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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Laerte Braga: "Isso aqui não é a Venezuela"

Postado no Viomundo do jornalista Luis Carlos Azenha
por
Laerte Braga

Alberto Fraga, secretário de Transportes do governador José Roberto Arruda, é o encarregado de organizar e direcionar a propina paga pelas empresas de transportes da capital. O percentual de cada um, o do governador é maior, lógico, o ponto e o dia de entrega, o horário, essas coisas que acontecem em governos tucanos, DEM, PPS e partidos paralelos, digamos assim.

O secretário foi visitar o governador nas dependências da Polícia Federal, onde Arruda se encontra em retiro forçado, naturalmente para orar e agradecer a propina de cada dia e, evidente, saber do chefe como deve continuar a ser operado o “sistema” de propina.

Neste momento todo cuidado é pouco e qualquer deslize só vai fazer aumentar o bloco do retiro na Polícia Federal. Fraga, certamente, não quer ser um deles e deve ter recebido instruções sobre como apagar pistas.

À saída, tentando descaracterizar a prisão de Arruda como sendo a prisão de um bandido, um assaltante de cofres públicos, disse aos jornalistas que a idéia de intervenção em Brasília é “ridícula” e que “eles estão pensando que isso aqui é a Venezuela”.

Uai! Confesso que, levando em conta o noticiário de todos os dias sobre o presidente Chávez, os fatos que “acontecem” na vizinha nação (na ótica enfurecida de Miriam Leitão, Lúcia Hippólito, etc.), não entendi o que o secretário/bandido quis dizer.

Que na Venezuela bandidos como Arruda, Serra, Yeda Crusius, FHC são presos e aqui isso seria uma arbitrariedade?

Só pode. A julgar pelo tom “patriótico” do secretário/canalha não dá para interpretar suas declarações de outra forma.

“Isso aqui não é a Venezuela”. É o que então na cabeça do assaltante de cofres públicos? A casa da mãe Joana?

Um dos argumentos desse tipo de gente é tentar confundir os fatos e levar a opinião a acreditar que mafiosos como Arruda são vítimas de perseguição política e não passam de cândidos inocentes que quando recebem as gorjetas, digamos assim, de empreiteiros, banqueiros, grandes empresários, latifundiários, agradecem a Deus a possibilidade de terem os seus futuros assegurados, garantidos, o leite das crianças.

Transformam criminosos como Arruda e ele próprio, Alberto Fraga, em “presos políticos”.

A intervenção em Brasília foi pedida pela Procuradoria Geral da República uma instituição autônoma, independente do presidente da República, que designa o Procurador a partir de uma lista tríplice formada pelo conjunto de procuradores, OAB e outros. Não foi o governo Lula que pediu a intervenção.

O pedido foi feito e encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), Poder Judiciário, portanto, nada a ver com Lula e a hipótese, em primeiro momento, foi levantada no próprio tribunal levando em conta a corrupção generalizada na Assembléia Distrital de Brasília, onde Arruda tem maioria (DEM, PSDB, PPS e acessórios).

É uma decisão difícil, última, só tomada em casos extremos (o risco Joaquim Roriz de voltar cria o caso extremo). A propósito, Roriz tinha um irmão, bispo católico, que só não vendeu a catedral da cidade mineira de Juiz de Fora porque a opinião pública reagiu, no mais vendeu o que pode e embolsou tudo.

O fato do governador Paulo Otávio estar envolvido em corrupção e no esquema Arruda é outro indicativo ao qual se soma a corrupção que permeia a Assembléia Distrital. Vai sobrar o que?

Paulo Otávio, em matéria de corrupção, é anterior a Arruda, a Roriz e é um dos “donos” de Brasília.

O que poucos perceberam nessa sujeirada é que quem trouxe à público toda a bandalheira do governo Arruda foi um ex-secretário de Roriz. Fácil de entender. O dito foi contatado pela máfia rival, a de Roriz, os velhos tempos foram lembrados. Ano eleitoral e Roriz quer voltar a ser governador. Um acordo aqui, outro ali, um dinheirinho aqui, outro dinheirão ali e pronto. Como naqueles filmes de gangster que o cara abraça o outro e quando o outro liga o carro...

Buuuuum!

“Não é nada pessoal, são negócios”.

Só que nesse caso os “negócios” dizem respeito à capital do País e envolvem figuras que se preparavam para disputar as eleições deste ano na tentativa de recuperar a presidência da República, através do poderoso chefão José Collor Serra. O tal que queria Arruda como vice.

Um primor de cretinice e canalhice a declaração do secretário de Propinas, quer dizer, Transportes, sobre “isso aqui não é a Venezuela”.

Acho que nesse e noutros casos então devemos ser a Venezuela depressinha, antes que esses caras acabem com o País e inventem modos “patrióticos” de guardar dinheiro na meia, na cueca, em pastas, terminando tudo numa oração de agradecimento.

Os casos de corrupção da governadora do Rio Grande do Sul são tão graves e vergonhosos como os de José Roberto Arruda. Como o disse o ministro Marco Aurélio Mello em sua decisão, “estamos inaugurando uma nova era...”, saindo inclusive da saia justa que Gilmar Mendes criou, tentando atirá-lo num buraco chamado habeas corpus.

Que se prossiga a nova era. Yeda na cadeia. Serra na cadeia. FHC por ter vendido o País na cadeia. Kátia Abreu e mais da metade do Senado na cadeia. Mais da metade da Câmara Federal na cadeia. Boa parte do Judiciário, inclusive Gilmar Mendes na cadeia. E haja cadeia.

Desde o primeiro momento a comentarista Lúcia Hippólito (a que de tão bêbada não conseguiu articular uma palavra quando chamada a comentar sobre os direitos humanos num programa de uma rádio da REDE GLOBO) está tentando implicar o presidente da República nessa história toda. Tentando dar um viés eleitoral à prisão de Arruda.

Só que Lula não prendeu ninguém, quem pediu a prisão foi a OAB e quem prendeu, determinou a prisão, foi o STJ. Quem negou o habeas corpus foi um ministro do STF.

Aí vem o secretário dos Transportes do Arruda, propineiro, corrupto, venal e afirma que “isso aqui não é a Venezuela”.

Se a Venezuela for o oposto do secretário, e é, tomara que isso aqui vire Venezuela o mais depressa possível.

A continuar nessa toada, daqui a pouco vai ter gente acendendo vela para que o “mártir” Arruda seja solto em nome da democracia cristã, ocidental e o presidente da CNBB vai recebê-lo à porta da Polícia Federal. É o tal que não gosta que falem mal de corruptos e retirou das bancas um jornal que apontava irregularidades (corrupção mesmo) no governo de Aécio Pirlimpim Neves. 

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