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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Entrevista - FIESP: “Empresários não estão preparados para o sucesso”


Por Arnaldo Comin, Nivaldo Souza e Luís Rego*
 
Experimentando a cadeira de presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) desde junho, Benjamin Steinbruch diz que a visibilidade internacional positiva ainda não é compreendida no Brasil.

Após cinco meses dividindo seu expediente entre o 20º andar do número 3.400 da Avenida Faria Lima, novo veio financeiro de São Paulo, e o 14º andar do 1.313 da Av. Paulista, o berço administrativo do capitalismo industrial na cidade, Benjamin Steinbruch voltará a dedicar-se integralmente ao comando da CSN, após a experiência de presidir a entidade empresarial mais emblemática do país, a Fiesp.

Isto porque no dia 4 de outubro, após as votações do dia 3, em seu lugar volta o titular Paulo Skaf — candidato pelo PSB ao governo estadual, cujo último Datafolha creditava irrisórios 3% das inteções de votos.

Em contato direto com diversos segmentos industriais desde 1º de junho, Steinbruch reflete em seu discurso boa dose da satisfação do empresariado com a gestão do PT na Presidência da República.
E dá sinais de que o continuísmo com uma eventual vitória de Dilma Roussef, não é mais uma preocupação para a Fiesp. Verdadeira potência política até as privatizações em meados dos anos 90 — período que teve o próprio Steinbruch como grande protagonista, ao comprar a CSN em 1993 — a entidade se rendeu ao desenvolvimentismo patrocionado pelo BNDES na era Lula.

A posição é bem diferente dos tempos em que o ex-sindicalista tirava o sono dos empresários como uma “ameaça vermelha” para à livre iniciativa, amedrontará com um golpe de esquerda.
Curiosamente, hoje, Skaf, ao que tudo indica, iniciará uma fase “venezuelana” à frente da Fiesp, podendo eleger-se entre seus pares para um terceiro mandado, indo a 12 anos no comando da entidade.

Críticas legítimas, como o câmbio valorizado e os juros altos, persistem mas, aparentemente, o clima entre o empresariado paulista e o governo há tempos não andava tão bem. Confira a entrevista ao Brasil Econômico e ao Diário Económico.

Empresário do seu porte não senta na presidência da Fiesp há muito tempo. O senhor pensa em continuar?
Nesse pouco tempo que estou aqui me surpreendi com o potencial e a grandeza da entidade. É um orgulho ser presidente da Fiesp.
A inteligência do mundo passa por aqui quando vem ao Brasil. É uma pena que não vou ficar muito tempo. É difícil conciliar o dia a dia de um grande negócio com a entidade. Minha prioridade é o Grupo CSN, que está crescendo e se internacionalizando.

Integrantes da velha-guarda da Fiesp dizem que ela está deixando fazer política para virar um centro de estudos econômicos. A Fiesp ainda é forte politicamente?
É maior e melhor do que a gente pensa, porque agrega não só a indústria de São Paulo mas a do Brasil. A percepção da economia real acontece aqui.
As pessoas que compõem a casa estão no termômetro da economia. Isso nos credencia a fazer a interlocução com o governo.
Antes, as empresas não iam tão bem e quando a Fiesp ia ao governo diziam que era choro do empresariado. Hoje, as empresas estão indo muito bem e o interesse da Fiesp é de que cada vez mais o governo vá bem.
Não precisamos de publicidade ou promoção do que estamos fazendo. Temos de trabalhar forte e perto para dizer as nossas preocupações ao governo. A Fiesp pode ser discreta, objetiva e pragmática, buscando resultados. Temos de fazer a coisa sem marola.

Em 2011, Skaf completa o segundo mandato e, com mudança estatutária recente, pode se reeleger indo a 12 anos. Esse continuísmo é bom?
O fato de ficar três mandatos, dentro da mudança que ele fez, só agrega e melhora. Estamos diferentes, voltados para a sociedade e os problemas do cotidiano dos brasileiros. A presença que a entidade oferece hoje é surpreendente.
Eu diria que a Fiesp é mais forte do que qualquer presidente. A minha geração falava que o Brasil era o país do futuro e, hoje, ele é o país do presente. O que temos de dizer agora é que o Brasil é a potência do futuro.

Continuar o desenvolvimentismo da era Lula também é positivo?
Sempre existem as coisas boas que têm de ser continuadas e as coisas não tão boas que têm de ser alteradas. Tanto faz quem ganhe, desde que respeite essa premissa. O novo governo tem de ser nessa linha.
O crescimento do mercado interno, trazendo da miséria as pessoas para o consumo, o fortalecimento das instituições e das empresas é um trabalho que tem de ser continuado, porque tem sido bem feito.
Acredito que independente do governo, se não houver nenhuma grande bobagem, o Brasil continua em busca desses objetivos.

O dólar é uma preocupação?
Bastante, por ser o início da distorção que existe hoje na economia. Em termos de preço há diferença grande entre importação e exportação.
O fato de que o Brasil está bem faz com que cada vez mais entre dinheiro no país e pressione a moeda. Importação daquilo que a gente não faz ou do que falta é saudável e necessária.
Mas está havendo um certo descontrole, em função dos estoques do mundo estarem fluindo para o Brasil, desequilibrando a oferta interna.
Os juros altos são outro fator que faz com que haja uma procura maior pelo país. Essa combinação é perigosa e está levando o dólar para um patamar irreal.
O Brasil está bem, assim como o mercado interno da China. Agora, o dólar aqui é flutuante e temos de tratá-lo de maneira diferente, ser direcionado pelo governo para não deixar a coisa solta do jeito que está.

O Luciano Coutinho, presidente do BNDES, é um bom nome para o Ministério da Fazenda?
Ele é uma pessoa de bem, inteligente, bem formada, determinada, que está fazendo um excelente trabalho no BNDES. O Coutinho tem uma visão desenvolvimentista e certamente pode contribuir muito para o novo governo, em qualquer função.

Para o senhor, o que está em jogo nessa eleição?
Os dois candidatos (Dilma e Serra) têm condições de continuar as coisas boas.
Independente de quem ganhe, existe a possibilidade de continuar os acertos dos últimos anos. Pela primeira vez, o Brasil está numa posição de destaque, é uma referência mundial.
Pela primeira vez é um alvo. O novo governo tem de estar preparado para essa realidade. Precisamos nos adaptar. O governo e os empresários não estavam preparados para esse sucesso do país, que agora temos a obrigatoriedade de ampliar.

O senhor defende um BNDES maior no momento em que as empresas estão com ótima imagem lá fora, conseguindo captações excelentes como a que a CSN fez na sexta-feira (US$ 1 bilhão). A dependência do BNDES não leva a um certo comodismo?
Um país como o Brasil, que está numa situação invejável, mas onde há tudo por fazer, precisa de muito, muito dinheiro.
É necessária uma atenção especial do governo para isso, porque o Brasil não cresceu por muitos anos. Se você pensar em investimento de capital intensivo, é necessário longo prazo.
A única empresa que fazia isso era o BNDES, os bancos privados não tinham essa prática e falar com eles sobre financiamento de 10 anos era impossível.
As empresas que têm condição de captar lá fora já fazem isso há muito tempo, e os juros estão baixando em função da saúde financeira do país e das empresas.
As pequenas e médias, que não têm acesso ao mercado internacional, ficam presas ao sistema de financiamento privado. Para essas, não há alternativa senão o BNDES.
O Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF) começaram a fazer empréstimos de cinco, seis, sete anos. Acredito que os bancos privados vão seguir esse modelo. Isso alivia um pouco o BNDES.

Não falta uma dose maior de Febraban (a federação dos bancos) nessa mistura? Mais financiamento privado em infraestrutura?
No auge da crise, o grande momento do governo Lula foi pedir ao BB e à CEF continuarem dando crédito para as pessoas comprarem.
O presidente Lula teve essa percepção e o Brasil conseguiu passar pela crise. A partir daí, os bancos privados seguiram os estatais.
Hoje, estamos vivendo uma espiral ascendente com emprego, aumento de renda, financiamento, consumo e mais emprego. É o que está fazendo o Brasil viver esse momento de exceção. Se os juros fossem um pouco mais baixos, direcionados à realidade mundial, teríamos um crescimento maior ainda.

FONTE: Repoduzido na CartaCapital - Matéria do Brasil Economico

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