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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Mais fortes são os poderes do povo


O título é o grito de Glauber Rocha, há quase quarenta anos, quase, através de um de seus personagens.
De alguma forma, isso se traduzia na expressão com que Leonel Brizola definia ser o “processo social” a força mais importante da política.
O dia de hoje é dedicado a pensar nisso e a nos prepararmos para entender o embate que, de agora até outubro, vai dividir este país como não ocorreu, talvez, desde as eleições de 89, e ainda assim com menos clareza.
A sagração de Dilma Roussef como candidata a Presidente de República transcende o PT, transcende Lula, transcende a ela própria,  ainda mais.
Alguém dirá que não, que ela foi uma escolha pessoal de Lula para o lugar de candidata de seu partido. De acordo, foi ele quem, pessoalmente, a fez ser candidata de seu partido e fez, sobretudo, seu partido aceitá-la, sem ser parte de sua “máquina”.
A candidatura Dilma  seria, há quatro ou cinco anos atrás, impensável. Impensável mesmo para o próprio Lula.
A candidatura Dilma, ainda sem ela própria como personagem, começou a nascer quando lula compreendeu que  tinha uma escolha a fazer: ou avançava, retomando o fio da história que escrevera por décadas o povo brasileiro ou desaparecia, tragado pelo jogo sujo da política e da manipulação da opinião pública, engolido pelo “mar de lama”  – que alguns fatos reais e outros irreais, mas que já pareciam verossímeis – envolviam seu governo.
Os bons modos, o “paz e amor”, a política econômica “comportada”  que a dupla Palocci-Meirelles passou a simbolizar, a base política que tinha conseguido montar no Congresso,  nada disso bastava mais.
A direita estava pronta para recuperar o poder monopolista que exercia sobre o Brasil. E, com ele,  o processo de entrega nesta nação que , com Lula, tinha perdido parte do ímpeto furioso em que vinha desde o Governo Collor,  e que se tornara avassalador sob o império de Fernando Henrique.
O processo social, no segundo turno das eleições de 2006,  mudou o curso das coisas, quando a lucidez institiva do povo brasileiro murmurou a Lula: é o Estado, Lula, é o Estado. Defenda o Estado, é a única coisa que nós, povo brasileiro, temos por nós!
A imagem da entrega do estado brasileiro derrotou Geraldo Alckmin.

Este momento fez cair muitos preconceitos, que a pretensão de uma elite – que absorveu e tomou a seu serviço  boa parte da inteligentsia paulista, de onde veio FHC e, também, boa parte do grupo que marcou o ambiente político do PT, nos anos 80 – construíra na sociedade e, porque não, até mesmo na ideologia petista e na esquerda.
O Lula do segundo mandato, qualquer um percebe hoje, mudou. Muito mais do que de ministros, de políticas imediatas e de programas de governos, de visão de história e do destino do Brasil.
É desta mudança que nasceu a candidatura Dilma. Sobre seus méritos pessoais como gestora, sobre o entendimento político que mantém com Lula, não posso falar com precisão. Mas tenho certeza que, na cabeça do presidente, pesou o entendimento de que as idéias que se corporificaram, durante as seis primeiras décadas no século 20, na formação do trabalhismo brasileiro eram a legítima emanação das lutas sociais do nosso povo.
Dilma, no final dos anos 70, teve esta compreensão e foi tentar reergue-lo no final dos anos 70. Não importam, a esta distância histórica, as questões da política que a fizeram deixar o PDT pelo PT, é uma migalha ante ao que vivemos e só os mesquinhos agarram-se a migalhas.
Por isso, não é sem razão que “o pecado” da defesa do estado – esta arma poderosa de defesa do país e do povo – se procura marcar, como um estigma, no rosto de Dilma.
O Estado, já disse, é a única coisa que nos defende num mundo voraz do capital e do domínio das corporações mundiais.
O Estado é a única instuição capaz de promover a democracia, a igualdade de oportunidades entre todos os homens e mulheres deste país, ricos ou pobres, brancos ou negros.
Por isso, é certeira a advertência de Lula, em seu discurso de hoje: “As pessoas que privatizaram este país estão incomodadas porque queremos fortalecer certos setores da economia brasileira. Vão dizer que a Dilma vai ser estatizante. Se preparem. Mas isso não é ruim não. É bom.”
Sim, é bom. É bom que o povo brasileiro saiba expressamente o ponto central deste embate.
Por isso, não me importa rotular como trabalhismo, como varguismo, muito menos como brizolismo, este movimento em defesa de um estado provedor de democracia – política, econômica, social – do qual a soberania é a condição primeira de existência.
Não, ele pertence ao nosso povo, ele é o fio da história nacional brasileira, da história que o povo fez e faz. Ainda que, como também é frase de Gláuber, seja o poder que a escreva.

FONTE: Blog Brizola Neto

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