, não pode ganhar, não pode tomar posse" e "se tomar posse, a gente derruba". Era assim que eles falavam!
Terra - O senhor compreende hoje, então, que em 2005 havia uma tentativa de golpe?....
Tinha uma diferença... tinha uma diferença...
Terra - Qual era?
Eles não sabiam da força que eu tinha na rua. Eu reuni o governo aqui e eu disse: "olhe, vocês fiquem aqui porque essa gente vai me enfrentar é na rua (bate na mesa)". Eu não sei se a intenção era essa... não quero tratar isso de forma , eu diria, pequena. Eu acho que eles não foram mais adiante de medo de não saber o que iria acontecer. E acho que não foram mais adiante porque já tinham me desgastado demais.
Terra - Sangrando...
Eu vou contar o milagre, mas não vou contar o santo.
Terra - Isso a gente fala depois...
Não! Eu, uma vez, fui em um jantar dos setores dos meios de comunicação. Tinha quatro ou cinco pessoas conversando e discutindo, os políticos, pergunta, resposta... Você presidente, ele é convidado para um jantar, mas no fundo todo mundo fica perguntando. Não fica nem comendo. Como é feio comer de boca cheia, então não come! E também é chique, o presidente não pode beber... Então você tem de tomar Coca-Cola e água. Bem, nessa reunião, conversa vai, conversa vem, quando eu saí, já umas onze horas da noite, uma pessoa falou: "nossa, o presidente está muito bem!" (bate na mesa). Isso era mais ou menos no final de 2005, comecinho de 2006... "O presidente está com muita convicção de que vai ganhar". Aí um dos puxa-sacos, você sabe que sempre tem puxa-saco onde tem chefe, fala todo assim: "isso é fingimento. Ele sabe que está desmoralizado. Ele sabe que não pode concorrer à reeleição".
Terra - Você ouviu isso?
Uma pessoa que estava lá depois me contou. Então, isso é apenas para demonstrar como é que as pessoas fazem avaliação equivocada. As pessoas não conhecem o Brasil. Não é possível dirigir o Brasil de Brasília. Você tem de entrar nas entranhas deste País, é quase fazer um check up todo santo dia. Porque a gente vai fazer um check up e coloca a gente numa máquina e tira fotos das tuas tripas, de tudo que você tem por dentro? É para ver se você tem alguma coisa! Então você tem de fazer check up deste País todo santo dia. Às vezes é difícil descobrir as coisas. Mas o Brasil começou a andar... o que é importante é que mudamos um paradigma. Quem vier depois, sabe que tem um patamar.
FONTE: Terra
- Eles não sabiam da força que eu tinha na rua. Eu reuni o governo aqui e eu disse: "olhe, vocês fiquem aqui porque essa gente vai me enfrentar é na rua (bate na mesa)". Eu não sei se a intenção era essa... não quero tratar isso de forma, eu diria, pequena. Eu acho que eles não foram mais adiante de medo de não saber o que iria acontecer. E acho que não foram mais adiante porque (achavam que) já tinham me desgastado demais.
Se alguma dúvida restar sobre o que quer dizer Lula, e a percepção, ou informações que guardou daqueles dias, leia-se um pouco mais do que disse o presidente na conversa com o Terra:
- Eu acho que nós tivemos muita, mas muita, muita dificuldade em 2005. Foi um momento em que os setores conservadores deste País tentaram repetir Getúlio Vargas, tentaram repetir João Goulart, tentaram repetir Juscelino (Kubitschek). Porque mostra-se a parte boa de Juscelino, mas não mostra que diziam: "Juscelino não pode ser presidente", "se for, não pode ganhar, não pode tomar posse" e "se tomar posse, a gente derruba". Era assim que eles falavam!
Terra - Uma pergunta de balanço final. Qual o senhor acha que foi o pior momento do seu governo e o melhor?
Luiz Inácio Lula da Silva Eu vou dizer uma coisa. Acho que a gente só vai ter noção... (pausa) Não sei se você já perdeu alguém da sua família. Eu quando perdi a minha esposa... você leva um tempo para descobrir que acabou. Você sofre no dia do enterro, no velório, nos primeiros dias parece que você está meio anestesiado. Chega um dia em que você cai na real. Eu estou com muito cuidado para não tomar nenhuma decisão precipitada porque a avaliação correta do governo... (pausa) Normalmente o cara deixa o governo e diz: "vou fazer um livro (mudando a voz)". O cara tem de deixar amadurecer alguns anos, o cara tem que pelo menos saber o que os outros pensam dele para ele não ficar escrevendo "eu me amo". Não dá (risos).
Eu acho que nós tivemos muita, mas muita, muita dificuldade em 2005. Foi um momento em que os setores conservadores deste País tentaram repetir Getúlio Vargas, tentaram repetir João Goulart, tentaram repetir Juscelino (Kubitschek). Porque mostra-se a parte boa de Juscelino, mas não mostra que diziam: "Juscelino não pode ser presidente", "se for, não pode ganhar, não pode tomar posse" e "se tomar posse, a gente derruba". Era assim que eles falavam!
Terra - O senhor compreende hoje, então, que em 2005 havia uma tentativa de golpe?....
Tinha uma diferença... tinha uma diferença...
Terra - Qual era?
Eles não sabiam da força que eu tinha na rua. Eu reuni o governo aqui e eu disse: "olhe, vocês fiquem aqui porque essa gente vai me enfrentar é na rua (bate na mesa)". Eu não sei se a intenção era essa... não quero tratar isso de forma , eu diria, pequena. Eu acho que eles não foram mais adiante de medo de não saber o que iria acontecer. E acho que não foram mais adiante porque já tinham me desgastado demais.
Terra - Sangrando...
Eu vou contar o milagre, mas não vou contar o santo.
Terra - Isso a gente fala depois...
Não! Eu, uma vez, fui em um jantar dos setores dos meios de comunicação. Tinha quatro ou cinco pessoas conversando e discutindo, os políticos, pergunta, resposta... Você presidente, ele é convidado para um jantar, mas no fundo todo mundo fica perguntando. Não fica nem comendo. Como é feio comer de boca cheia, então não come! E também é chique, o presidente não pode beber... Então você tem de tomar Coca-Cola e água. Bem, nessa reunião, conversa vai, conversa vem, quando eu saí, já umas onze horas da noite, uma pessoa falou: "nossa, o presidente está muito bem!" (bate na mesa). Isso era mais ou menos no final de 2005, comecinho de 2006... "O presidente está com muita convicção de que vai ganhar". Aí um dos puxa-sacos, você sabe que sempre tem puxa-saco onde tem chefe, fala todo assim: "isso é fingimento. Ele sabe que está desmoralizado. Ele sabe que não pode concorrer à reeleição".
Terra - Você ouviu isso?
Uma pessoa que estava lá depois me contou. Então, isso é apenas para demonstrar como é que as pessoas fazem avaliação equivocada. As pessoas não conhecem o Brasil. Não é possível dirigir o Brasil de Brasília. Você tem de entrar nas entranhas deste País, é quase fazer um check up todo santo dia. Porque a gente vai fazer um check up e coloca a gente numa máquina e tira fotos das tuas tripas, de tudo que você tem por dentro? É para ver se você tem alguma coisa! Então você tem de fazer check up deste País todo santo dia. Às vezes é difícil descobrir as coisas. Mas o Brasil começou a andar... o que é importante é que mudamos um paradigma. Quem vier depois, sabe que tem um patamar.
FONTE: Terra
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