Berzoini: Há transferência de voto de Serra para Dilma
Eliano Jorge
Ele se refere ao resultado da pesquisa de intenção de voto realizada pelo Instituto Sensus e encomendada pela Confederação Nacional do Transporte, divulgado nesta segunda-feira, 1°. Apesar do empate técnico, a (pré)candidata governista aparece pela primeira vez à frente do antes líder disparado, o governador paulista José Serra, do PSDB.
- Não foi uma transferência de indecisos, uma transferência do Ciro (Gomes, deputado do PSB), tudo indica que foi uma transferência direta de Serra para Dilma, à medida em que as pessoas sabem: "Ah, mas Dilma é a candidata de Lula, Dilma é a candidata que vai dar continuidade às políticas do atual governo" - interpreta Berzoini.
Claramente contente ao ser informado dos números da pesquisa, embora ponderado e sem as alfinetadas recentes à oposição, Berzoini também valoriza o método do levantamento de opiniões eleitorais. "A pesquisa espontânea tem uma importância muito grande nesta etapa porque são as pessoas que já estão decididas em quem votar e só mudariam o voto em hipótese muito remota", afirma.
O parlamentar petista considera que a queda de Ciro Gomes na pesquisa se deve à popularização da ministra. "Acho que o conhecimento maior de que o candidato do Lula é a Dilma faz se posicionarem as pessoas que têm afinidade com o governo Lula", opina.
Ele insiste no aumento da visibilidade: "A pesquisa mostra que o nível de conhecimento sobre a pré-candidatura da Dilma é cada vez maior", diz Berzoini, acrescentando que, "hoje, em torno de 60 a 65% da população já devem saber que ela é candidata".
Veja íntegra da entrevista.
Terra Magazine - O senhor viu o resultado da pesquisa recém-publicada da CNT/Sensus, em que, na modalidade espontânea, o empate técnico traz a ministra Dilma Rousseff à frente do governador José Serra?
Ricardo Berzoini - Não, não vi. A pesquisa de dezembro da Vox Populi já dava isso na espontânea, com 8% para cada um. Agora está em quanto?
Agora, a ministra com 9,5% e o governador com 9,3%. Como o senhor avalia isso? Bom sinal. A pesquisa espontânea tem uma importância muito grande nesta etapa porque são as pessoas que já estão decididas em quem votar e só mudariam o voto em hipótese muito remota. E normalmente são também pessoas muito interessadas em política, que conversam sobre política com amigos, com colegas de trabalho e com a família, e conseguem irradiar esse posicionamento para outros segmentos.
Mas há um indício de que não seria tanto assim (interessadas em política) porque o presidente Lula aparece em primeiro nestas intenções espontâneas. Sim, mas veja bem: o espontâneo do Lula é o espontâneo menos informado. São pessoas que não sabem que ele não será candidato. O espontâneo que fala "Dilma" é quem já sabe que ela é candidata. E, hoje, em torno de 60 a 65% da população já devem saber que ela é candidata.
A ministra Dilma aparece com a menor rejeição, ultrapassando o governador Serra... Essa pergunta de rejeição da Sensus é diferente da pergunta de rejeição que outros institutos fazem. Na da Vox Populi, em dezembro, nenhum candidato teve mais do que 12% de rejeição porque a pergunta é "Em quem você não votaria em hipótese alguma?". Essa pergunta da Sensus é "Em quem você não votaria?", o que muita gente interpreta como o inverso de "Em quem você votaria?". Então, acaba dando uma distorção de todos também.
É, a senadora Marina Silva aparece com a maior rejeição... Exatamente pela pergunta. A pessoa falaria: "Eu não votaria na Marina, mas não é que não votaria em hipótese alguma; não votaria porque não conheço bem..." Normalmente o candidato menos conhecido é prejudicado por esta pergunta. A Dilma já chegou, numa dessas edições, a liderar a rejeição, acho que foi da Sensus anterior. De qualquer maneira, a pesquisa mostra que o nível de conhecimento sobre a pré-candidatura da Dilma é cada vez maior.
A que o senhor atribui as quedas percentuais referentes ao deputado Ciro Gomes e ao governador José Serra? Acho que o conhecimento maior de que o candidato do Lula é a Dilma faz se posicionarem as pessoas que têm afinidade com o governo Lula. No caso do Serra, acho que tem ali um voto que aparece na pesquisa pró-Serra que é um voto de recall. À medida em que as opções vão transparecendo para a população - o que é votar em Serra e o que é votar em Dilma -, é óbvio que as pessoas podem mudar o voto. Eu não tenho a intenção de voto desta pesquisa, mas vi a da Vox Populi e Band, parece que houve uma transferência direta do Serra para a Dilma. Não foi uma transferência de indecisos, uma transferência do Ciro, tudo indica que foi uma transferência direta de Serra para Dilma, à medida em que as pessoas sabem: "Ah, mas Dilma é a candidata de Lula, Dilma é a candidata que vai dar continuidade às políticas do atual governo". Aí as pessoas começam a se posicionar, na minha opinião.
Já havia um acirramento entre PT e PSDB nas últimas semanas. Como o senhor pensa que será a partir de agora, depois desta pesquisa? É uma típica eleição polarizada. E eleição polarizada tende a se acirrar ou no aspecto programático ou, às vezes, até no calor das declarações. A nossa visão é que, para nós, é melhor trabalhar no acirramento programático, ou seja, discutir com bastante intensidade o que é o Projeto Lula, a Dilma, e o que é o Projeto Serra, com suas relações com Fernando Henrique, com PDSB, com DEM.
O PSDB continua declarando, como vem fazendo desde o final do ano passado, apesar do crescimento da ministra Dilma nas pesquisas, que a subida dela é normal e não os preocupa. Como o senhor vê isso? Acho que é uma declaração, digamos, formal. Porque evidentemente eles teriam uma avaliação de que o Serra seria favorito à eleição e estão vendo que, com o avanço do ano eleitoral, a população vai analisando com mais profundidade. Respeito a avaliação deles, mas entendo que é uma declaração formal.
Os tucanos acreditam que a ministra Dilma está sendo mais exposta e antecipando sua campanha - tanto que já entraram com processos contra isso -, enquanto o governador ainda não faz campanha e, quando fizer, o quadro mudará, ele crescerá em detrimento dela. Qual é sua opinião sobre esta hipótese? Sou daqueles que acham que nenhum dos dois faz campanha hoje. Eles estão fazendo atividade administrativa normal, que inclui atos de inauguração, atos de apresentação e avaliação de programas, visitas às obras. Isso é normal em qualquer eleição, em qualquer ano eleitoral, que quem está ocupando cargo público trabalhe com aquela atividade como se fosse um outro ano, não precisa nem acelerar nem desacelerar. Como a Dilma já vinha, no ano passado, muita ativa - estou acompanhando a ministra desde 2007, em várias atividades - então nós temos a convicção de que ela está realizando a sua atividade normal. E acho que o governador de São Paulo também.
Fonte: Terra Magazine
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